segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Estatuto do idoso? Pode enfiar no seu cu

Bem, aqui está a primeira parte da história. Para não deixá-la sem conclusão, eis o que aconteceu depois:
Nós paramos em eu precisando arranjar uma porrada de documentos para dali três semanas. Primeiro, eu precisava dos orçamentos de três oficinas diferentes. Separei uma gostosa manhã de agosto e dei uma passeada pelos lanterneiros do bairro. Também passei no supermercado, mas isso não tem nada a ver. Para melhor poder de escolha, fui em cinco oficinas. Nuuu! Metade falou que dava para recuperar a peça; metade falou que teria que se comprar um nova. Aos que falaram que dava para recuperar, eu disse:
- Dá pra fazer um orçamento com peça nova também?
Eles queriam me ajudar. Deram preços camaradas e tudo mais, mas eles não entendiam que meu objetivo não era qualidade ou preço, mas sim de fuder os Carvalhais. Com areia. Podiam até fazer um serviço porco, mas desde que saísse bem caro. Eu ainda fui um jegue de não ter ido em mecânica autorizada.
Os preços variavam muito. Iam de R$200,00 a R$500,00. É isso mesmo, essa briga toda foi por causa dessa picuinha. Além dos orçamentos, eu precisava de uma porra chamada “print”, que eu nem sabia o que era, mas que tinha que pagar dez conto por ela. Fui à delegacia do Detran pegar o tal “print”.
Quem me atendeu era um cara usando luvas amarelas e uma calça bege. Largou a vassoura para me atender. Imprimiu uma folha com os dados e endereço da pessoa que bateu no meu carro. Dez conto por isso. Interessante. Era isso que eu deveria ter feito desde o início ao invés de ficar procurando o cara no Orkut. Fica a lição. Um cara da delegacia parabenizou o faxineiro pelo trabalho. Fiquei feliz em ver a seriedade com que a polícia trabalha.
Documentos em mãos, algumas semanas depois voltei ao tribunal. Uma mocinha sorridente conferiu os documentos e me falou que o orçamento que ia valer seria o mais baixo dos três que apresentei. Sacanagem. Eu sou obrigado a levar meu carro num mecânico barato? A audiência foi marcada para dali um mês:
- E chegue meia hora mais cedo, senão o juiz vai achar que você desistiu e vai te cobrar uma taxa de R$30,00.
- Ui!
Nossa. Até o dia da audiência, teria feito dois meses que a batida tinha acontecido. O próprio acusado já teria se esquecido de tudo: “Mas hein? Eu bati num carro é?”. Mas tudo bem, agora eu tinha pretexto para faltar um dia de trabalho. Deixaria meus alunos vendo uma reprise de Trânsito Muito Louco.
Muito bem, eu ainda precisava de uma testemunha do ocorrido. A pessoa não precisava necessariamente estar no local na hora do acidente. Só precisaria saber da história. No dia da audiência passei no trabalho do meu irmão e o levei comigo. No caminho, fui repassando com ele todos os acontecimentos do fatídico dia:
- Nós estávamos saindo de um bar ali perto, mas eu não bebi nada, pois ia dirigir. De repente nós vimos aquela máquina infernal...
Chegamos vinte minutos antes. É meio esquisito eles fazerem as partes acusadas e acusadoras ficarem meia hora esperando no mesmo corredor. Todos calados e se comendo com os olhos. Os minutos não passam com esse clima tenso. Algum tempo depois somos chamados para uma salinha com dois mediadores. Porém somente eu e meu irmão entramos. Vendo que Diogo era eu, um dos mediadores se vira para meu irmão:
- Você é o Jeovany?
Eu respondo:
- Não, este é meu irmão Leonardo. A dona Jeovany deve estar lá fora ainda.
- Ah! Jeovany é mulher?
- Pois é menina. Eu também fiz a mesma confusão.
Pouco depois na salinha nos encontrávamos eu, meu irmão, o patriarca e a matriarca dos Carvalhais, além dos dois mediadores, que eram as pessoas mais jovens dali. Legal: Estagiários. Mas tive um bom sinal. Um deles se chamava Diogo. Lindo nome. Quem sabe ele não tome meu partido, pelo bem da classe dos Diogos? Afinal de contas, ele entende as agruras de ser um Diogo no atribulado mundo moderno. Diogo virou-se para mim e disse:
- Pois bem, Diogo, me conte o que aconteceu naquele dia.
- Olhe Diogo, o que aconteceu foi o seguinte...
Depois de relatado o mesmo caso pela 15ª vez, Diogo (mediador) virou-se para seu José Carvalhais:
- O senhor confirma a história?
- Não. Primeiramente porque eu tenho provas de quem estava dirigindo o carro dele era uma mulher. E aqui está um laudo mecânico mostrando que não há nenhuma batida no meu carro. Eu sou uma pessoa muito íntegra e correta com as minhas coisas...
Confesso que fiquei receoso de ele mostrar ali um print screen do que eu tinha relatado neste blog. Vai que ele me pesquisou do mesmo jeito que eu o pesquisei? O velho tremia horrores enquanto tentava falar. Fiquei com medo de ele ter um troço ali mesmo. Medo de ele ir pro hospital e eu ficar sem meu dinheiro. Eu disse “tentava” falar, porque enquanto ele se explicava, eu me divertia interrompendo-o o tempo todo:
- O senhor tá se enrolando todo aí...onde ta escrito nesse papel aqui que quem estava dirigindo meu carro era uma mulher?...o senhor tá se enrolando todo...cadê o laudo da Chevrolet que o senhor falou que tinha?...e por que o seu filho não está aqui?...tá se enrolando todo...
