terça-feira, 12 de junho de 2012

Brick by brick

Antes de qualquer coisa, aviso que o blog não está voltando às atividades normais. Continuo trabalhando igual um jegue, sem ter como manter regularidade aqui. Apenas estou atendendo a um pedido da minha namorada Renata, que solicitou uma crônica como presente de dia dos namorados. Como não há nada que meu amor me peça chorando que eu não faça sorrindo, cá estamos. O que é melhor, não vou precisar tirar um centavo do bolso. Abaixo temos o roteiro de uma comédia-romântica-água-com-açúcar-Tom-Hanks-e-Meg-Ryan:
O tempo de relacionamento que eu e a Rê temos é uma questão meio polêmica. Como nunca houve um pedido de namoro, cada pesquisador diz uma coisa. Oficialmente, devemos ter cinco, seis meses. Mas que a gente se pega tem uns três anos. Ela foi minha aluna no pior lugar em que dei aula. Acho que o único propósito de eu ter trabalhado ali foi tê-la conhecido. Ô lugarzinho mercenário do caralho, cheio de playboyizinho leite com pera, chefe filho da puta, desumano, secretária anticristo...
Perdão, inflamei-me aqui. A veia da testa tá até pulsando. Do que é que você falava? Oh sim, eu dava uma aula, trânsito isso, piadinha, use cinto de segurança aquilo, um casinho para ilustrar, se beber cuidado com as blitzes, conversa com a turma. Descobrimos que tínhamos amigos em comum e que havíamos morado no mesmo prédio. Sem nunca termos nos visto. Sendo assim, somente uma coisa podia acontecer: A gente acabou se pegando.
Antes disso, marcamos de sair com um amigo, que oportunamente passou mal e não pôde ir. Fomos para uma sinuca aqui perto. A sala de aula parecia ter se transferido para aquele lugar, já que ali o titio também estava dando uma lição. Levei-a para casa, não sem antes uma aula prática a respeito da ergonomia dos assentos automotivos modernos, se é que você me entende. Caipirinhas ajudaram o desenrolar das coisas.
Situações semelhantes repetiram-se milhares de vezes e não vou te aporrinhar com cada uma delas. Eu queria muito namorar alguém, mas a Rê nunca admitia ser caidinha por mim. Por que? Isso você vai ter que perguntar pra ela. Eu mostrava o porquê de eu ter certeza que ela gostava de mim, com argumentos, fatos, gráficos e Data Show. Algumas vezes eu a influenciava com uma sessão de cutucões entre o rim e a costela:
- Tá bom, tá bom, eu admito que era apaixonada por você sim, mas já esqueci.
- De ontem pra hoje?
- É.
- Isso não existe.
Qualquer coisa ao lado da Renatinha, desde ir ao mecânico até fazer compras no supermercado, era divertido. Viramos amiguinhos, fazíamos viagens gastronômicas pela cidade, sempre na amizade, conversávamos civilizadamente, mas sempre acabávamos aqui em casa. Daí você já viu, ne? Tentava não sucumbir à tentação, mas aquele cheiro doce, aquele olhar doce e aquelas pernas parecendo troncos de árvore faziam com que partes do meu corpo tivessem vontade própria.
Além de ser uma amiga, ela era completamente o oposto da mulher que eu procurava. Porra, a menina curte um pagode, Zé. E é na tentativa de desintoxicar aquele ouvidinho que até hoje eu sempre mando para ela uma música com uma letra emo de autoajuda legal. Nas minhas contas foram mais de 60, a maioria rock mela cueca, mas minha intenção é um dia chegar ao metal furioso. Fiz para ela uma coletânea com 40 canções de ska. Compusemos uma música juntos. Um dia, quem sabe.
- A pior coisa que tem é quando a gente sabe que alguém gosta da gente e não assume, não é verdade?
- Nó, nem fala. Paia demais.
Não dava para acreditar. Eu dava todas as ferramentas para que ela se libertasse das mentiras e ela se afundava ainda mais, filosofando quilometricamente sobre o quanto é absurdo gostar de alguém e não assumir. Outra razão de eu reprimir meus instintos é porque ela cometia um dos maiores pecados que todos nós fazemos quando gostamos de alguém: Cobrava, julgava, taxava de piriguete, como se já fosse alguma coisa minha. Boa parte disso baseada nas coisas que eu publicava aqui no blog. As piores críticas que ouvi e as maiores brigas que tive foram com a Renata. Pode ter certeza que a recíproca é equivalente. Já fiz essa menina chorar demais.
Uma vez a gente combinou de fazer aula de direção no meu carro 11 da noite. Brilhante ideia. Enquanto a inexperiente motorista subia um morrão, eu fazia no painel do carro a batida de “We will rock you”:
- Rê, pó falar, você me ama né não?
A menina ficou tão desconcertada que perdeu o controle do carro e começamos a voltar morro abaixo. Quase morremos, mas foi engraçado pra caralho. Como a Rê não assumia nada, fui procurar qualquer pessoa com quem houvesse pelo menos uma remota possibilidade de romance. Fiquei com uma e outra menina, namorei, mas nada progredia. E nunca me divertia ao lado de ninguém como me divertia com a Renatinha. Sempre que eu estava tendo alguma coisa com alguém, a Renata sumia. Eu ficava com saudades das nossas conversas existenciais e filosofias de buteco. Era só meu lance acabar que ela reaparecia e tudo voltava a ser igual antes. Uma presença orbitante em minha vida, como um satélite natural. O que nos leva ao fim de semana divisor de águas:
Estávamos muito tempo sem nos falar. Provavelmente por causa de uma discussãozinha dessas. Sexta era aniversário da minha prima e a Renata estava lá. Não nos falamos, mas eu comecei a fazer hora com a cara de outra prima, falando o quanto gosto de pagode, axé e tudo que não presta. Só pra Rê ouvir e segurar o riso da conversa para boi dormir. Dia seguinte foi aniversário do primo dela. Mundo pequeno; eu estava lá. Estávamos longe um do outro, mas a mãe dela delicadamente interveio, com um bicudo:
- Vai lá e conversa com ele.
Papo vai, cervejinha daqui, papo vem, amendoinzinho japonês dali. Se você perguntar, ela vai falar que quem beijou fui eu. Mas foi ela. E me embebedou com um troço chamado Big Apple, que me fez desmaiar. Eu tava dando trabalho:
- Renata, vem conversar com a gente aqui fora. Você vai ficar aí tomando conta desse cara inconsciente? É desse aí que você gosta?
Ainda fez uma prima dela nos deixar aqui em casa:
- Renata, não sobe para o apartamento dele. Deixa ele aí e vamo embora.
Ela bem achou que ia ficar aqui cuidando de um moribundo. Porém, aqui chegando, o amendoim japonês começou a fazer efeito, se é que você me entende. Bem, você entende, né?
- Me surpreendi. Achei que você ia querer chegar aqui e dormir.
- Vvocxêz zsabbe qque nnão gosxtto qque mme desxzafffie.
Outra.
- Acho que agora sim você deita e dorme.
Outra.
- Se você falar que aguenta mais uma eu vou cobrar.
- Ennttão zchegga mmaisxz, gattzinnha. Miau!
