sábado, 29 de agosto de 2009

Texto que circula na internet atribuído a mim

Estava eu desconfiado de que este blogue tinha mais de um ano de criação. Pesquisei. Era verdade: Fez um ano a uma semana, dia 22 de agosto. E ninguém lembrou de cantar "parabéns pra você" pra mim. Um ano e 29 postagens ao todo. Postagens estas que estão se tornando cada vez mais raras, infelizmente. E olha que nem todas eram textos, textos de verdade. Mas tem gente menos frequente do que eu por aí. Bem, a maneira mais óbvia de se comemorar a data, logicamente, é postando o texto de outra pessoa. Abaixo segue um texto que circula na internet de autor desconhecido. Imagino que metade dos meus leitores já o tenha lido, já que umas três pessoas diferentes o mostraram para mim. E me perguntaram se, por acaso, não era um texto meu usando um pseudônimo. Eu mal escrevo pro meu próprio blogue. Vê se eu vou escrever coisas por aí sem levar o crédito. O estilo é parecido com o deste humilde servo, mas acho que não cheguei no nível de escatologia/putaria do anônimo autor. Ainda tenho que comer muito feijão para isso. Mas, enfim, estou aqui para apresentar o texto para os outros três leitores do blogue:
Sinceridade: não sou do tipo que chama atenção pelo porte físico ou coisa parecida. Já passei dos quarenta, meus cabelos me abandonaram há uns sete ou oito verões e minha protuberante barriga denotam o grande sucesso que tive na arte de comer e beber. Minhas rugas procedem da total falta de credibilidade em protetor solar (esse troço não é coisa de homem sério!) aliada a centenas de noites que fiquei sem dormir na expectativa de não ir para casa sozinho. Bom. Esse sou eu. Ainda bem que para caras como eu (porra, tem um monte desses por ai!) existem os desmanches.
O que é um desmanche? Sinceridade: na mesma proporção de caras como eu, existem mulheres com características semelhantes. Se não são carecas, tem cabelos mal cuidados, se a barriga não é tão grande quanto a minha, tem lá aquela coisa instalada ali na frente. Ruga, então? Puta que pariu! Não quero falar disso. Voltando ao assunto, um desmanche é um local onde se tem música, bebida, um globo vagabundo rodando no teto, banheiro mal cuidado, etc. O local tem que ser escuro porque, sinceridade: com muita luz acho que ninguém “pegaria” ninguém. A balada que sempre vou (não vou chamar de desmanche, as mulheres se ofendem pois há quem diga que estes locais têm estes nomes porque as “princesas” que frequentam o local desmancham em um toque) fica perto da minha casa, pois não tenho carro e, se arrumo alguma coisa, dá para ir a pé até o meu apartamento.
Coloquei minha roupa de passeio, quinzão no bolso (cinco para entrar e o resto para beber e comer um cachorro-quente na hora de ir embora) e fui para a caçada.
Dancei forró, pagode, lenta (não sei nem como se chama hoje em dia estas músicas de se dançar juntos. eu falo lenta e acabou!) como umas dez mulheres diferentes. Já passava das quatro da madruga, eu já num prego do cacete, achando que ia ter de acabar mais uma noite sozinho, deparei-me com uma gata. Nao fui agraciado com beleza mas papo, bom, papo eu tenho.
Aproximei-me. Era um loira com uma calça preta com listas amarelas (estas calças de ir em academia), uma bota que imitava couro de cobra, um salto bem alto. O cano da bota ia até os joelhos, o que dificultava um pouco os movimentos da “mocinha”. Sua blusa era toda cheia de umas coisas brilhantes (não sei o nome destes troços) bem vermelha. Não sei se é moda, mas, tudo bem, eu não tava procurando ninguém para ser modelo e sim tirar o meu atraso. Encostei do lado e comecei a jogar meu charme.
Sinceridade: nem precisei conversar muito. Cinco minutos de conversa e já aceitou ir até minha casa. Eu também aceitaria no lugar dela pois, o primeiro ônibus que ia até a direção da sua casa só passaria a partir das sete horas. Fomos caminhando até meu apartamento. Quando passavamos por luzes fortes podia ver com mais clareza seu rosto.