- Meu filho não está aqui porque não foi intimado.
Essa é boa. Ele também não havia sido intimado e, no entanto, estava lá. E dizer que tinha laudo da Chevrolet era bem diferente de ter laudo do mecânico amigo de buteco. O mais legal é que nenhum de nós entendeu que aquilo era apenas uma audiência de conciliação. Falávamos como se estivéssemos na frente de um juiz. Não me lembro do nome da outra mediadora. Ela virou-se para seu Zé:
- Peraí, eu não estou entendendo. Como o senhor alega que quem estava dirigindo o carro dele era uma mulher, se não houve batida?
Realmente. Meu carro estava sendo dirigido por uma mulher na hora em que o que aconteceu? Nada? Até então nem eu nem ele tínhamos prova de que tinha ou não acontecido uma batida. Mas o velho escorregou nessa daí.
No dia da batida, Viviana era quem tinha descido do carro, agitando os braços, aos gritos de “filho da puta”. Daí talvez tenha vindo a confusão. Bem, também já sabíamos que o filho daquele senhor não sabia diferenciar muito bem homem e mulher. Mas eu, burramente, ao invés de deixar o velho se enrolar sozinho, não me agüentei e disse:
- Você não vê que esse véio tá mentindo?
Pra que? Seu José se inflamou de verdade, tremendo igual uma gelatina:
- Olha, você me respeite. Eu sou protegido pelo estatuto do idoso. Aqui não tem moleque não.
Claro que ali não tinha moleque. Exatamente por isso eu o tinha chamado de “véio”. Inflamamo-nos tanto que foi necessário que policiais entrassem na sala e interviessem:
- Olha, aqui todo mundo tem nome. Vamos chamar o outro pelo nome. Se vocês não se acalmarem, a gente vai ter que levá-los para uma outra salinha.
Vendo a bola de neve em que aquilo poderia se tornar, tratei logo de pedir desculpas. Mas seu José fez questão de mencionar o estatuto do idoso mais umas três vezes para mim, para os mediadores, para o policial. E eu:
- Estatuto do idoso? Você pode enfiar ele no seu cu.
Não disse isso em voz alta, mas repeti mentalmente diversas vezes. Afinal de contas, qual era o problema de eu ter falado aquilo? Ele era mesmo velho e estava mesmo mentindo. Seria mais correto eu chamá-lo de “rapazinho”? Aquele cara era cheio de amparos jurídicos furados: Era conversa telefônica gravada, era laudo da Chevrolet, era o estatuto do idoso...A mediadora, vendo que não ia ter como entrar em acordo:
- Olha, a dona Jeovany terá quinze dias para apresentar uma defesa. Depois disso, você Diogo terá mais dez dias para impugnar esta defesa, o que nada mais é do que você tem feito até agora. Aí sim vocês irão para a juíza.
Conte comigo: Contei a história na polícia, para fazer a ocorrência. Depois a contei quando fui à casa dos Carvalhais tentar um acordo. Depois a contei quando fui no tribunal dar início no processo. Depois a contei aqui no blog. Depois a contei no dia em que entreguei os documentos necessários. Depois a repassei em detalhes com meu irmão, no carro. Depois a contei na audiência. Tudo isso fora as vezes em que tive que repetir a história para meus amigos.
Eu já estava ficando com saco cheio daquilo. E ainda iam marcar outra audiência para dali mais um mês. Dona Jeovany desde o início queria um acordo. E o seu José, ainda querendo manter a pose, mas desistindo:
- Olha, eu queria ir para a justiça, mas já que a minha mulher quer fazer acordo, vamos fazer esse troço aí de uma vez.
Fiquei decepcionado. Teria sido divertido ver aquele senhor se enrolando na frente da juíza. No início eu queria resolver tudo amigavelmente. Mas aquele velho tinha me deixado sedento por sangue. Como eu não tinha conta no banco, liguei para minha mãe para pedir o número da conta dela. Vendo que tudo estava perdido, dona Jeovany, que estava se segurando até então, começou a soltar:
- Olha, filho é uma desgraça. Eu tenho três. E todos eles só me dão trabalho. Sai na rua e dirige bêbado. Quando eu chegar em casa, ele vai levar um coro. Hoje em dia, eu vejo uma menina grávida, eu nem dou os parabéns. Eu dou meus pêsames.
Eu ouvindo aquilo tudo e segurando o riso. A mediadora:
- Desconta da mesada dele.
Haha, muito foda. Depois de tudo resolvido, eu e meu irmão fomos embora. Na saída, o policial sorri para a gente:
- Olha o estatuto do idoso, hein?
Nossa. O cara ficou o tempo todo do lado de fora só esperando para fazer a gracinha. Olhei para o relógio:
- Merda! Ainda dá tempo de dar mais duas aulas hoje.
Mas quer saber? Eu estava emocionalmente abalado. Melhor ir para casa e passar o resto do dia de folga. Ainda dava para ver Seinfeld. Quer saber mais uma coisa? Eu nem vou consertar meu carro. Vou embolsar tudo. Aliás, talvez eu nem pegue esse dinheiro na conta da minha mãe. Pode ficar para ela, como pagamento por todos os anos em que me criou. O meu objetivo era apenas tirar dinheiro daquele povo. E te digo que torço para que não paguem. Aí terei pretexto para voltar à justiça. Gostei da coisa. Quero fazer de novo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Juro que o texto depois deste será de minha autoria