Minha cama tá quebrada até hoje como consequência desse dia. Sério, eu tô dormindo num buraco. Na manhã seguinte, acordamos e tivemos uma inevitável conversa sobre um assunto latente em nossas vidas: Batatas recheadas. O que me obrigou a obrigar ela a ir comigo até o shopping para comer uma. A pé. E de salto. Ela, não eu. Já que eu tinha me recusado a trazê-la de cavalinho, ela comprou um chinelinho para fazermos o caminho da volta. Como meu cu ainda não tinha feito bico, a noite encaramos uma pizza caríssima aqui no bairro. 50 pau a redonda, fi. Nesta sentada confabulamos e concluímos que, se somássemos todos os períodos de pegação e compactássemos num só, daria um ano e quatro meses. Porra, é mais do que a maioria dos meus namoros.
Semanas se passaram e a Renata me vem com a neurose que a menstruação não vinha.  Isso aí, eu não aprendo mesmo. Tentei acalmá-la dizendo que por causa das três cartelas de pílulas do dia seguinte (verdade), o negócio tinha ficado desregulado. Para tirar o assunto da cabeça, ela fez um teste de laboratório. Me ligou querendo me encontrar no intervalo do meu serviço para mostrar o resultado. Tava chovendo pra caralho. Debaixo de um guarda chuva desbeiçado, me estende o papel amassado. Cena de filme, mesmo:
- Olha aí. O que é que eu falei? Você disse que era neura minha. Fiz tudo pra isso não acontecer. Tomei três cartelas daquele troço, pra garantir. Tô fudida.
Fiz o que qualquer um teria feito no meu lugar.  Enquanto ela se debulhava em lágrimas, eu ria que nem um condenado do desespero dela. Cá entre nós, a gente realmente pediu para que acontecesse. Porra, quatro vezes! No dia seguinte, marcamos de encontrar de novo na rua. Eu puxava a faixa do sobretudo dela para perto de mim, pegava na mãozinha dela:
- Calma Rê, é eu e é você. Vai ficar legal. Vamos ser uma família diferente. A gente dá conta.
- Diogo, não encosta em mim.
- Relaxa.
- Você não tá acreditando né? Olha aqui o papel.
- Você já me mostrou isso ontem. Você tá doidinha né? Hahaha.
De todas as pessoas que apareceram na minha vida, eu estava feliz que isso tivesse acontecido justo com a Renata. Não podia pensar em pessoa mais adequada para ser mãe do meu filho/filha. O próximo problema seria revelar para nossas famílias a sem-vergonhice que tava rolando. Até então éramos apenas irmãozinhos, aos olhos do grande público. A Renata tava com medo de ser expulsa de casa. Como aqui tem homem e não moleque:
- Pode avisar lá que eu converso com seus pais. E fala que a gente já tava namorando.
Falei isso dando soco no peito. Então a Renatinha foi armando o cenário para minha ilíada:
- Mãe, tenho um negócio pra te contar quando eu chegar do serviço.
- O que foi minha filha, você tá grávida?
- Adivinhou. Tõ indo trabalhar. Beijo.
Nesse meio tempo, enquanto a gestante trabalhava, a mãe tinha contado para o pai, que foi buscá-la no serviço. Não houve pergunta; a Rê apenas entrou no carro e deu um sorriso amarelo. Aquelas canjicas arreganhadas eram a confirmação necessária. Eu fazia de tudo para adiar minha parte. Vocês entendem a falta de pressa para morrer não é mesmo? No dia fatídico, cheguei aos portais do castelo e deixei o motor do carro girando. Caso fosse recebido com uma espingarda de cano duplo, era só jogar uma bomba de fumaça ninja no chão e partir em retirada, heroicamente. Mas foi tranquilo, até. A mãe conversava comigo com um laptop no colo, curtindo fotos no Facebook. O pai me recebeu de ceroula:
- Olha Diogo, você me desculpa a liberdade. Mas a partir de agora eu te tenho como se fosse meu filho.
Do jeito que ele começou a frase, achei que lá vinha bomba. Nada de “comeu minha filha, agora tem que casar”. Pelo menos, não em tantos termos. Tenho esse dia como o primeiro de namoro oficial entre eu e a Rê, porque teve esse lance de conversar com os pais e tal. A verdade é que a gente tava praticamente pulando de amizade para casamento, então é meio confuso. Pensando bem, casar com a Renata não seria má idéia, não. Ela tem uma televisão de diversas polegadas.  E ter ela morando comigo seria legal, também. Tô brincando, amor. Dias depois, na cozinha da casa dos meus pais:
- Mãe, aaa...sabe a Renata? Pois é, tá grávida.
- Sério? Quem é o pai? Você?
- Assim...
- Êêêêê, vou ser avó!
Pouco depois meu pai chega para buscar uma cerveja na geladeira. Minha mãe aponta pra mim e eu só olhava pro meu pai de rabo de olho, com vergonha:
- Bem, a Renata tá grávida. Adivinha quem é o pai.
Meu pai vira para a Renata e tem uma das reações mais marcantes de toda minha vida:
- Ó como é que você engravida assim?
E abriu a cerveja. Meu pai é foda. Aos poucos as pessoas foram descobrindo a verdade que todo mundo já sabia, menos a gente. Meu amor pela Renata sempre cresceu em progressão geométrica, desde quando a gente era amigo/peguete. Eu sempre soube que um dia a gente ia acabar juntos. Era só questão de tempo. Ela esperava pacientemente enquanto eu quebrava a cara por aí, sem nunca desistir de mim. Se eu for lhe falar quando foi que percebi que era amor de verdade, eu diria que foi no dia que a gente marcou de encontrar minha prima (aquela do aniversário) para ser madrinha do nosso filho. No caminho de volta, enquanto eu dirigia, sorri para a Renata, peguei a mão dela e beijei. Foi ali que eu vi que era aquele seria o resto da minha vida.
Ainda hoje tem gente que vem me perguntar sobre o filho. A verdade é que perdemos quando tinha em torno de dois meses. Paia demais. Você se impressionaria do quanto isso é comum. O que eu acho é que essa criança veio apenas cumprir o papel dela, que foi nos unir. Não fosse ela, provavelmente eu e a Renata estaríamos de putaria até hoje. Agora a gente está tendo a chance de pensar e construir algo mais sólido, sem fazer nada no susto. E agora a gente está junto porque quer, não porque a situação nos obrigou. E os peitos dela ficaram maiores e mais redondinhos.
Essa mulher pegou uma cueca minha e fez alguma coisa. Certeza. Desde os tempos da amizade até hoje me hipnotiza de um jeito inexplicável. Ás vezes eu penso que só vivo de verdade quando estou do lado dela. O resto do tempo não passa de espera. O amor está além de questões superficiais como estilo, cor do cabelo, gosto musical, etc. Sei que agora posso descansar e parar minha procura. Estava na minha frente o tempo todo aquilo que busquei por muito tempo. Se você juntar todas as pessoas que passaram pela minha vida, não dá uma Renata. Nunca encontrei pessoa tão dedicada.
Justamente o que eu precisava: Uma pessoa carinhosa que se orgulha de mim, me apoia. Quem mais acharia engraçado toda vez que solto um pum? E olha que é o dia inteiro, hein? Uma verdadeira primeira dama, que permite que eu governe enquanto ela se encarrega dos projetos sociais. O fato de a família dela ter me adotado, fazendo marmita para mim todo domingo é apenas um pormenor. Um dia darei a ela um casamento tipo November rain. Só imponho algumas regras: Salgados de verdade. Nada de brochete de camarão ou folhado de damasco. Sem anteninhas, pisca-piscas e outras baranguices. E o mais imprescindível: Tem que tocar Ramones quando ela entrar. Te amo, meu bem.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Não desistam de mim