Amigos: Se voce tem menos de dezesseis anos e/ou estômago fraco, aconselho interromper a leitura a partir deste momento pois daqui para frente a coisa começa a ficar quente. Tinha mais rugas que meu saco, já não sabia se era loira ou morena. Quero dizer era morena pois o cabelo estava do ombro para baixo loiro e para cima moreno. Segundo ela, a próxima grana que ganhar de diarista vai dar um jeito no cabelo.
Sinceridade: a dona era até gostosa, mas feia pra caralho. Mas, porra! Eu não queria ela para bater foto, além do mais não aguentava mais ficar só na punheta. Precisava comer uma mulher, nem que fosse ela. Abri a porta do meu apartamento e já fui beijando e socando a mão em tudo quanto é lugar. Aí, como toda mulher faz, começou: - Pára com isso! Que é que você tá pensando?
Tudo bem. Todos nós passamos por isso, até as feias têm direito àquelas frescuras do início. Dei mais um beijão e já coloquei a mão no bolso e peguei umas balas. Compreensível: quatro horas da manhã, fumando, bebendo, qualquer um fica com bafo na boca. Como toda mulher que você põe no carro ou leva para seu apartamento (até as feias são assim!) já começou com aquele papinho: - Acho que está na hora de ir embora.
Puta que pariu, a gente tem que passar por isso. Tudo bem, tô ali de pau duro prontinho e tem que ter esta fase! Bom, fiz minha parte. Conversava um pouco, beijava um pouco, passava a mão, pegava a mão dela e colocava em cima da minha calça, sabe como é, todo aquele ritual básico. Passados longos dez minutos desta interminável lenga-lenga, a “Marta” (este não é o nome real mas vamos deixar como se fosse) deixou eu tirar sua blusa. Quando tirei a blusa, encontrei um enorme obstáculo: estas cintas que apertam o corpo para tampar um pouco a gordura. Tirei aquele troço. Meu Deus! Sinceridade: O cheiro que saiu dali de baixo, se minha tara não fosse do tamanho do Pão de Açúcar, eu teria brochado, mas achei até compreensível, afinal, ficar a noite toda dançando com aquele negócio quente enrolado no corpo, não podia dar em outra coisa. Passados uns cinco minutos, meu nariz já havia se acostumado com o cheiro. Pra quem já tinha beijado a boca fedendo a cigarro, um CC não ia matar. Tirei o corpete (foi assim que ela chamou o negócio) e comecei a chupar os peitos. Tava meio salgado, quero dizer, tava bem salgado, mas, vamos lá, era para comer mesmo! Que mal tinha estar temperado? Fiquei ali chupando aquela coisa flácida por uns cinco minutos ate que finalmente a Marta pegou no meu pau.
Tinha, finalmente, quebrado a barreira entre o “acho que vou embora” e o “acho que vou te dar”. Começamos então a fase final.
Ela com a mão no meu pau e eu com a mão na sua xoxota (fica bonitinho este nome!). Não deu dois minutos de dedinho e já veio com aquela outra famosa - Eu quero! Eu quero! - como se não quisesse desde o começo mas, tudo bem, respeito. Se não respeita, fica com fama de insensível e, bom, deixa para lá, vamos ao que interessa. Como todo bom cavalheiro, tirei a mão de lá e coloquei no nariz para “reconhecer o gramado”.
Sinceridade: Minha sorte que meu pinto não tem nariz, se tivesse acho que não encararia a parada. Começamos a nos despir. Fui abaixar sua calça e me deparei com as botas. Preciso comentar do cheiro que saiu de dentro das botas? Se tivesse lugar, poderia jurar que ela escondeu um gato morto em cada pé. Pensei em dar a primeira tomando um banho, talvez melhorasse um pouco as condições.
Fomos até o banheiro e, para variar, estava sem água. Sinceridade: Tava louco para dar uma trepada. Meu pau já tava ardendo, as bolas começando a doer. Comi ali mesmo dentro do banheiro (sim, usei camisinha!). Comecei sentado na privada, depois encostei a Marta na parede do banheiro e peguei ela por traz. Pra não gozar muito rápido, fiquei contando quantas bolas de celulite ela tinha na bunda. Quando chegou na vinte e cinco, ela pediu para mudar de posição, eu estava tão empolgado com a minha estatística que nem percebi que ela batia a cabeça na parede com força e acho que já estava machucando. Fomos para o corredor do apartamento (no banheiro não tem espaço para ficar deitado). Dei umas bombadas ali e fomos terminar na cama.