Muitos reclamaram dos textos de autores anônimos que tenho colocado aqui. Tudo bem, foi só o Édio (que, por sinal veio até meu lar duas vezes só para falar isso). Isso denuncia preguiça e falta de criatividade minha? Com certeza. Mas pelo menos eu tô postando qualquer merda. O texto seguinte eu achei semana passada, quando procurava o do Los Hermanos. Não pude deixar de postar, já que tem a ver comigo. Como várias pessoas, ele menospreza minha profissão. Aparentemente, os dois textos não são anônimos, mas sim de uma pessoa que assina como Adolar Gangorra (acho que era pra ser algum trocadilho, mas eu não entendi). Gostei também da análise que ele fez da música Eduardo e Mônica, que até virou peça de teatro.


A maior parte dessa juventude formidável de hoje em dia ao completar 18 aninhos deseja avidamente possuir a famosa Carteira Nacional de Habilitação. É o que se convencionou chamar de "tirar a carteira"! Mas que expressão mais feia e inadequada, minha gente! Tirar a carteira é coisa para trombadinhas! Quando se fala em tirar a carteira lembramos logo também do nosso valoroso Detram - Departamento Nacional de Trambiques. Então, deixemos isso para esses dois profissionais do ramo, não é mesmo?
Para estar de acordo com a lei e poder rodar tranqüilão, tranqüilão por aí com a sua caranga esperta, você é obrigado a pagar umas seis taxas diferentes para poder fazer uma provinha escrita e outra prática e pronto: o Detram nesse caso, é obrigado a soltar a sua carteira (as duas, é claro!)
Alguns sem tanta intimidade com os mistérios automobilísticos se matriculam nas incríveis Auto-Escolas para poderem aprender tudo sobre, por exemplo, o motor a explosão, a ultrapassagem na banguela na chuva e o suborno. É na Auto-Escola, esse lugar excitante e intelectualizado, onde o pupilo entrará com o mundo maravilhoso do trânsito, essa verdadeira harmonia em movimento onde o ser humano revela seu lado mais evoluído e espiritual. Mas para que o aluno não entre em contato físico demais com esse universo que supostamente existe a figura do Instrutor de Auto-Escola. Quem, um dia na vida, não sonhou em exercer essa soberba profissão? Entretanto só alguns poucos privilegiados apresentam qualidades para serem um Instrutor: calma, bom senso, habilidade e tendência suicida severa.
E para você ir tendo uma idéia do que vai encontrar quando for atrás de sua habilitação,
http://www.adolargangorra.com.br/ milagrosamente conseguiu descolar a próxima prova escrota, digo, escrita para motoristas. Basta dar uma olhadinha nela, logo aí abaixo, ou então é só passar no Detram que eles fazem um precinho camarada para você também.
É isso aí, futuros motoristas! Mão no bolso e pé na tábua!

Questão 1
Ao conduzir seu veículo, o motorista deve evitar:
a) Conduzir outro veículo
b) Falar no celular na hora do almoço (é muito mais caro!!!)
c) Entrar no próprio porta-malas
d) Contato com grupos de risco: táxis, ônibus e mulheres
e) Cagar

Questão 2

O sistema elétrico de um automóvel é composto basicamente pelas seguintes peças:
a) Bateria, baixo e guitarra
b) Lâmpada, fio e tomada
c) Próton, elétron e nêutron
d) Farol alto, farol baixo e acendedor de cigarros
e) Não existe sistema elétrico em automóveis. Essa questão é uma pegadinha discriminatória para nós mulheres

Questão 3

Ao ver uma placa com a inscrição PARE, você deve:
a) Afundar os dois pés no acelerador
b) Achar que é um desenho bem bonito pois você não sabe ler
c) Largar essa pinga maldita de uma vez por todas
d) Acordar da soneca que você está tirando
e) "Vai que dá! Vai que dá!"

Questão 4

O motorista deve mudar de faixa quando:
a) Não tiver muito a fim de colidir com a betoneira logo a frente
b) A música for meio merda
c) Estiver lutando melhor
d) Achar que está ficando difícil dirigir na calçada
e) Quiser devolver a fechada naquela coroa imbecil do BR-800

Questão 5

Identifique a seguinte placa:



a) Elton John na pista
b) Faculdade de teatro a 500 metros
c) Uuuuuuuuuui!

Questão 6
A placa abaixo significa:



a) Área de seqüestros
b) Macauley Culkin e Michael Jackson na pista
c) Ai meu braço, porra!