...pois certamente eu não desisti deste blogue. Acontece que tenho trabalhado igual um tarado nas últimas semanas. Tem texto escrito pela metade e que darei continuidade assim que tudo voltar ao normal. E mais uma e outra idéia para este 2011. Por hora, bem que você podia encomendar meu livro, me ajudando a ficar rico para eu não ter que trabalhar tanto né?


sexta-feira, 4 de março de 2011

Strawberry fields forever

Como o perspicaz leitor percebeu, não foi feita ainda nenhuma postagem este ano. Claro, 2011 nem começou. Mentira. O carnaval nem chegou e, se eu contasse o tanto de merda que já fiz esse ano, não caberia na página. Uma pergunta que sempre faço e ninguém sabe: Como é calculado em que dia cai o carnaval? Sempre me respondem:

- Eu sei que a semana santa é 40 dias depois.
Todo mundo sabe disso, campeão. Este ano comemoramos a 10ª Folia de Momo em Ouro Preto na Republikaká. Quando se fala em carnaval de Ouro Preto, a maioria pensa em micareta nas ruas históricas, com o mijo passando entre as pedras centenárias. Nossa parada é diferente. O fato de a casa ficar naquela cidade é apenas uma eventualidade. Na minha idade, o que eu quero é usar banheiro que funciona, comer coisa que não seja miojo, dormir todas as oito horas que tenho direito, jogar um jogo de conhecimentos gerais, assistir mil DVDs de seriado e, pelo amor de Deus, ouvir música boa. Mais Big Bang Theory impossível. Episódio que já se tornou clássico foi quando o amigo de um amigo com o nome de Álvaro desligou a TV no meio do McGuyver:
- Colé moçada, vocês tão em Ouro Preto. Eu não acredito que vocês vão ficar em casa vendo televisão.
Como se a muvuca na rua fosse algo muito foda. Se tivesse feito isso uma vez, vá lá. Mas o viado desligou a TV na nossa cara três vezes seguidas. Nunca mais foi convidado. E eu fiquei sem saber como o McGuyver se libertou usando um chiclete e um arame. Bêbado é mesmo sem noção. Tudo bem, eu também atrapalhei três vezes uma repórter que tentava fazer uma matéria com o bloco carnavalesco passando. Parei quando vi um guardinha vindo na minha direção. Para a maioria das pessoas é inconcebível você não gostar de micareta. Só de escrever esse nome eu arrepio. Eu sou do rock, beibe.
- Ah, você precisa ir pra Salvador. Depois não vai querer outra coisa.
O que adianta beijar mil mulheres na rua se você não come nenhuma? Parece que tornou tradição nas terças da Republikaká acontecer algo, em alguma intensidade, tenso. Veremos o que a de 2011 nos guarda. Algo que descobri graças aos excessos do carnaval é que sou alérgico a grandes quantidades de cerveja. Toda vez que fico três, quatro dias bebendo fico com meu corpinho todo empolado. Se eu tomar outra bebida alcoólica, não acontece nada. Este ano vai acontecer de novo, quer apostar quanto?
A primeira vez que isso aconteceu tornou-se um caso dos casos emblemáticos envolvendo eu. Como não se sabia o que tinha causado aquilo, me impediram de beber e comer qualquer coisa. Tomaram-me o prato de hambúrguer bem no meio. Sim, eu como hambúrguer com cerveja. Naquela época eu comia carne. É bem verdade que naquele dia eu, por algum motivo, havia esfregado uma pincher chamada Malu na minha cara. Uma comitiva me levou para o posto médico. Foi ao ser perguntado pela mocinha da recepção qual a natureza do atendimento que eu disse a clássica:
- Moça, você não vê que eu tô igual um morangão?
Como um bom bêbado, falava pelos cotovelos e alto. Um enfermeiro inclusive saiu da salinha para pedir silêncio. Eu parava por dois segundos, mas logo voltava:
- Por que é que ele entra na minha frente? Só porque ele trabalha aqui?
Quando finalmente entro na salinha, ouço o cara comentando com uma colega:
- Esse povo vem de outras cidades, chega aqui e acha que pode fazer zona.
Intrometo-me na conversa:
- É mesmo. Tem um pessoal bem barulhento aí fora.
O cara me manda abaixar a calça para aplicar a injeção. Eu pensando: “Uai, mas a outra moça vai ficar olhando? Ah sei lá, esses médicos devem ver gente pelada o tempo todo”. Abaixei toda a calça e arrebitei as luas cheias mesmo. Anos depois eu descobri que era apenas para baixar um tiquinho.
- Acadêmicos da Republikakááá...quesitooo...putariaaa...notaaa...deeez!...e meiooo!
Não arrisco passar a festividade em outra cidade. A única vez que me aventurei em outro lugar, deu merda. Pelo menos foi a única vez em que pude realizar o sonho de me vestir de mulher. Melhor o cara que solta a franga por quatro dias e é macho os outros 360 do que aquele que se reprime o ano inteiro. Fiquei meio country, uma gracinha até. E se você visse o assédio feminino que recebi vestido de mulher, você faria o mesmo. Tive até que pedir para pararem. Ninguém mexe comigo quando eu saio disfarçado de homem. Só mais uma peculiaridade desse carnaval: O véio que alugou a casa pra gente ficava o tempo todo evangelizando:
- Ó, Deus não gosta dessa festa de vocês não. Enquanto vocês estão perdendo sua alma, o Senhor está chorando...
É, mas cobrar um absurdo no aluguel de uma casa para a gente perder nossa alma, Deus não acha ruim não.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A última postagem do ano

Olá, didizeiros. Estamos perto do fim de mais um ciclo. Dá depressão toda vez que vejo nas lojas esses pisca-piscas do Paraguai. Sinal de que o ano tá acabando e a gente não fez porra nenhuma do que queria. Cada vez mais cedo os desesperados comerciantes põem na rua as luzinhas barangas. Daqui a pouco colocam imediatamente depois da páscoa. Tem coisa mais biscate do que aquele disco de canções natalinas tocadas na harpa? Ou “Então é natal”, com Simone, Ivan Lins e grande elenco? Ou usar branco no ano novo? O show do rei na Globo promete ser especial. Disseram que desta vez ele vai cantar “Emoções” e fazer alguns duetos.
Nem sei como estou escrevendo isso, tão tenso tem estado estes últimos dias. Coração tá quase saindo pela boca. Mas isso é assunto para o que provavelmente será a primeira postagem de 2011. Este blogue não foi muito produtivo em 2010, mas, ironicamente, este foi o ano em que o The Didi’s Abatedourus foi mais (mal) falado na grande imprensa internacional. Uma breve retrospectiva:
Na última virada de ano eu tava achando que ia ser pai. Minha vida teria mudado radicalmente. Isso depois que eu tivesse fugido para outro país. As aventuras da quase paternidade foram contadas naquela que, segundo leitores mais fiéis, foi a melhor crônica escrita por mim. Mas a que custo? Foi o texto em que eu mais havia exposto meus sentimentos e outras intimidades. Até então.
Pensei: O show do Guns será o último luxo ao qual me permitirei. A partir daí, levarei uma vida miserável para poder sustentar o moleque. Afinal, aquela seria uma história para poder contar para ele:
- Seu pai quando tinha a sua idade viu o Guns n’ Roses de perto.
- É mesmo, pai? Você viu o Slash?
- Aaammmmmmm, não era esse Guns.
O show da banda de 20 membros foi no Mineirinho. Em outras palavras: Não ouvi bosta nenhuma. Ainda mais com as pirotecnias que ecoavam no teto do estádio e demovam minutos para dissiparem totalmente. Axl deve ter exigido que se fizesse o show naquele lugar para que ninguém ouvisse quão desafinado ele está. Mas o filminho que passaram no telão era chique pra caramba.
Tivemos Copa do Mundo, evento que deixou como legado as vuvuzelas. Nem me lembre delas. Tudo isso em meio ao caso Bruno. Eliza Samudio em seu filme pornô:
- Me come, cachorro!
Hahahaha. O que mais chamou minha atenção nesse caso foi quando a namorada do Bruno mijou nas calças de medo. Eu não sabia que as pessoas realmente faziam isso. Achava que era apenas força de expressão.
2010 viu a proliferação dos videologs. Criou celebridades internéticas como Felipe Neto e PC Siqueira. Nos primeiros que vi, pensei: “Hum, taí uma forma mais simples e rápida pra eu poder falar minhas paradas”. Se eu tivesse dinheiro para uma câmera digital, teria me arriscado.