Dei aquelas gozadas de arder o canal. A Marta disse que gozou três vezes! Quem será que está mentindo, eu ou a Marta? Depois que gozei, tirei a camisinha, dei aquela confirida para ver se estavam todos ali, amarrei a ponta e joguei no lixo. Entrei então naquela parte conhecida pelos homens como o cúmulo da eternidade (os minutos entre depois que você goza e a hora em que você leva a mulher embora). Sinceridade: Com pinto mole não há a menor possibilidade de encarar a Marta! Já nos preparativos finais para ir embora, disse que estava com fome. Meus quinzão já tinham ido para o espaço (as balas não foram de graça!). Perguntou se não podia pedir uma pizza ou comer um cachorro-quente. Para não ficar feio para minha cara, ofereci-lhe para fazer algo para comermos. - Nossa, que romântico! - Pronto! Só faltava a baranga achar que gostei dela! Fucei os armários e achei um miojo. Na geladeira tinha uma destas latas de molho pronto de tomate que fazia uma semana que estava lá. Fiz a gororoba. Tinha uns dois ou três tomates que só parti em quatro e coloquei junto para tirar aquele ar de anemia do prato. Sentamos e comemos. Comi pouco, a Marta achoque fazia uma semana que não comia. Não deveria ter colocado aquele molho.
A Marta comeu um monte e começou a passar mal. Ficou com dor de barriga. Fiquei com um pouco de pena dela. Dar uma cagada na casa de alguém que você acaba de conhecer, não é o sonho de nenhuma mulher. Lá foi a Marta.
Quase seis horas da manhã, nenhum barulho na rua, a porta do banheiro não fecha direito. Sinceridade: Nunca uma mulher tinha ido ao banheiro perto de mim (para cagar!) e logo na estréia tive direito a show de efeitos sonoros.
Aquele barulho de quando você acelera uma motoca velha, denunciava e forma “líquida” que a coisa tava vindo. Minha TV queimada, o rádio meu irmão havia pego emprestado. Tive que ouvir a sinfonia do comeco ao fim. Ouvi quando ela tentou puxar a descarga (estava sem água, lembra?), quando tentou abrir a torneira para lavar a mão, ambos sem sucesso. Veio então nossa heroína daquela batalha que achei não ter mais fim. Foram quinze minutos de barulhos de motoca e de água escorrendo.
Ela saiu do banheiro deixando lá toda a sua obra, deu uma cheirada na mão, esfregou-as e me abraçou. Eu sabia que o cheiro que eu estava sentindo era do banheiro, mas eu tinha a sensação de que vinha da sua boca. Dei-lhe minhas últimas balas. Aquelas mãos passando em meu rosto como quem quer fazer um carinho, nao sei quanto tempo poderia agüentar. Pegou no meu pau de novo, viu que estava mole e disse: - Vou levantar o bebê de novo (bebê?). Abaixou minha calça e começou a me chupar. Sinceridade: Um boquete é sempre um boquete. O danado mesmo com todo aquele cheiro de enxofre no ar (ele não tem nariz, lembra?) ficou em pé de novo.
A moça então resolveu escancarar. Começou a fazer um streap (nem sei escrever isso!). Preferia o boquete mas, tudo bem, vamos respeitar o ritual, para não parecer insensível. A sala estava meio escura e ela, achando que estava realmente me agradando com aquelas incontáveis bolas de celulite (tinha parado na 25, lembra?), acendeu a luz. Quando tudo ficou mais claro, olhei para aquela bunda e pensei: Puta que pariu, a gorda tem um monte de espinha na bunda para ajudar. Na verdade para meu espanto ou alívio (já não sabia mais o que pensar) não eram espinhas. Eram algumas sementes do tomate que coloquei na macarronada. A desinteria deve ter escorrido por toda sua bunda, o papel higiênico não limpou tudo que podia e elas ficaram por ali grudadinhas.
Peguei minha cueca, dei uma cuspida, limpei em volta e comi a Marta de novo. Sete horas da manhã a Marta pegou o ônibus e foi embora. A água voltou as dez horas.
Não quero mais tocar neste assunto.