Questão 7
Que placa é essa?



a) Lego gigante na pista
b) Bacteriana
c) Você acaba de se perder

Questão 8
Esta placa quer dizer:




a) Lula e seu whisquinho na pista
b) Cigarro acesso perdido no carro
c) "Nove, nove, oito, cinco..."

Questão 9
Aponte a afirmativa correta:



a) Bienal de São Paulo na pista
b)"Ei, papai, estão cagando na gente!"
c) Era só para apontar, idiota, e não para riscar nada!

Questão 10
Indique o significado correto dessa placa:



a) Itamar Franco na pista
b) Carro flutuando ao lado de um triângulo retângulo
c) A volta do fuscão preto

sábado, 5 de setembro de 2009

Como me fudi no show do Los Hermanos

Continuando a série com autores anônimos da internet, aqui vai um texto que li a uns cinco ou seis anos atrás:

Voltei para o Brasil há pouco tempo. Vivia com minha família na Inglaterra desde garoto. Estou morando no Rio de Janeiro há uns três meses e agora estou começando a me enturmar na Universidade. Não sei de muita coisa do que está rolando por aqui, então estou querendo entrar em contato com gente nova e saber o que tá acontecendo no meu país e, principalmente, entrar em contato umas garotas legais, né?

Mas foi meio por acaso que eu conheci uma menina maneiríssima chamada Tainá. Diferente esse nome, hein? Nunca tinha ouvido. Estava procurando desesperadamente um banheiro no campus quando vi uma porta que parecia ser a de um. Na verdade, era o C.A. da Antropologia. A garota já foi logo me perguntando se eu queria me registrar em algum movimento estudantil de não sei lá o que. Que bacana! Que politizada ela era! E continuou a me explicar a importância de eu me conscientizar enquanto enrolava em beque da grossura de uma garrafa térmica. Pensei em dizer que estava precisando cagar muito rápido, mas ela era tão gata que eu falei que sim. Tainá: cabelos pretos, baixinha e com uma estrutura rabial nota dez… Aí, acho que ela me deu um certo mole… Conversa vai, conversa vem, ela me chamou para um show de uma banda naquela noite que eu nunca tinha ouvido falar: Loser Manos. Nome engraçado esse! Estava fazendo uma força sobre-humana para manter a moréia dentro da caverna, mas realmente tava foda. Continuamos conversando e rindo. Ela riu até bastante, mas eu, na verdade, tava mesmo rilhando os dentes porque assim ficava mais fácil disfarçar as contrações faciais que eu estava tendo ao travar o meu cu para não cagar ali mesmo na frente dela.

Pensando bem, eu tinha ouvido falar sim alguma coisa sobre essa banda lá na Europa ainda, mas não lembro bem o quê. Ah, acho que vi esses caras hoje no noticiário local dando uma entrevista. Achei que fosse uma banda de crentes tradicionalistas tipo Amish.Todos de barba, com umas roupas meio fudidas. Parecia até a Família Buscapé! Dão a impressão de ser uns sujeitos legais, mas o que me chamou a atenção mesmo foi o jeito da repórter, como se fosse a fã nº 1 deles, como se estivesse cobrindo a volta do Beatles ou coisa parecida. Não entendi esse jeito “vibrão” de trabalhar. Bom, mas se eu conseguir ficar com o bicho bom da Tainá hoje à noite, já tô no lucro! Marcamos de nos encontrar na entrada do ginásio. Rapaz, acho que tô dando sorte aqui no Brasil!

Ia ser fácil achar essa garota no meio da multidão. Ela se veste de uma maneira estilosa, diferente, bem individual: sandália de dedo, saia indiana, camiseta de alça, uma bolsa a tiracolo e o mais interessante: um óculos retangular, de armação escura e grossa, engraçado até! Depois de uns mil “Desculpe, achei que você fosse uma amiga minha.”, finalmente encontrei Tainá e seu grupo de amigos. Cacete, isso sim é que é moda! Parecia uniforme de escola!

Ela me apresentou suas amigas, Janaína e Ana Clara e seus respectivos namorados, Francisco e Bento. Uma mistura de fazendeiros com intelectuais. Um cara de macacão, de sandália de pneu e com ar professoral. Outro de colete, tênis adidas, óculos e também com ar professoral. Pareciam ser legais, “do bem” como eles mesmo falam… Mas que não me deram muita conversa. “Do bem”, isso mesmo! Gíria nova… Todos aqui são “do bem”. E que nomes tão simples e idílicos! Janaína, Ana Clara, Francisco, Bento e Tainá. Nada de Rogérios ou Robertos. E eu que já tava me sentindo meio culpado por me chamar Washington… Realmente estava no meio de uma nova época da juventude universitária brasileira!

Comecei a conversar com a Tainá antes que a banda entrasse no palco. Aí… acho que tá rolando uma condição até! Quem sabe posso me dar bem hoje? Ela começou a falar de música: “De quem você é fã?”, perguntou. Pô, eu me amarro no George…” Ela imediatamente me interrompeu, dizendo alto: “Seu Jorge? Eu também amo o Seu Jorge!” Puxa, que legal! Ela gosta tanto do George Harrison que se refere a ele com uma intimidade única! Chama ele de “Seu”! Seu Jorge! Isso é que é fã! “Legal você já conhecer ele, hein? Eu sabia que ele ia se dar bem na Europa! O Seu Jorge é um gênio!” , ela emendou. Pô, eu morava na Inglaterra. Como eu não ia conhecer o George Harrison?