Pouco depois tivemos eleições. Não escrevi sobre o assunto porque acho que já tinha falado basicamente tudo dois anos atrás. Desta vez os humoristas foram proibidos de parodiar o horário eleitoral. Não é uma puta falta de sacanagem isso acontecer justo no ano em que o deputado mais votado do Brasil seja o Tiririca? Se eu pudesse, teria votado na Mulher Melão. Ela pode até não saber nada de política, mas já viu o tamanho da bunda dela?
Dilma Rousseff me forçou a fazer algo contra meus princípios: Votar em tucano. Foi eleita apesar de quase não ter mostrado a cara na televisão. Talvez porque não queria ninguém reparando que ela parece o Cauby Peixoto. Nada que tio Lula não resolva. Vou sentir saudade do filho da puta. O cara é biscate. Tomara que eu esteja errado sobre o futuro do Brasil. Geralmente dá merda quando se coloca mulher pra fazer trabalho de homem. Por causa desse tipo de comentário este foi outro ano que passei solteiro.
Numa mesma semana dois fatos inusitados ocorreram: Arranjaram-me um emprego foda num lugar aí. E uma mocinha do passado ressurgiu do nada. Finalmente minha vida tava entrando nos eixos. Às vezes coisas boas acontecem com pessoas boas. Às vezes acontecem comigo. Na semana seguinte:
- Aqui Diogo, o lance da vaga lá não vai rolar mais.
- Olha Diogo, eu tô confusa sobre o que quero da minha vida agora.
Tinha começado a escrever um texto para postar no dia dos namorados. Passou uma semana da data e não tinha nem metade dele pronto. Acabei postando numa época totalmente nada a ver. Acho que foi meu preferido até agora. Pelo menos serviu para mostrar que o blogue voltaria à programação oldschool longe das polêmicas.
Como assim que polêmicas? Por onde você tem andado? Depois de meses continuo recebendo a média de um email malcriado por dia. E acho que isso vai ser eternamente, já que sou o primeiro resultado para “piores bandas de rock” no Google. Agora, como o cara me procura “piores bandas de rock” no Google e não quer passar raiva?
Permita-me mostrar alguns números: Descobri que tinha gente falando de mim num fórum da Uol. 146 comentários. Aqui no blogue 264 comentários. Orkut, 1.152. Uau! Isso sem contar as comunidades de conteúdo reservado. De tempos em tempos dou uma conferida pra ver se ainda tão falando de mim. Vi duas menções ao The Didi’s Abatedourus no Twitter. Pena que não sei usar a parada. Se soubesse usar o Facebook, veria se tem alguém falando de mim lá também. Nem sei como me descobriram.
Teve gente brigando por minha causa. Muahahaha. Recortaram e colaram textos meus, sem dar o devido crédito. Se eu ganhasse dinheiro com isso, teria ficado puto. Nesse meio tempo um fã de rock tentou me hackear e me ameaçou de morte (!). Por algum motivo, muitos disseram que acho My Chemical Romance a melhor banda do mundo. Não sei de onde isso foi tirado. Provavelmente porque ilustrei uma postagem com capas de disco, a deles inclusa.
Nesse mar de hostilidade achei alguns fãs. Alguns me adicionaram no Orkut e no MSN. Lisonjeia-me que pensem que sou alguém gente boa e que queiram ser meus amigos. Se alguma mulher que me adicionou morasse aqui em Belo Horizonte, teria me aproveitado da relação ídolo/fã. Enfim, talvez dessa vez que eu fique rico. Ou quem sabe o Jô Soares me entreviste? A imagem vai ficando embaçada...


- Ele está fazendo sucesso tremendo na internet com o blogue The Didi’s Abatedourus. Conhecido como Tio Didi, eu vou conversar com ele: Diogo Torres. Diogo, vem pra cá.
- Olha Jô, eu sempre quis ser famoso a todo custo. E hoje em dia, para ser famoso, você tem que ter uma idéia original assim como o Felipe Neto e o PC Siqueira. Foi aí que eu tive um clique: Vou fazer uma lista musical. Ninguém jamais fez isso. A gente que é artista tem que ser ousado, Jô.
- Nem sempre...
- Jô, você não é artista. Não entende dessas coisas. Sabia que eu também toco bateria?
- Pode dar uma canja pra gente com o Derico e o Bira?
- Ah não Jô, acho que não devo. Tudo bem, eu toco.
- Eu estive aqui com essa simpatia...
- Aaaaahhhhhhh.
- Também gostei muito. Daqui a pouco a gente volta.
- Agora dá pra largar meu braço, ô gordo filho da puta?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A gente não tá namorando não né?

Aqui está a primeira parte da saga. Continuando...


Outro dos maiores dilemas da humanidade é saber se está ou não está namorando. E a filha da puta da Ana Paula achava que não era da conta de ninguém especificar seu estado civil no status do Orkut. Afortunadamente, pouco tempo depois veio o dia dos namorados. Viria para definir que tipo de putaria era aquela. Não vou comprar porra de presente nenhum enquanto ela não der dica que vai fazer o mesmo. André era, sim, romântico. Mas mesadas não nascem em árvores, sabe? Além do mais, quem estava cheio de coisa para estudar agora era ele. Era fim de semestre na faculdade. Não vou perder tempo indo no shopping para acabar me humilhando mais e, ainda por cima, perder média na prova final.
A essa altura as famílias dos dois vizinhos já haviam se tornado amigas. Porém, não era aberto que os jovens estavam se pegando. No dia 11 de junho, um dia antes do dia dos namorados, Dona Andrezona, mãe de André, chega no quarto do filho, fingindo desinteresse:
- Aquela menina que mora aqui em cima...
- Ana Paula.
- Essa. Me ligou no serviço, fazendo umas perguntas sobre onde é que eu tinha comprado aquela sua camisa de sair...
Pronto! Era tudo que eu precisava ouvir. Afinal de contas, se não era para comprar um presente para mim, ela podia ter falado diretamente comigo. Eu tô aqui em casa o dia inteiro. André largou imediatamente os estudos, pediu emprestado o carro da mãe e foi ao shopping. Tava meio de coração apertado por saber que iria mal na prova e, mais ainda, por gastar aquela grana fudida. Mas valeria a pena porque agora podia dizer que tinha uma namorada de verdade. Mas o que comprar para aquela vaca? Àquela hora somente o hipermercado do shopping estava aberto. Lá tinha uma gôndola de CDs, dentre os quais, o novo do Slipknot. Lembro-me bem de, uma vez que estávamos na casa dela vendo clipes, ela falou:
- Até que é legalzinho.
André não teve dúvida. Ia ser um daqueles presentes românticos, com significado. Representaria aquela vez que viram o clipe da banda juntos. Comprou também uma daquelas caixas de presente e colocou o CD dentro. Já em casa, lembrou-se de que faltava o cartão. Teve uma idéia: Vou escrever numa folha de papel branco e colar na tampa da caixa: Nossa, Aninha Paulinha, em tão pouco tempo já passamos tanta coisa juntos...e enumerou resumidamente os fatos narrados até aqui...e até agora estou adorando te conhecer cada dia mais. Beijos, André. Hum – pensou ele – tá pessoal demais. Apesar de tudo, ele ainda não tava se sentindo totalmente seguro. Fazer o seguinte: Vou entregar numa sacola de supermercado mesmo, pra ficar um pouquinho menos romântico. No dia 12, se encontraram no hall do prédio. André aproveitou e fez uma brincadeirinha, tentando confirmar o status daquela relação:
- Feliz dia dos namorados.