domingo, 16 de agosto de 2009

We're not gonna take it

Ok, aqui vai a explicação do que tem acontecido nas últimas semanas. Eu estava esperando o desfecho da história para poder postar aqui, mas parece que tal desfecho não acontecerá tão cedo: Saímos eu mais três pessoas para tomar uns drinks (tá, cerveja) na região boêmia da nossa cidade. Apesar do grande número de blitzes, preferimos arriscar (já pensou se eu fosse instrutor de trânsito?). Ao sair do buteco ninguém quis pegar o Trovão Azul (estou para mudar o nome dele desde que descobri que este é um codinome para Viagra). Sobrou para este humilde servo.

Trovão estava estacionado numa rua que fazia esquina com a Afonso Penna. Avenida esta que os americanos que estavam hospedados na casa do meu amigo Édio ano passado chamavam de “hooker street”. Ô orgulho! Tive certa dificuldade de entrar na avenida, onde havia uma pequena fila de carros combinando programa com travestis que rodavam bolsinha no local. Nada contra quem tem esse tipo de procedimento. O cu é seu, você faz o que quiser com ele

Provavelmente dentro dos veículos estavam respeitosos pais de família dispostos a experimentar coisas novas. É a única explicação, já que tem tanta mulher do sexo feminino fazendo programa por aí. E olha que travestis, por possuírem mais recursos, devem cobrar até mais caro. Alguns caras até são até bem gostosas, com o peito e o bumbum esféricos. Mas aqueles ali pareciam o vocalista do Twisted Sister. Com a cara cinza de barba e tudo mais.

Como o sinal na Afonso Penna estava aberto, fui obrigado a parar atrás do último carro. Até tentei dar uma olhada pra ver se o Ronaldo Brilha Muito no Curintia estava por ali. Aí você me diz: “E o que o senhor estava fazendo na Afonso Penna sábado de madrugada, hein?”. Embora a história pareça suspeita, tenho três pessoas que podem testemunhar que eu não estava pegando traveco. Não naquele dia.

O carro da minha frente aparentemente perdeu a paciência de esperar o da frente dele combinar o preço e deu ré. Nisso ele bateu no meu carro, provocando avarias no meu pára-lama, como a ocorrência policial rebuscadamente disse. Na mesma hora, Viviana, que estava sentada no banco de trás, falou:

- Diogo, deixa eu descer para xingar esse filho da puta.

Deixei a esquentada mocinha descer, e voltei a estacionar, para conversar amigavelmente com o cara, que perspicazmente disse para Viviana:

- É, bateu, né?

Logo depois arrancou o carro. Talvez não só para fugir de me pagar o conserto, mas principalmente pelo constrangedor cenário em que eu o peguei. Lógico que eu ia analisar a cara dele com aquele olhar: “Ah safadinho! Eu sei o que você estava fazendo!”. Fora que ele deveria ter de se explicar para possíveis policiais e, quiçás, para seus parentes. Viviana berrou:

- Anotamos sua placa, filho da puta.

Disse isso levantando os braços e movimentando-os no ar. Viviana é foda. Acho que essa menina é nordestina.

Ano passado eu bati num carro, mas chamei o tomador de conta e passei para ele meu nome e telefone. Isso é coisa de homem fazer. Quer dizer, não vou falar que o cara que fugiu não foi homem. Isso já tinha ficado óbvio no momento em que ele saiu de casa para pegar traveco.

Pessoal me falou para ir à polícia registrar queixa. Bem, isso seria difícil, já que eu tinha tomado alguns drinks (tá, cerveja). Por mais que estivesse certo, iria preso somente pela audácia de ter ido à polícia com hálito etílico. Esperei até o dia seguinte para ir à delegacia. Porém, no dia seguinte tinha um almoção. E você sabe: Almoção, cerveja; cerveja, almoção. Mas fui assim mesmo aos dois eventos. Leozão foi dirigindo pra mim.

Na delegacia havia quatro computadores bem no meio de uma salona, com várias pessoas encostadas na parede. Não entendi muito bem a dinâmica do local. Direcionei-me a um pitboy de camisa apertadinha sentado frente a um dos computadores:

- Perguntinha.

- Pois não, mermão.

- Como é o esquema de atendimento aqui?

- Aí, é sobre o que, cumpadi?

- Queria fazer uma ocorrência.

- Ocorrência de que, parceiro?

- Batida automobilística.

- Amizade, isso aí é somente no Detran, entendeu?

- Sóóóó.

Fui a três delegacias naquele domingo, tentando não deixar transparecer meu estado etilicamente alterado. As três me disseram que eu só ia conseguir resolver meu problema no Detran. E sabe o que eu concluí disso? Que somente o Detran ia resolver meu problema.