Essa eu não entendi…

Depois ela perguntou quais bandas que eu gostava. “Eu curtia aquela banda da Bahia…”.

“Ah, Os Novos Baianos, né?? Adoro também!” “Não, Camisa de Vênus! “Silvia! Piranha!” cantei, rindo. A cara que ela fez foi de quem tinha bebido um balde de suco de limão com sal. Senti que ela não gostou muito da piada. Tentei consertar: “Achava eles engraçados, mas era coisa de moleque mesmo, sabe?” Óbvio que não funcionou… Aí, acho que dei um fora…

Depois, Tainá foi me explicando que o tal Loser Manos é a melhor banda do Brasil, etc., etc., etc., e que eles “promovem um resgate da boa música brasileira”. “Tipo Os Raimundos com o forró?”, perguntei. “Claro que não!”, disse ela meio exaltada! Ela me falou que não se pode comparar os Los Hermanos com nada porque “eles são únicos”, apesar de hoje existirem excelentes artistas já reverenciados pela mídia do Rio de Janeiro como Pedro Luis e a Parede, Paulinho Moska, O Rappa, Ed Motta, Orquestra Imperial, Max de Castro, Simoninha e Farofa Carioca. Ela mencionou também “Marginalia” ou coisa parecida. Foi isso mesmo que eu ouvi? Achei que ela estivesse elogiando eles… Esses foram os nomes artísticos mais escrotos que já tinha ouvido, mas fiquei quieto. Fico feliz em saber sobre essa nova onda musical pois quando sai do Brasil o que fazia sucesso no Rio era Neuzinha Brizola e seu hit “Mintchura”. Ainda bem que tudo mudou, né?

Só depois percebi que o nome da banda é em espanhol: Los Hermanos. Ah bom! Mas se eles são tão brasileiros assim porque não se chamam “Os Irmãos”? Quando saí daqui os nomes de muitas bandas costumavam ser em inglês e até em latim. Ainda bem que essa moda de nomes de bandas em espanhol não pegou no Brasil!

Pelo que me lembro, ao explicar qual é a dos “Hermanos”, ela usou a expressão “do bem” umas 37 vezes e disse que eles falam de romantismo, lirismo, samba e circo. Legal, mas circo? Pô, circo é foda! Uma tradição solidificada nos tempos medievais que ganha dinheiro maltratando animais. Onde está a poesia de ver um urso acorrentado pelo pescoço tentando se equilibrar miseravelmente em cima de uma bola enquanto é puxado por um cara com um chicote na mão? Rá, rá, rá… Engraçado pra caralho! Na boa, circo é meio deprimente. Palhaço de circo só troca tapão na cara e espirra água nos olhos dos outros com flor de lapela e quando sai do picadeiro, vai chorar no camarim. Que merda! A única coisa legal no circo mesmo é quando ele pega fogo! Isso sim que é um espetáculo de verdade! Aquela correria toda, etc. Senti que essa galera se amarra em circo. Não faz sentido se eles são tão politicamente corretos assim, né? E os pobres animais? E eu querendo não passar em branco na conversa com a Tainá, mas não conseguia lembrar de jeito nenhum a única coisa que eu sabia sobre a banda… Cacete…! O que era mesmo?

De repente, uma gritaria histérica! O show tava começando! O ginásio veio a baixo! Perguntei pra ela: “Eles são todo irmãos, né, tipo o Hanson?” Ela disse um “não” esquisito, como se eu tivesse debochando. Todos eles usam uma barba no estilo Velho Testamento e se chamam “Los Hermanos”! O que ela queria que eu pensasse? Após ouvir a primeira música deu pra ver que os caras são profissionais mesmo, tocam muito bem e são completamente idolatrados pelo público, para dizer o mínimo. Fiquei prestando atenção ao show. Pô, as músicas são boas! Dá pra ver uma influência de Weezer, Beatles e Chico Buarque. Esse aí é fodão, excelente compositor mesmo. Lá na Inglaterra conhecia uns caras que eram ligados ao movimento “Dark”, como chamam por aqui. São os sujeitos que gostam de The Cure, Bauhaus, Sister of Mercy, etc. E tem a maior galera aqui no Brasil também que se veste de preto, não toma sol, curte um pessimismo niilista e se amarra nessas bandas. Mas se eles sacassem que o Chico Buarque é o genuíno artista “Dark” brasileiro… Pô, é só ouvir as músicas dele pra perceber: “Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego” ou “O tempo passou na janela é só Carolina não viu”. “Pai, afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue” ou “Taca pedra na Geni, taca bosta na Geni, ela é boa pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni”. Tudo alegrão, né? Se eu fosse dark, só ia ouvir Chico Buarque, brother!
Tentei reengatar a conversa dizendo que achava ao baixista o melhor músico dos Los Hermanos. Ela respondeu, meio irritada: “Mas ele não é da banda!” Como eu ia saber? O cara tem barba também! Aí, não tô entendendo mais nada…