Ana Paula respondeu com um “pois é” ou qualquer outra coisa evasiva. Marcaram de sair para o buteco mais romântico da cidade. Como Seu Andrezão e Dona Andrezona também sairiam para comemorar o dia dos namorados, Andrezinho ficou sem carro. Tudo bem, combinaram que Ana Paula dirigiria até o The Didi’s Abatedourus Steak House. Plim! Encontravam-se os dois agora sentados à mesa do elegante buteco:
- Trouxe uma sacola de supermercado pra você. Presente de dia dos namorados...
- Mas a gente não tá namorando não né?
- O que? Nós? Haha, não seja ridícula. Claro que não, claro que não.
Uma bicuda no saco com sapato de bico fino e ferrinho na ponta. O que significava tudo aquilo então? André Trouxão Bernardes passou a noite inteira querendo perguntar pra ela: Por que porra você foi ligar para a minha mãe então, piranha? Mas não conseguia encontrar maneira ainda mais educada de dizer isso. Fora o medo de passar um constrangimento ainda maior: Oh, você achou que eu queria dica para comprar um presente para você? Que fofo, gente! Na verdade, a prostituta da Ana Paula também tinha ficado constrangida com a situação. Inclusive, fez algumas tentativas para tentar amenizar aquilo:
- Quando é o seu aniversário?
- 1º de fevereiro.
- Hum. Tá longe ainda. Mas pode deixar que eu vou comprar um presente bem legal para você. Fica sossegado.
- Tá.
- Quer saber? Fazer o seguinte: Vou pedir uma porção de quibe e você come comigo. Será o meu presente para você.
Passaram a noite os dois bastante perturbados. Tentavam desviar do assunto. Ana Puta, digo, Ana Paula revelou que naquela noite não iria dormir em casa, mas sim na casa de sua avó. No dia seguinte bem cedo as duas viajariam para sua terra natal, a Casa do Caralho. Então, para variar:
- Tenho que ir embora mais cedo hoje. Amanhã de manhã eu e vovó viajaremos.
- Hum. Que horas vocês viajam?
- Olha, você faz perguntas demais. Eu não gosto de ficar dando explicações da minha vida para ninguém e bláblábláblá...
Gente, a menina tá doida. Fiz uma perguntinha boba e desinteressada só para render conversa. Ana Paula pediu a conta e, estrategicamente, pediu licença de ir ao toalete. Não satisfeita em partir meu pequenino coração, a vaca nem vai pagar a porção de quibe que prometeu. Se soubesse que ia sobrar pra mim, teria pedido pimentinha. Subitamente André se lembrou do bilhete que havia colocado na tampa da caixa. Ana Paula nem chegou a ler. Tinha que arrancar aquele troço dali rápido, antes que ela voltasse do banheiro.
- O que você tá fazendo?
- Você foi rápida.
- Fui só dar uma salgada no bacalhau. Ou você acha que eu vou fazer uma obra de arte barroca aqui? Esse tipo de coisa eu só faço em casa.
Nossa, a menina tá atacada mesmo. Ela nunca tinha sido tosca assim comigo. Não satisfeita, resolveu abusar um pouquinho mais do nosso herói:
- Posso saber o que é que você tá fazendo com meu presente?
- O presente quem deu foi eu. Eu escolho ficar com a tampa pra mim. Achei ela do caralho.
Era mais de meia noite. De volta ao carro de Ana Paula ela avisou que, apesar de não dormir em casa, levaria André até o centro para que ele pegasse um ônibus. Que ser humano esplendoroso! É bem verdade que ela podia ter estendido um pouquinho mais a carona e deixado o bravo cavalheiro em casa. Mas aparentemente queria passar o mínimo possível de minutos constrangedores ao lado daquele cara. André desceu do carro, ficou dois minutos no ponto de ônibus e resolveu ir a pé para casa. Atirou a tampa do presente longe, como um frisbee. Idiota, idiota, idiota, idiota! Logo depois veio o choro. Tomara que até chegar em casa meus olhos já tenham secado.
- Como foi o dia dos namorados, filhão? Paquerou muito?
Respondeu qualquer coisa e foi direto para o quarto, virando o rosto para não verem seus olhos inchados. Ligou o computador: Oi Aninha Paulinha, como vai você? Espero que melhor do que eu. Fiquei muito triste com o ocorrido desta noite. Gostaria de pensar que tudo não passou de um mal entendido... O texto tinha 7.351 caracteres. Enviou para o email da garota. Ela leria quando voltasse de viagem. André estava ansioso pela resposta. Duas semanas depois, se encontram no hall do prédio:
- Olha só quem o vento trouxe. Como foi de viagem?
- Nó, bom demais da conta. A gente saiu para blábláblá...também encontrei com blábláblá...e eu blábláblá horrores...
- Aposto que ficou com vários carinhas da terrinha hahaha.
- Aff. Quem você está achando que sou? Vários não. Um só.
Que? Como assim? Como se fizesse diferença um ou mil caras. Ela conta que ficou com outro assim, na tora? Eu sou o que, afinal de contas? Um chegado dela? O amigo gay dela?
- Você chegou a receber o email que te mandei?
- Recebi sim.
- ...................
- Aqui, é pra responder ele?
- Precisa não, boneca.
Claro que precisa, sua puta! É o mínimo depois de eu escancarar meu coração para você! Mas se precisa perguntar, é melhor nem responder mesmo! Quer saber? Vou subir agora lá em casa e ligar o MSN. A primeira que aparecer online eu chamo pra sair. E foi o que fez. Em poucos minutos marcou um cinema para dali duas horas com uma colega de faculdade. E olha que nem precisou muito esforço. Ela era ainda mais bonita do que a biscate da Ana Paula. Yes! Vou mostrar praquela baranga e para mim mesmo que ainda tenho poder de fogo. Toca a campainha:
- Oi, Dé. Vamo tomar um sorvetinho ali na esquina?
- Vamo, vamo, vamo.
Era mais forte do que ele. Aqueles olhinhos de mel de cílios longos e sobrancelha feita sugavam toda energia vital do Capitão Idiota. André disse que só ia resolver um assunto rápido e se encontraria com ela lá em baixo. Digitou qualquer coisa sobre tia doente para a mocinha da faculdade, desmarcando o cinema. Puta que pariu, o moleque já tinha conseguido dar um passo à frente em direção à auto-estima. Para que esse retrocesso? E Ana Paula ainda tinha dito que a vida dela era mais simples e leve antes de André entrar nela. Sempre repetia para si mesmo: Essa mulher acha que eu não tenho sentimentos? Que sou alguém que ela pode ligar e desligar a hora que bem entender? A partir de hoje ela pode me implorar, mas eu não saio mais com ela.
- Dé, e o nosso sorvete?
Pô, um sorvetinho nesse calor até que pega bem né? Ele não oferecia nenhuma resistência. Se oferecesse, era só Ana Paula soltar um “deixa de ser chato” que conseguia o que queria. André tentava se afastar, seguir em frente. Por vezes era até seco. Mas Ana Paula parecia um encosto. Apesar de nunca admitir que tava simplesmente afim da companhia de André. Sempre precisava de um pretexto absurdo:
- Oi Dé, você ligou no meu celular?
- Não.
- Engraçado, apareceu seu número aqui. Mas vem cá, como é que você tá?
Todas as vezes que cedia ao joão-sem-braço da menina ele tinha vontade de deixar o telefone cair na parede. Com o tempo, Ana Paula se mudou. Gradativamente foram perdendo contato. Ficou sabendo que ela tinha começado a namorar um primo dela. Tomara que tenham um filho e ele nasça retardado! Sabe o que foi o pior nessa história? Durante todo esse tempo André nem chegou a comer Ana Paula.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mulher não tem alma

