segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu te amo

Ah, l’amour...O amor é uma coisa tão doce que dá vontade de comer. Tendo em vista a proximidade de uma das datas mais consumistas de que se tem notícia, o tema me veio à cabeça. Não me falha a memória, foram quatro pessoas com quem eu troquei as palavras que intitulam o presente texto. Pelo menos três delas estão casadas. Pelo menos uma tem até filho. Somadas às outras, acho que ao todo tenho pelo menos cinco exes casadas, sendo que pelo menos três delas se casaram imediatamente depois de terminar comigo. Quando digo imediatamente, digo semanas depois. É bem verdade que me livrei de uma fria. Você, mulher, quer se arrumar na vida? Namore comigo e, pouco depois, me dê um pé na bunda. Em questão de dias aparecerá seu príncipe encantado.
Isso mesmo; como o atento leitor pode notar, este humilde servo está passando por uma daquelas fases pela qual todo mundo passa quando se está só: Relembrar o passado e pensar coisas do tipo “o que eu tô fazendo de errado?” e toda aquela babaquice. Permita-me compartilhar com vocês algumas experiências:
Primeiro “eu te amo”: Eu tinha uma namorada que tinha a mania idiota de ficar me escrevendo cartinhas. Isso, apesar de eu ver ela pessoalmente com certa regularidade. Daí ela:
- E aí, gostou?
- Adorei, meu bem.
- E não vai responder não?
- Já disse que adorei.
- Mas eu te mandei uma carta. Você tem que me responder em forma de carta, também.
Oh, a mídia pela qual era dada a resposta era importante. Pfff! E ela estava realmente cobrando que eu escrevesse. Tudo bem, acabei exercitando um lado emocore que eu nem sabia existir. Um dia a menina me chega com duas cartas de uma vez. Mas me entrega somente uma:
- Olha, isso aqui é pra você ler só quando estiver dentro do ônibus, tá? E esta outra, hum...você vai ter que me convencer a te mostrar esta. Não sei se você está merecendo.
“Hum, o que seria um bom argumento para que ela me mostrasse a segunda carta? Quer saber? Acho que chegou a hora”.
- Eu...
Parei aí. Mas ela repetiu o “eu”, como que pra me ajudar a formular o pensamento.
- Te...
Parei de novo. Mas ela repetiu o “te”, como se estivesse ajudando um menino do maternalzinho a falar. Filha da puta já sabia o que eu ia dizer com antecedência.
- Amo.
O “amo” saiu miudinho, quase inaudível. E ainda abraçado, com vergonha de ela ver minha cara. E ela respondeu:
- Eu também te amo.
Na hora pensei: “Ela nem pensou no que disse; me pareceu resposta automática: ‘Eu te amo’, ‘eu também te amo’”. E eu estava tão nervoso que comecei a tremer igual uma véia reumática.
- Porque você está tremendo tanto?
- É o frio, beibe. É o frio.
Ela me entregou a segunda carta, que foi aberta assim que entrei no ônibus. A carta dizia, precisamente: “Blábláblá eu te amo blábláblá”. É, realmente não tinha sido apenas uma resposta automática.
Segundo “eu te amo”: Foi depois de uma briga. Se bem que, no dia anterior, ela tinha me dito um “eu te adoro”, devidamente respondido por mim com um “eu também te adoro”. “Adoro” é um “amo” sem muito constrangimento caso não haja uma resposta de igual valor. Tá mais para um “te considero pra caralho”.
A briga tinha sido uma crise de ciúmes quando ela descobriu que eu já tinha ficado com uma amiga dela, anos antes. Houve um pouco de cara amarrada, choro e tudo mais. Depois de brigar muito, a gente deita de conchinha e ela solta um “eu te amo”. Como mijar em volta só deve servir para os cachorros, essa foi a maneira encontrada por ela para demarcar território.
Parei uns segundos e pensei nas duas semanas que a gente tinha juntos. Finalmente respondi o aguardado “eu também te amo”, mas quer saber de uma coisa? Foi extremamente sincero. Com o tempo, fui descobrir que meu namoro com essa daí só tinha graça quando a gente brigava. Quando batemos o recorde de ficar dois meses sem brigar, terminamos.
Terceiro “eu te amo”: Acho que enrolei a interlocutora por quase seis meses antes de assumir um namoro. Pelo menos no início, sempre era ela que vinha atrás de mim. Tendo isso em vista, eu tinha a segurança de que poderia dizer um “eu te amo” a hora que quisesse que a resposta correspondente viria com certeza. Um dia, quando a gente tava deitado de conchinha, percebi que tinha chegado a hora. Então soltei:
- Você me ama?
- Olha, tô quase lá, viu?
- Bem, já eu, te amo.
- Hum, que bom.
Ui! Essa tinha sido na boca do estômago. Eu só tinha dito aquilo porque achei que era o que ela queria escutar. Achei que ela pensasse o mesmo, mas queria que eu dissesse antes para não fazer papel de trouxa. Então dei a deixa. Fui praticamente um Dedé Santana, servindo de escada.
De qualquer forma, a resposta veio. Um pouco atrasada, é verdade. Para ser exato, foram duas semanas de hiato entre a constrangedora cena descrita acima e sua devida resposta. Foi num buteco. Com a cara meio torta e o olhar de farol baixo, bebum, ela diz:
- Posso falar uma coisa?
- Pode.
- Mas você vai achar que é coisa de bêbada.
- Vou não. O que é?
- Eu te amo.
E disse isso balançando a cabeça para cima e para baixo, como que para confirmar a frase. No dia seguinte, enquanto comíamos patê com torradas, ela confirma:
- Agora que estou sóbria, posso repetir. Eu te amo.
- Tudo bem, eu já tinha dito que te amava também.
Quarto “eu te amo”: Esta, inclusive, foi interessante a primeira vez que trocamos saliva. A gente mal se conhecia e tinha ido ao cinema. Chegamos atrasados, então nem tivemos tempo de conversar direito. Eu nem prestei atenção no filme. Fiquei o tempo todo pensando que hora seria mais oportuna para agarrá-la. Acabou a sessão e ela:
- E aí? Gostou do filme?
Enfiei minha língua na garganta dela. Além de não ter respondido a pergunta, completei:
- Eu tava só esperando o filme acabar, beibe.
O “eu te amo” propriamente dito foi depois de um tempo de namoro, enquanto estávamos deitados de conchinha, vendo televisão. De uma hora para outra ela olha para mim e diz:
- Hum.
- Que foi?
- Hum.
- Tá doida?
- Eu amo o Didi.
Disse isso gritando. A frase veio um pouco diferente do que o usual, mas como Didi era eu, o espírito da mensagem foi o mesmo. Não me lembro se respondi na hora ou se foi depois.
Então é isso, pessoal. Pra finalizar, eu gostaria de mandar um recado para você que encontrou uma pessoa especial na sua vida. Alguém com quem trocar as palavras que intitulam o texto e, lógico, trocar presentes no próximo dia 12: Vai tomar no meio do seu cu.

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