Adiante, ela me disse que o cara que ela mais gostava na banda era um tal de Almirante. Depois de alguns minutos deu pra ver que o camarada imita um pouco os trejeitos do Paul McCartney, só que em altíssima rotação. Ele fica se contorcendo feito um maluco enquanto os outros ficam estáticos. É engraçado até! Parece que ele tem uma micose num lugar difícil de coçar! E fica falando e rindo direto. Ele é o irmão gaiato do cara que canta a maioria das músicas, o tal de Marcelo Campelo, como anunciaram no noticiário local hoje. Isso mesmo, Marcelo e Almirante Campelo: “Os Irmãos”! Legal! Já tava me inteirando! Ah, e tem também dois gordinhos de barba que estão lá também, mas devem ser filhos de outro casamento…

Tava um calor desgraçado, coisa que eu realmente não estou mais acostumado. Fui rapidão ao bar pra beber alguma coisa. Comprei umas quatro latas de refrigerante que era o único troço que tava gelado para oferecer para meus novos amigos: “Aí, trouxe umas coca-colas pra vocês!” Ouvi a seguinte resposta: “Coca-Cola? Isso é muito imperialista… Guaraná é que é brasileiro!” Puxa, que pessoal politizado… Isso mesmo, viva o Brasil! “Yankees, go home”, rá, rá! Outro fora que eu dei! Mas, pensando bem, eles não usam o Windows e o Word pra fazer trabalhos da universidade? Ou usam o “Janelas”? Dessas coisas gringas não é tão mole de abrir mão, né? Mais fácil não tomar Coca-Cola! Isso sim que é ativismo estudantil consciente! Posicionamentos políticos à parte, tava quente pra burro, então bebi tudo sob o olhar meio atravessado de todos eles… fazer o quê?

Lá pelas tantas, começou uma música e todo mundo berrou e pulou. Parecia o fim do mundo. Logo nos primeiros acordes, reconheci o som e falei pra Tainá: “Ah, eu sei o que é isso! É um cover do Weezer! Me amarro em Weezer!” Ela olhou pra mim com uma cara indignada e disse: “Que Weezer o quê? O nome dessa música é “Cara Estranho”. Já vi que não gostou de novo… Mas quem sou eu pra dizer algum coisa aqui, né? Porra, mas que parece, parece! Mas o que era mesmo que eu não consigo lembrar de jeito nenhum sobre eles? Acho que conheço alguma outra música deles… Só não consigo dizer qual…

Sabia que se eu quisesse me dar bem logo com a Tainá teria que ser entre uma música e outra pois parecia que ela estava vendo um disco voador pousar enquanto os caras tocavam. Resolvi fazer uma piada pra descontrair, que sempre rola em shows. Quando o Campelo tava falando alguma coisa qualquer, berrei: “Filha da putaaaaaaaaaa!” Pra que? Tainá e sua milícia hermanista me deram uma cutucada monstra na costela que me fez enxergar em preto e branco uns 5 minutos! Pô, todo show alguém grita isso! É quase uma tradição até! Eu me amarro no cara! E é só uma piada! Aí, esse pessoal leva tudo muito a sério! Caralho… Pensei em pegar uma camisinha da minha carteira e fazer um balão e jogar pra cima, como rola em todo show, pra mostrar pra Tainá que eu sou uma cara consciente, tipo: “Aí, Tainazão, se tu se animar, eu tô preparado!”, mas depois dessa vi que senso de humor não é o forte dessa galera…

O tempo tava passando e nada de eu ficar com minha nova amiguinha. Quando fui tentar falar uma coisa no ouvido dela, foi o exato momento em que começou uma outra música. Foi aí que a louca deu um grito e um pulão tão altos que eu levei uma cabeçada violenta bem no meio do meu queixo! Ela não sentiu nada, óbvio, pois estava em transe hipnótico só por causa de uma canção sobre a beleza de ser palhaço ou lirismo do samba ou qualquer outra coisa do gênero. A porrada foi tão forte que eu mordi um pedaço da língua. Minha boca encheu d´água e sangue na hora. Enquanto eu lutava pra não desmaiar, instintivamente enfiei a manga da minha camisa na boca pra estancar o sangue e não cuspir tudo em cima de Ana Claudia e Jandaína or something. Só que estava tão tonto com a cabeçada que tive que me segurar em uma ou outra pessoa pra não cair duro no chão. Foi quando ouvi: “Nossa, que horror! Lança-perfume! Esse playboy tá doidão de lança! Que decadência…” Lança-perfume? Cara, lógico que não! E mesmo que tivesse, todo show tem isso! Mas nesse, não pode. É “do bem”. É feio ter alguém cheirando loló!! Pô, todo show que eu fui na vida tinha alguém movido a clorofórmio. Aqui, não. Que merda…

Babei na minha camisa até o ponto dela ficar ensopada! Fui ao banheiro tentar me recuperar do cacete que tomei. Lavei o rosto e tirei a camisa. Quando voltava passei por uma galera e ouvi resmungarem alguma coisa do tipo: “…e esse mala aí sem camisa…” Porque não se pode tirar a camisa num show? Isso aqui não é só uma apresentação de uma banda? Parecia que eu ainda estava na Europa! Regulões do caralho… E, afinal, o que significa “mala”?