Segunda-feira fui à delegacia do Detran. Várias pessoas chegavam alteradas, direcionando-se para a pessoa que entregava as fichinhas de atendimento, batendo a mão no balcão e contando suas histórias. O cara da fichinha prontamente estendia a mão com um papelzinho com cara de “aham Cláudia, senta lá”.

Bati o recorde do Snake duas vezes enquanto estava na fila. Também aproveitei para dar um pouco de aula de legislação de trânsito para alguns que aguardavam atendimento:

- Fui pego de moto e sem capacete. Isso é multa leve não é?

- Isso mesmo.

- Isso dá quantos pontos? Dez?

- Exatamente. Alguém mais aí tem alguma dúvida? Você aí de trás.

Depois de um tempão chegou minha vez. E olha que minha fichinha estava escrito 02. Na hora que o atendente me pediu para relatar o ocorrido, não sei por que, comecei a falar como se fosse policial:

- Olha, eu estava trafegando na rua Ceará, convergindo na avenida Afonso Penna, confere? O elemento que estava na minha frente deu marcha ré, provocou avarias no meu pára-lama e evadiu do local, positivo?

Pensei: “Agora sim vamos ter um pouco de ação por aqui”. Momentos depois o atendente me estende um papel escrito o que eu tinha relatado a ele:

- Prontinho.

- É só isso?

- Ééééé.

Que legal! Agora tenho por escrito uma coisa que eu já sabia. Pensei: “O que eu vim fazer aqui?”. Na verdade, de uma coisa me serviu: Ali tinha o nome do dono do carro: Jeovany Silva M. Carvalhais. Rá! Agora eu vou fuder esse cara com areia! Se bem que isso deve agradá-lo. Procurei tudo que pude na internet sobre ele. Sim, até mesmo no Orkut. Ia chegar na página dele com um “me add, filho da puta?”.

Impressionante como, numa situação dessas, aparece um tanto de gente com contatos dentro da polícia ou do Detran, oferecendo ajuda. Tudo que achei foi que o nome dele apareceu num relatório das multas que não conseguiram ser entregues porque o correio não conseguiu achar o endereço dos destinatários. Ah, que animador! E as multas eram todas do Celta HJE-2677. O roda dura tinha cinco, ao todo.

Por acaso o nome do tal Jeovany apareceu na nova lista telefônica, que saiu na semana seguinte. Liguei pra lá algumas vezes, mas só fazia um barulho estranho. Não que eu quisesse resolver qualquer coisa por telefone. Se ele atendesse, eu desligaria e me dirigiria à casa dele. Como ele mora do outro lado da cidade, eu não queria correr o risco de chegar lá, não encontrar ninguém e perder viagem. Ainda mais naquele bairro sinistro, onde eu já tinha sido assaltado a mão armada. Oh sim, eu namorava uma menina de lá.

Decidi que ia lá no sábado de manhã, ouvindo uma musiquinha. Se eu não o encontrasse em casa, iria encarar a viagem como um passeio. Pensei em ir com uma faca de cortar pão debaixo da manga do casaco. Um homem prevenido vale por dois. Em lá chegando, uma doméstica me atendeu:

- Olha, a dona Jeovany está dormindo.

Oh! Jeovany é um nome feminino. Valiosa descoberta. Passei duas semanas odiando um nome, e nem era o nome certo. A empregada:

- Mas quando foi essa batida?

Achei que era muito enxerimento da serviçal, mas respondi. Ela me disse que o marido da dona Jeovany havia saído e que não sabia quando o doutor voltava. Resolvi atocaiá-lo na porta. Pena eu ter deixado minha camuflagem em casa. Não demorou muito até o véio chegar. Ele explicou-me de que o carro era do filho dele, que estava trabalhando. Descobri que o menino era caixa. Coitado, deve gastar o salário do mês inteiro com os travecos.

Minha mãe sempre me disse: “Quanto mais se mexe na merda, mais ela fede”. Baseando-se no sábio ensinamento, não mencionei nada sobre os travestis. Fora isso, a informação poderia ser usada como arma. O véio era solícito; deu-me o telefone correto da casa e me explicou o porquê de eu não conseguir ligar para lá:

- É que eu fiz um acordo com a GVT no nome da minha mulher. Mas acabou que eu desisti no meio do caminho.

Ficamos falando mal da GVT por alguns minutos, depois eu fui embora achando muito simpático aquele senhor. Mais tarde naquele dia liguei para falar com o filho dele que já foi se adiantando:

- Pode ficar sossegado, que eu vou pagar tudo.