Fazia poucos dias uma família tinha se mudado para o andar de cima. Pai, mãe e uma filha. Devia ter uns 19, 20 anos. Ana Maria era o nome dela. Ou seria Ana Carolina? Peraí, é Maria Carolina. Só sei que é um nome composto. Hum, melhor subir lá e confirmar, sob um pretexto escuso:
- Boa tarde, a síndica está aí?
- Síndica? A gente acabou de se mudar.
- Ó menina, toquei no apartamento errado então. Me desculpeee...
Disse isso inclinando o pescoço e apontando para ela completar a frase.
- Ana Paula.
Oh, Ana Paula é o nome da filha da puta! E bateu uma palminha. Que nome doce! Que dia feliz! Então minha futura esposa se chama Ana Paula. Ok, posso me imaginar fazendo isso. Fazia uns dois minutos que a mente dele estava viajando. Ana Paula já estava agoniada com aquele tarado olhando para ela sem dizer nada:
- Pois é, boa sorte na sua procura. Tchau.
A porta estava quase fechada quando ele se lembrou de colocar a cabeçona entre a porta e a parede. Logo depois veio a mão, vinda ainda de trás da já semi-fechada porta:
- André.
- Perdão?
- André Carvalho Bernardes, satisfação. Seja bem vida ao condomínio. Depois eu te ensino a manha para abrir o portão da garagem.
- Uai, não é só apertar o botão do controle?
- Oh, já te ensinaram então.
Até agora a mão de André estava esticada, esperando um cumprimento. Ana Paula ia responder à saudação com um tapinha e um soquinho Super Gêmeos, mas André colocou a outra mão por cima, fazendo um Big Mac de mãos. Tinha de admitir uma coisa: Ana Paula não era especialmente bonita. Por exemplo, não tinha bunda e era barriguda. Era o Bob Esponja de costas. E o Patrick de frente. Mas tinha um olhar encantador. Sabe aqueles olhinhos de mel, aqueles cílios longos e aquela sobrancelha feitinha? Ainda falava miando e tinha um inebriante cheirinho de Mirabel de morango. Apesar deste primeiro contato meio desencontrado, André foi persistente e continuou fazendo visitinhas freqüentes à vizinha:
- Você tem um pouquinho de açúcar?
Detalhe é que ele sempre punha um shortinho curto ao fazer essas visitas. Tenho que valorizar o material né? Alguém alguma vez tinha dito que ele tinha a perna bonita. Na verdade, ele só tinha as perninhas gordas. Ana Paula namorava um carinha. Eventualmente, acabou cedendo àquela amizade forçada. Mas era sempre ele quem procurava ela, nunca o contrário. Falavam sobre várias coisas, mas ele sempre conseguia enveredar qualquer assunto para o tema namoro/relacionamentos/putaria:
- Hum, cafezinho gostoso esse. Me lembro de uma ex minha que odiava café. Já te falei da Vanice?
- Hoje?
- Dizia a menina que me largou por causa da faculdade, acredita?
- Sim, e que ela acabou não estudando porra nenhuma. E que logo depois começou a namorar outro cara...
Ana Paula era um Pokémon muito mais evoluído do que André. Saía todos os finais de semana. Já tinha trabalhado uma vez na vida. Conhecia um monte de bandas alternativas. Sabia o nome dos diretores cult. Lia livros. Não conhecia quase programa nenhum de TV. Tinha um carro só seu. Conheceu a Europa. Havia experimentado vários tipos de drogas. Transou com muito mais gente. Não bastasse tudo isso, tinha mais de 400 amigos no Orkut. Não entendo como uma pessoa consegue ser e fazer tudo isso. André já se sentia inferior a qualquer mulher. Com Ana Paula então, nem se fala. É muita areia para meu caminhãozinho, mas posso fazer duas viagens. Não se engane: Ela também confessava os segredos mais íntimos de sua vida sentimental:
- Nossa, meu amor ainda não me ligou hoje.
- Talvez a relação de vocês tenha esfriado. Já parou para pensar nisso? Você é uma menina legal, bonita, inteligente. Se fosse namorada minha, eu não deixaria de dar assistência nunca.
Dizia isso segurando a pequenina mão de Ana Paula entre as suas. André era um irremediável altruísta. Sempre disposto a ajudar. Ainda mais quando se tratava de destruir o relacionamento alheio. Sempre nessas conversas, André soltava esse tipo de cantada biscate. Se ela levar na brincadeira, ok eu também estou brincando. Se ela se render, brincadeira é o caralho, eu tô é falando sério. Cada vez que conversavam sobre o assunto, ele tentava aproximar mais sua boca da boca dela, esperando que a osmose fizesse o resto do trabalho.
A passos lentos, parecia que a influencia de André tava surtindo efeito. Abençoadamente, a relação de Ana Paula e Aquele Carinha Lá esfriava cada vez mais, a julgar pelos relatos da menina. Seria a hora propícia de atacar? André tentava mostrar o quanto ele era a antítese de Aquele Carinha Lá. Sempre que ele achava que Ana Paula estava finalmente se rendendo ao seu charme, a moça vinha com um discurso ainda mais longo:
- Ai, mas eu amo ele. Não nasci para viver sozinha e blábláblábláblábláblá.....
André ouvia atentamente ao blábláblá, mostrando que se preocupava. Ou isso ou apenas balançava a cabeça afirmativamente, sei lá. Como assim viver sozinha, filha da puta? Ó eu aqui na sua cara te passando cantada o tempo todo. André recebia as declarações de Ana Paula como um soco na boca do estômago. Ainda mais porque ela era daquelas pessoas que respondem a tudo com uma tirada. Quando André vinha com uma cantada, ela respondia com um “arrã” ou um “tá bom”. Como ela falava miando, a acidez dos comentários era perdoável. Mas também, André sempre vinha com frases aleatórias, daquelas pretensiosamente profundas, mas que não querem dizer nada:
- Nunca se esqueça de que a verdade está dentro de você.
Como se a menina fosse cair em algo tirado da Caverna do Dragão. Falavam-se também por MSN, onde André digitava filosofias de vida intermináveis, que Ana Paula demorava um tempão para acabar respondendo simplesmente com um “aff” ou com um emoticon sorridente. Depois de muitas idas e vindas, Ana Paula finalmente terminou com Aquele Carinha Lá. Num surto de desespero, interfonou para o vizinho, querendo se aproveitar da paixão do moleque:
- Não tô agüentando mais essa depressão. Preciso de um cigarro. Me empresta R$4,00? Semana que vem, quando receber minha mesada, te pago.
- Olha Aninha Paulinha, não me sentirei bem fazendo isso...
- Poxa, como é que você quer ficar comigo, sendo que na hora que eu preciso de você, você me nega um favor?
- Bem, eu não pretendia ter que te dar dinheiro para ficar com você. Na minha inocência, pretendia ficar com você de graça, mesmo. Aqui no prédio a gente tem um nome para pessoas que ficam com os outros em troca de dinheiro.
Uau! André foi fodão nessa. Quer dizer, teria sido se não tivesse respondido isso depois de Ana Paula ter batido o interfone na cara dele. Isso não vai ficar assim. Mas não vai mesmo! Vou subir lá e falar uns desaforos para aquela piranha. Ana Paula estava tentando segurar o choro quando ouviu a capainha. Mas quando abriu e viu o punheteiro do andar de baixo, abriu o berreiro ao mesmo tempo em que avançou no menino, num beijo desengonçado. Soluçava e fungava ao mesmo tempo em que tentava eroticamente beijar o vizinho. André correspondia, mas afastava o quadril. Pegava mal a menina chorando copiosamente e ele de barraca armada. Estava difícil disfarçar, já que praticamente dava para escoteiros acamparem ali. Não disseram mais nada um para o outro.
Quando foi embora, André desceu saltando lances de escadaria inteiros. Não gritou porque não queria que a amada ouvisse. Quando chegou em seu apartamento, fechou a mão e deu uma cotovelada para trás, acompanhada de um sonoro “yes”. Até aqui tinham sido meses de luta. Quando se consegue beijar, melhor, quando se é beijado por uma pessoa tão ácida como aquela, o gosto de vitória é ainda mais especial. Se tivesse um carro, estaria agora dando voltas no bairro e tocando a buzina no ritmo das batidas frenéticas do coração.
Os dois começaram a ficar mais ou menos na época da páscoa. Será que eu compro um ovo pra ela? Mas e se ela não me der nenhum? E se eu der um Diamante Negro e ela me der um chocolate hidrogenado? E se eu der um ovão e ela me der um coelhinho de chocolate? Desde os primórdios da humanidade, a incompatibilidade entre ovos é uma das situações mais constrangedoras de que se tem relatos. Sabe-se que quanto mais se gastou no ovo, mais mostra o quanto a outra pessoa significa pra você. Quer saber? Não vou arriscar gastar dinheiro à toa. Melhor não comprar nada. Domingo de páscoa, a menina bate a campainha na casa do moleque:
- Trouxe para adoçar a sua vida.
Era uma caixa de bombons Erlan. Mas teve para André uma importância fudida. Significava que a menina se importava com ele. Desarmou-se todo. Ela me ama! Ela realmente me ama! Ironicamente, estavam se vendo com bem menos freqüência do que antes daquele primeiro beijo. André queria que Ana Paula fosse mais presente em sua vida. Queria exibi-la para os amigos. Mas a coisa mais difícil era conseguir fazer com que a menina saísse com ele:
- Tô precisando estudar pra uma prova segunda-feira, sabe?
Tudo bem, era compreensível. Só não era compreensível a freqüência com que isso acontecia. Menos compreensível ainda era o diálogo do dia seguinte:
- E aí, estudou muito ontem?
- Bem que eu quis. Mas aí sentei no sofá pra ver um filme, aí o filme emendou no outro filme...
- E aquela história de que não ia sair comigo porque ia estudar?
- Olha, eu sei bem o que eu tenho e o que eu não tenho que fazer. Não precisa ficar regulando.
Oh meu Deus! A história estava se repetindo. Foi o mesmo que tinha acontecido entre André e sua ex, Vanice. Parecia que não era permitido ao menino que ele sossegasse e fosse feliz. Quando, a muito custo, conseguia que a menina saísse com ele, a primeira coisa que ela dizia era:
- Ó, não posso ficar muito tempo não. Tenho que voltar pra casa cedo.