Estava enxergando tudo embaçado e notei que minhas lentes de contato tinham saltado pra longe com a cabeça-aríete de Tainá e esmagadas por centenas de sandálias de dedo. Lembrei que sempre levo um par de lentes extras no bolso. É uma parada moderna que eu achei lá em Londres. Um estojo ultrafino com uma película de silicone transparente dentro que mantém as lentes umedecidas e prontas para uso. Abri o estojo e peguei cuidadosamente a película com as duas mãos e elevei-a contra a luz para conseguir achar as lentes. Estiquei os polegares e indicadores, encostando uns nos outros, para abrir a película entre esses dedos. Balançava o negócio levemente, de um lado para o outro, contra a pouca luz que vinha do palco para conseguir localizar as lentes. Não estava enxergando nada direito! Quando tava lá com as mãos pra cima, fazendo uma força absurda pra achar as lentes, um dos caras legais com nomes simples, me deu um puta safanão no ombro. É claro que o silicone voou longe também… Caralho, minhas lentes! Custaram uma fortuna! Que filho da puta! “Que sinal é esse que tu fazendo aí, meu irmão? Tá desrespeitando as meninas?”
“Que sinal?? Que sinal??”, respondi, assustado!
“De buceta, palhaço!”, apertando o meu braço que nem um aparelho de pressão desregulado. “Você tá no show do Los Hermanos, ouviu? Los Hermanos! Ninguém faz sinal de buceta em um show do Los Hermanos, sacou?”, gritou o tal hipponga na minha cara.

Que viado, eu não tava fazendo nada! Parecia uma freira de colégio! Que lance é essa de buceta? Da onde esse prego tirou isso? As meninas… (Perái! Menina? A mais nova aí tem uns 25!) ficaram me olhando com a cara mais escrota do mundo! A essa altura, já tinha percebido que não ia agarrar a Tainá nem que eu fosse o próprio Caetano Veloso! “Bento”, que nome mais ridículo… Isso aqui é um show ou uma reunião de alguma seita messiânica escolhida para repovoar a Terra?

Caramba, que noite infernal! Tava com a língua sangrando, sem enxergar direito, só de calça, arrotando sem parar e puto da vida porque só tinha aceitado vir aqui por causa de mulher. Estava no meu limite. Isso era um show ou uma convenção do Santo Daime? Que patrulhamento! E, de repente, vejo Tainá e seus amigos olhando pra mim atravessado e cantando a seguinte frase: “Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?” Aí foi demais! Eu me atrevo: Ritmo, melodia e harmonia. Pronto, só isso! Mais nada! Olha só: foda-se o samba, foda-se o circo, foda-se a obsessão por barba da família Campelo e, principalmente, foda-se essa galera “do bem” que está aqui!”

Apesar de tudo, a banda é realmente excelente! O que incomoda mesmo é esse público metido a politicamente correto e patrulhador e a imprensa que força a barra pra vender alguma imagem hipertrofiada do que rola de verdade. Esse climão de festival antigo de música popular brasileira, daqueles com imagens em preto e branco, com todo mundo participando, que volta e meia reprisam na tv, tudo lindo e maravilhoso. “Puxa vida, um novo movimento musical brasileiro!”? “Estamos realmente resgatando a nossa cultura!” ? Que exagero… Ei, é só música pop! MÚSICA POP!

Caralho, finalmente lembrei! Eu conheço uma música deles! Ouvi em Londres!
Numa última tentativa de salvar meu filme com Tainá, na hora do bis, berrei bem alto: “TOCA ANA JULIA!” Só acordei no hospital. Tomei tanta porrada que vou ter que fazer uma plástica pra tirar as marcas de pneu da minha cara! Fui pisoteado! Neguinho ficou puto! Qual é o problema com essa música? Me lembro de estar sendo chutado pela elite dos estudantes universitários brasileiros e da própria Tainá, gritando e me dando um monte de bolsadas na cabeça! Que porra louca! Tentaram me linchar! Ofendi todo mundo! Pô, Ana Julia é uma música boa sim! É um pop bem feito! Se não fosse, o “Seu Jorge” Harrison não teria gravado, né? Se ele não entende de música, quem entende? Me disseram depois que o tal Campelo se retirou do palco chorando, magoado, e o outro irmão mais novo dele, o nervosinho que imita o Paul McCartney, pulou do palco pra me bicar também. Do bem? Do bem é o cacete…