Obviamente ele estava com medo de eu soltar a matraca. E olha que eu estava com a língua coçando. Concordei em ir na segunda-feira com o irmão dele até o lanterneiro da família. Que emoção! Agora eu conheceria toda a família Carvalhais.

No lanterneiro havia uma pequena comitiva, formada pelo irmão do pegador de traveco e cinco homens sujos de graxa, que tentaram desacreditar a minha história, mostrando que o Celta não tinha nenhuma batida. Eu pensando: “E eu quero lá saber de Celta? O que me interessa é o meu carro batido”. O acidente tinha sido duas semanas antes. Tranquilamente deu tempo de arrumar o carro e fingir que nada aconteceu.

O irmão talvez tivesse sido escolhido como representante da família porque falava alto. E grosso. E tinha um aperto de mão firme e sacolejante. Mas nada que pudesse intimidar Tio Didi. Ele ainda revelou que o pai tinha nove irmãos e que estava processando todos eles. Linda família com que resolvi me meter.

À noite liguei novamente para ver como resolveríamos aquela situação. Foi o pai quem atendeu. O senhor simpático tinha se transformado no capeta:

- Olha, esta nossa conversa está sendo gravada. Te aviso que, se você voltar a ligar aqui ou aparecer aqui na porta da minha casa, eu chamo a polícia. Você já está me importunando.

Se o que ele dizia era verdade, deu nitidamente a impressão de que eu era um psicopata. Porra, fui na casa do cara duas vezes só. E aquela era a terceira vez que eu ligava:

- Desculpe eu ligar a essa hora, mas me disseram que era o único horário em que eu encontrava seu filho em casa.

- Meu filho está dormindo na casa de um amigo.

Dormindo na casa do amigo? Jesus, tem pai que é cego mesmo. Esse aí camufla.

- E qualquer coisa que você quiser resolver, rapazinho, vai resolver comigo.

- Mas quem estava presente na batida era o seu filho. Ele já tinha assumido que bateu no meu carro.

- Olha, eu tenho um laudo da Chevrolet que comprova que nada no meu carro foi reparado.

Fiquei impressionado em como ele tinha arranjado um laudo da Chevrolet em menos de um dia. Não sei se o moleque arrumou o carro e o pai não sabe ou se o pai realmente estava acobertando o menino. Tudo que sei é que aquela era uma casa cheia de gente, mas não tinha nenhum homem. O interessante é que o tempo todo eu esperava o véio bater o telefone na minha cara, mas ele preferia bater boca comigo. E eu já não gosto, né? Acabei soltando a história dos travestis, eventualmente. O véio, sempre solícito:

- Olha, se você quer os seus direitos, vai na justiça. O fórum fica ali na Augusto de Lima.

- Tudo bem. O senhor pode aguardar.

Tentei convencê-lo de que tudo que puder evitar usar a justiça é preferível. Como não consegui, resolvi fazer sua vontade no dia seguinte. Fui ao endereço indicado por ele e me dirigi à atendente:

- Com licença, onde fica o Tribunal das Pequenas Causas?

- Não é assim que fala.

- Perdão?

- Não existe isso de Pequenas Causas. O que existe é o Juizado Especial das Relações de Consumo.

- Tá. Onde fica?

A mocinha me deu um endereço. Fui ao lugar indicado por ela. Lá, pedi informação a um moço de óculos escuros de frente para um computador, que sequer se mexeu. Pensei: “Moço, você é cego, não surdo”. Mas lá me deram um terceiro endereço, onde me pediram uma porrada de documentos. Não dá pra pensar em outra coisa a não ser que eles se esforçam ao máximo para fazer você desistir do processo. A própria mocinha que atendeu disse pra eu ligar pra ver se adianto minha audiência, já que sempre tem gente que desiste no meio do caminho. Tomara que eles aceitem boletim de ocorrência com círculo de café em cima.

E isso é tudo o que eu tenho da história, por enquanto. Mas já se percebe que a parte mais divertida está por vir. Ainda mais se usarem as conversas gravadas. Desde o início, eu pensei em deixar o caso de lado. Quem me conhece sabe que eu não estou nem aí de andar na rua com o carro todo batido. Sou porco, mesmo. Só estou seguindo em frente por causa da atitude idiota dos Carvalhais. E, se eu não ganhar (o que é muito provável), sempre se pode tacar uma pedra no vidro do carro.

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