Continua na semana que vem...

domingo, 26 de setembro de 2010

As 18 melhores bandas de rock do mundo

Você pediu, Tio Didi atendeu: Aqui está meu conceito de música boa. Enquanto a lista dos piores do rock tinha 180 bandas, esta tem apenas 18. É mais fácil falar mal do que bem. Para mim, quase todas as músicas boas seguem quatro vieses: Os rockões agitadões (melhor representante: Bloodclot – Rancid), as açucaradas (melhor representante: I won't stand in your way - Stray Cats), as viajandonas (melhor representante: And so I know – Stone Temple Pilots) e as biscates (melhor representante: The beatiful people are ugly too – The Clash). Gosto quando elas assumem totalmente sua identidade, sem dar uma amenizada no meio do caminho. Por exemplo, não gosto quando pegam uma música pesada e colocam trechinhos melódicos no meio. Quero ouvir um rockão que dá vontade de sair quebrando tudo e atropelando todo mundo na rua. Balada boa é aquela que te faz arrepiar e seus olhos marejarem. Não é legal quando colocam um violãozinho safado, ou pior, uma batida eletrônica no meio. Um bom exemplo de música que vai caminhando para algo fodão, mas que acaba peidando na farofa é Sell out, do Reel Big Fish (a gurizada punk vai me matar por ter dito isso). Já que estou blasfemando, aqui vai mais uma: Bohemian rhapsody, do Queen (86) seria emocionante, não fosse o corinho no meio.
Minha história com a música começa no longínquo ano de 1982. Era o início de uma nova era para a humanidade. Nascia Tio Didi (que naquela época era chamado apenas “Didi”). Como a maioria das crianças eu não tinha artista preferido ou gosto musical definido. Talvez o New Kids On The Block na época do Rock In Rio II. Isso até 1991, quando o Fantástico mostrou o clipe de Black or White, com o Michael Jackson (104) parecido com a Vamp. O cara tava na praça a um tempão, mas só virei fã a partir dali. Comecei a acompanhar o Fantástico – o Show da Vida, sempre na esperança de uma possível estréia de um novo clipe do figura. Tinha uma fita K-7 do Michael que eu ouvia todos os dias enquanto fazia meu para casa. Também eu era daqueles que imitavam, dançando com a mão no saco e tudo mais. Mamãe morria de vergonha.
Em 1994 papai comprou TV a cabo lá pra casa. Eu via MTV pra caralho. Crazy, do Aerosmith (127), era a música que tava bombando. Depois que descobri que aquela era a terceira parte da trilogia Cryin/Amazing/Crazy, a banda do boca de caçapa passou a ser minha preferida. Sai Michael, entra Aerosmith. Eu era o único fã de rock no colégio. As FMs só tocavam house. Também gostava de Soudgarden, Stone Temple Pilots (164), Nirvana (102) e Guns n’ Roses (68). O Guns tocava na rádio desde que eu era criança, mas só fui prestar atenção mesmo depois da MTV. Kurt Cobain já tinha empacotado quase um ano, mas só fui saber quem era graças, novamente, à Music Television.
Pouco depois da morte do Kurt surgiu o Green Day (88). Sempre pensava comigo mesmo: “Engraçado, tanto o Green Day como o Nirvana têm uma coisa diferente das outras. Sei lá, uma falta de produção, uma simplicidade”. Hoje todos nós sabemos que aquilo, de um jeito ou de outro, era punk rock. Procurei em lojas de disco (lembra delas?) uma banda que tivesse som parecido com o do Green Day. Sai Aerosmith, entra NOFX (130), a primeira que conheci sem ajuda da MTV e bem antes de existir internet. É minha banda preferida faz uns 15 anos. Por essas e outras considero a década de 90 a melhor da música. Pudera, foi aí que vivi meus oito a 18 anos. A fase que a gente mais forma nossa identidade musical. A maioria das minhas bandas preferidas até hoje surgiu ou alcançou o auge nesta época.
Eu era um menino punkinho. Ou pelo menos achava que era. Mesmo assim, continuei secretamente gostando de Guns. Pensava que só iria revelar isso em meu leito de morte. Na época o NOFX fazia basicamente hardcore melódico. Talvez por isso até hoje eu considere o hc melódico um dos estilos mais adolescentes que existe. Ao contrário da maioria dos fãs de qualquer artista, não admiro meus ídolos da música por nada além da música propriamente dita. Pra dizer a verdade, Fat Mike, líder do NOFX, é um dos maiores idiotas que eu conheço no meio artístico.
Voltando para a música, para mim eles atingiram a grandiosidade depois, quando saíram do óbvio e passaram a variar em estilo e forma de mostrar o trabalho. Quantas bandas você pode dizer que vai ao show e reclama porque não estão tocando as músicas novas? Para se ter uma idéia, eles lançaram um hardcore de 18 minutos chamado The Decline. Isso muito antes do Green Day lançar o Jesus of Surubia. E melhor. Outra das minhas preferidas, The Living End, lançou a música The Room, também antes e com muito mais genialidade que o Dream Gay.
The Living End é outra que merece meu respeito. Conseguiu trazer inúmeras influências para o rockabilly, um dos estilos mais estagnados da música. Nos idos de 2000 eu escutava todos os dias o primeiro disco. Não é que, no ano seguinte, escuto o segundo disco e ele consegue ser mais pesado, mais elaborado, com músicas cheias de estruturas e, ironicamente, mais pop? Considero o disco Roll On como o melhor do rock ‘n’ roll de todos os tempos. Daí também saiu minha música preferida: Pictures in the mirror.
Engraçado como quanto mais velho a gente vai ficando mais retrógado fica nosso gosto. Ao contrário do que muitos pensam, sou até cabeça aberta. É verdade que 90% do que eu ouço é rock. E dentro disso uns 70% é a tríplice coroa punk/ska/rockabilly, essas coisas de moleque street punk da Savassi. Só faltou eu freqüentar a Savassi. Mas se você fala que a música de hoje é uma bosta, boa parte da culpa é sua. Do mesmo jeito que você tem bom gosto, um monte de gente também tem. É só pesquisar e não ficar só preso ao que a TV e o rádio tocam. Para mim o Avenged Sevenfold (65) é a melhor coisa que aconteceu para a música nestes últimos anos. Quem gosta de qualquer tipo de metal tem que conhecer. O problema é que, com um puta aspecto emo ridículo do caralho, as pessoas têm preguiça sem conhecer. Passei por cima disso, provando que não ligo tanto para o visual como vocês dizem.
Não tenho nada contra o que faz sucesso. O que não suporto é música feita com o intuito de ganhar dinheiro. Todos nós somos obrigados a fazer coisas que vão contra nossos princípios por causa do nosso trabalho. Mas acho que a classe artística tem que ser diferente. Arte tem que ser feita com a alma, com integridade. Por isso acho o pop rock tão desprezível quando o axé. Uma das coisas que mais respeito num artista é quando ele não fica refém da fórmula de sucesso. Para não causar mais polêmica, um exemplo do que eu estou falando: Chiclete com Banana. Desde que eu nasci fazem exatamente a mesma coisa. Duvido que alguém realmente goste de ouvir axé na cabeça por tantos anos a fio. E olha que os caras têm bom gosto. Salvo engano, começaram como cover do Led Zeppelin (19). Ou eles ou o Asa de Águia, sei lá. Se você é fã de alguma dessas, saia desta página agora. Tenho vergonha de ter leitores como você.
Quando o Faith No More (128) lançou o primeiro disco com o vocalista Mike Patton, atingiu o auge do sucesso comercial. Gerou a famigerada expectativa do segundo disco. O segundo foi um tapa na cara da grande mídia. Não tinha nada de funk rock. Essa atitude é muito foda. O Faith me proporcionou uma das maiores alegrias dos últimos tempos. 11 anos depois do fim, não é que os caras voltam para uma turnê e fazem um show na minha cidade? Fiquei bem na grade e pulei igual um macaco. Já fiz sucesso com uma ou outra gatinha pela minha semelhança com o vocalista. Pessoalmente, acho que sou mais bonito. No dia do show não foi diferente. Arrependi-me de não ter ido à caráter. Normalmente gosto de ser eu mesmo, mas naquele dia bem que podia ter aberto uma exceção.
Rancid fez sucesso fazendo ska punk pop pelos idos de 95. No disco sucessor, ao invés de pegarem carona, fazem algo totalmente grandioso e experimental. Alguns gostaram, mas a maioria achou que a banda tinha morrido. O fodão de tudo foi dois anos depois, quando lançaram um toscão de 22 músicas em 37 minutos. Mais tosco do que o primeiro disco da carreira deles. O Guns (68), depois dos grandiosos Use Your Illusion, com músicas pomposas e de grande duração, lançou um disco de covers punk.
Uau! Desde então este tornou o meu sonho: Ter uma banda, lançar um projeto megalomaníaco para os fãs puristas acharem que a banda perdeu sua essência. E ao mesmo tempo conquistar um público diferente. Logo depois, lançar um disco simples e direto, mostrando que a banda não perdeu a essência porra nenhuma. Não vou nem falar dos Beatles (111) que tiveram a coragem de mudar para o rock mais elaborado no auge da beatlemania.
Foi lá pelos 15, 16 anos de idade que entrei para as aulas de bateria. Um dia antes de começar a tocar eu tava vendo na televisão um show do Chico Science & Nação Zumbi (152). Pensei: “Agora sou um deles”. E virei mesmo. Nos anos em que fiz aula de bateria participei de um grupo de percussão com o infame nome de Movidos a Bateria. Original pra caralho. Passei por algumas bandas de um dia. De 1999 a 2002 fiz parte da sensacional Silent Bob & The Jay Jay’s. Fazíamos o bom e velho punk/ska/rockabilly. Merecia o primeiro lugar na lista das 180... Bem que um dos caras da finada banda podia ter a moral de botar um link aí. Pelos idos de 2007 formei uma chamada Ruy Balboa. Eu fazia as melodias, a poesia, etc. Não é de se estranhar que não tenha ido pra frente. Falando em ir pra frente, uma das maiores alegrias que tive nos últimos anos foi ter comprado uma cocktail drum. Minha cunhada a batizou de R2D2. Agora eu toco em pé igual o cara do Stray Cats (122), véi! Como se pode ver, assim como todo crítico, sou um músico frustrado.
Vamos fazer uma lista dos melhores músicos? Vocalista: Lars Frederiksen (Rancid). Consegue ser ao mesmo tempo agressivo e alegre, cantando aos solavancos. Não confunda com Tim Armstrong, o outro vocalista do Rancid. Esse tem a voz de quem tá com um caralho na boca. Guitarrista: Chris Cheney (The Living End). Faz tudo que o Brian Setzer do Stray Cats faz, porém com mais velocidade e peso. Baixista: Para a molecada só existem dois memoráveis no mundo. Para os fãs do rock MTV tem o Flea, do Red Hot Chili Peppers (33). Para os punkinhos tem o Matt Freeman (Rancid). Fico com o segundo time. Aliás, enquanto escrevia o presente texto, foi lançado o primeiro disco solo do Matt, tocando baixo acústico. Lindo demais. Apesar de bateria ser o meu instrumento, não tem som mais bonito do que o de um baixo acústico sendo devidamente esbofeteado. Sempre quis tocar com alguém que tivesse um.
Baterista: Nossa, são tantos. Sou suspeitíssimo para falar. Ah, bota aí o Bernie Dressel (The Brian Setzer Orchestra), vai. Mais fácil falar os ruins: Rodrigo Barba – Los Hermanos (118), Fabrizio Moretti – The Strokes (103) e Ringo Starr – Calypso (111). Apesar de achá-los ruins, prefiro suas respectivas bandas com eles. Não fossem eles, essas bandas teriam um som diferente e talvez não fossem tão boas. Sei que tinha dito que o Travis Barker, do Blink (92) era o melhor do punk. Ainda acho isso. Você pode não ser fã da banda, assim como eu não sou, mas só de o cara conseguir sair do óbvio neste estilo que limita muito os bateristas, já merece meu respeito. Tem forte influência das marching bands, aquelas dos intervalos de futebol americano.
Apesar de ter o rock e o humor como algumas das minhas principais características, odeio rock engraçadinho. Bem humorado é uma coisa, mas engraçadinho não. Uma que acho legal neste quesito é o Beatallica, que toca isso mesmo que você está pensando (111,109). Outra é Garotos Podres (131). Quando você ouve nem imagina que o vocalista é doutor em história. Como sei que meu gosto é peculiar, jamais me imponho ao fazer festinhas aqui em casa. Se insistirem para eu colocar uma coisa minha, ponho o Me First and the Gimme Gimmes. Um supergrupo que toca versões hardcore de músicas famosas. Não tem como errar.
Ficou com vontade de ouvir todas as bandas acima? Eu, pelo menos, fiquei. Eis abaixo a fabulosa lista das melhores bandas de rock do mundo. Esses negocinhos vermelhos aí são links para quem tá com preguiça de procurar no Youtube:

18- Tiger Army – psychobilly
Melhor música: The calling

17- Pink Floyd (63) – psicodelia
Melhor música: Eclipse

16- Michael Jackson (104) – rei do pop
Melhor música: They don’t care about us

15- 311 – funk rock
Melhor música: Use of time

14- Me First and the Gimme Gimmes – versões hardcore
Melhor música: End of the road

13- Stone Temple Pilots (164) – rock alternativo
Melhor música: Black again

12- Avenged Sevenfold (65) – metal
Melhor música: Almost easy

11- Stray Cats (122) – rockabilly
Melhor música: I won’t stand in your way

10- Guns n’ Roses (68) – hard rock
Melhor música: Double talkin’ jive

9- Ramones (79) – punk
Melhor música: The job that ate my brain

8- The Brian Setzer Orchestra – swing
Melhor música: The dirty boogie

7- Madness – pop ska
Melhor música: Lovestruck

6- Faith No More (128) – metal alternativo
Melhor música: The gentle art of making enemies

5- The Clash (151) – rock
Melhor música: Rock the casbah

4- Rancid – street punk
Melhor música: Bloodclot

3- The Living End – punkabilly
Melhor música: Pictures in the mirror

2- NOFX (130) – skate punk
Melhor música: Freedom like a shopping cart

1 - The Beatles (111) – axé
Melhor música: A day in the life

É isso. Gostaria de agradecer a todos meus detratores por me proporcionarem um dos textos mais prazerosos de escrever. Apesar de considerar o NOFX minha banda preferida, Beatles é um caso a parte. De um lado tem as bandas que eu gosto e de outro, os Beatles. Considerada a maior banda de todos os tempos, merece totalmente o posto que ocupa. Faz direta e indiretamente parte da vida de quase todo mundo. Brian Setzer conseguiu a proeza de figurar com o Stray Cats e o Brian Setzer Orchestra em minha lista. Ia colocar as duas na mesma posição, com uma barra no meio. Mas têm estilos tão diferentes que cada uma merecia destaque. Acredito que a lista e tudo que foi escrito acima justifiquem toda a merda que andei falando nos últimos meses. Se ainda não concorda comigo, tomara que você morra de câncer.
Ainda mostrando como imagem é sim importante, ilustrei a postagem com algo totalmente inocente que eu sempre quis rankear: As melhores capas de disco. Percebe-se que houve certo padrão na escolha. Gostaria que vocês comentassem e dissessem quais ficaram faltando. Aliás, sugiro que cada um faça a própria lista das melhores bandas e coloque nos comentários. É bom saber o perfil dos leitores do Abatedourus. Acredito piamente que você é o que você escuta.
A idéia que tenho de o que é rock é a mais boba e simplória de todas. Tem baixo, guitarra e bateria: Beibe, é rock. Se a guitarra for distorcida então, não tem o que discutir. Por isso não entendi gente falando que Planet Hemp (163) e Mamonas Assassinas (106) não são rock. São o que então, bonitão? Além disso, toda música pop feita da década de 50 para cá eu considero como um subgênero do rock, também. Por isso tantas bandas aparentemente nada a ver na lista das piores. Se colocasse um título mais abrangente como “As piores bandas da música”, ia ter de colocar uma caralhada de axé music no meio, o que ia ser muita forçação de barra.
Antes de eu ir embora, um pouquinho de rancor que sobrou. Dia desses eu tava na comunidade do Avenged Sevenfold (65) quando vi o tópico “As piores bandas de rock do mundo”. Pensei: “Interessante, alguém mais fez uma lista”. Qual não foi a surpresa ao saber que há desconhecidos meus fazendo propaganda do Abatedourus na praça. Havia mais de 80 comentários quando, pela segunda vez, apagaram o tópico por ter virado motivo de discórdias. Colocaram link pro meu perfil e tudo mais. Neguinho falou mal até do meu cavanhaque de pegar mulher. Depois quem preocupa com o visual sou eu. Dia seguinte eu percebo que tem um bando de fãs do Linkin Park (29) visitando meu perfil. Fui na comunidade deles ver o que estava acontecendo. Não é que tinha outra pessoa fazendo propaganda lá também?
A quem criticou por ter colocado artistas solo numa lista de bandas, só posso mandar ir chupar um pinto de jegue. Como se artistas solo realmente tocassem todos os instrumentos num disco. Melhor: Como se a maioria dos grupos, apesar do nome de banda, não passasse de projetos solo de seus respectivos vocalistas. “É muito fácil fazer crítica baseando-se em gosto pessoal”. É claro que a crítica é baseada no meu gosto pessoal, seu viado. O blog leva a porra do meu nome. Talvez eu devesse ter colocado o título: “As 180 piores bandas e artistas solo de rock e outros estilos, mas principalmente rock, do mundo na opinião de Tio Didi, que, por sinal, é autor deste blog”. Agora chega de polêmica. Semana que vem falaremos sobre religião.

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