Aí, sinceramente, ainda prefiro o show do Camisa de Vênus…

sábado, 29 de agosto de 2009

Texto que circula na internet atribuído a mim

Estava eu desconfiado de que este blogue tinha mais de um ano de criação. Pesquisei. Era verdade: Fez um ano a uma semana, dia 22 de agosto. E ninguém lembrou de cantar "parabéns pra você" pra mim. Um ano e 29 postagens ao todo. Postagens estas que estão se tornando cada vez mais raras, infelizmente. E olha que nem todas eram textos, textos de verdade. Mas tem gente menos frequente do que eu por aí. Bem, a maneira mais óbvia de se comemorar a data, logicamente, é postando o texto de outra pessoa. Abaixo segue um texto que circula na internet de autor desconhecido. Imagino que metade dos meus leitores já o tenha lido, já que umas três pessoas diferentes o mostraram para mim. E me perguntaram se, por acaso, não era um texto meu usando um pseudônimo. Eu mal escrevo pro meu próprio blogue. Vê se eu vou escrever coisas por aí sem levar o crédito. O estilo é parecido com o deste humilde servo, mas acho que não cheguei no nível de escatologia/putaria do anônimo autor. Ainda tenho que comer muito feijão para isso. Mas, enfim, estou aqui para apresentar o texto para os outros três leitores do blogue:
Sinceridade: não sou do tipo que chama atenção pelo porte físico ou coisa parecida. Já passei dos quarenta, meus cabelos me abandonaram há uns sete ou oito verões e minha protuberante barriga denotam o grande sucesso que tive na arte de comer e beber. Minhas rugas procedem da total falta de credibilidade em protetor solar (esse troço não é coisa de homem sério!) aliada a centenas de noites que fiquei sem dormir na expectativa de não ir para casa sozinho. Bom. Esse sou eu. Ainda bem que para caras como eu (porra, tem um monte desses por ai!) existem os desmanches.
O que é um desmanche? Sinceridade: na mesma proporção de caras como eu, existem mulheres com características semelhantes. Se não são carecas, tem cabelos mal cuidados, se a barriga não é tão grande quanto a minha, tem lá aquela coisa instalada ali na frente. Ruga, então? Puta que pariu! Não quero falar disso. Voltando ao assunto, um desmanche é um local onde se tem música, bebida, um globo vagabundo rodando no teto, banheiro mal cuidado, etc. O local tem que ser escuro porque, sinceridade: com muita luz acho que ninguém “pegaria” ninguém. A balada que sempre vou (não vou chamar de desmanche, as mulheres se ofendem pois há quem diga que estes locais têm estes nomes porque as “princesas” que frequentam o local desmancham em um toque) fica perto da minha casa, pois não tenho carro e, se arrumo alguma coisa, dá para ir a pé até o meu apartamento.
Coloquei minha roupa de passeio, quinzão no bolso (cinco para entrar e o resto para beber e comer um cachorro-quente na hora de ir embora) e fui para a caçada.
Dancei forró, pagode, lenta (não sei nem como se chama hoje em dia estas músicas de se dançar juntos. eu falo lenta e acabou!) como umas dez mulheres diferentes. Já passava das quatro da madruga, eu já num prego do cacete, achando que ia ter de acabar mais uma noite sozinho, deparei-me com uma gata. Nao fui agraciado com beleza mas papo, bom, papo eu tenho.
Aproximei-me. Era um loira com uma calça preta com listas amarelas (estas calças de ir em academia), uma bota que imitava couro de cobra, um salto bem alto. O cano da bota ia até os joelhos, o que dificultava um pouco os movimentos da “mocinha”. Sua blusa era toda cheia de umas coisas brilhantes (não sei o nome destes troços) bem vermelha. Não sei se é moda, mas, tudo bem, eu não tava procurando ninguém para ser modelo e sim tirar o meu atraso. Encostei do lado e comecei a jogar meu charme.
Sinceridade: nem precisei conversar muito. Cinco minutos de conversa e já aceitou ir até minha casa. Eu também aceitaria no lugar dela pois, o primeiro ônibus que ia até a direção da sua casa só passaria a partir das sete horas. Fomos caminhando até meu apartamento. Quando passavamos por luzes fortes podia ver com mais clareza seu rosto.
Amigos: Se voce tem menos de dezesseis anos e/ou estômago fraco, aconselho interromper a leitura a partir deste momento pois daqui para frente a coisa começa a ficar quente. Tinha mais rugas que meu saco, já não sabia se era loira ou morena. Quero dizer era morena pois o cabelo estava do ombro para baixo loiro e para cima moreno. Segundo ela, a próxima grana que ganhar de diarista vai dar um jeito no cabelo.
Sinceridade: a dona era até gostosa, mas feia pra caralho. Mas, porra! Eu não queria ela para bater foto, além do mais não aguentava mais ficar só na punheta. Precisava comer uma mulher, nem que fosse ela. Abri a porta do meu apartamento e já fui beijando e socando a mão em tudo quanto é lugar. Aí, como toda mulher faz, começou: - Pára com isso! Que é que você tá pensando?
Tudo bem. Todos nós passamos por isso, até as feias têm direito àquelas frescuras do início. Dei mais um beijão e já coloquei a mão no bolso e peguei umas balas. Compreensível: quatro horas da manhã, fumando, bebendo, qualquer um fica com bafo na boca. Como toda mulher que você põe no carro ou leva para seu apartamento (até as feias são assim!) já começou com aquele papinho: - Acho que está na hora de ir embora.
Puta que pariu, a gente tem que passar por isso. Tudo bem, tô ali de pau duro prontinho e tem que ter esta fase! Bom, fiz minha parte. Conversava um pouco, beijava um pouco, passava a mão, pegava a mão dela e colocava em cima da minha calça, sabe como é, todo aquele ritual básico. Passados longos dez minutos desta interminável lenga-lenga, a “Marta” (este não é o nome real mas vamos deixar como se fosse) deixou eu tirar sua blusa. Quando tirei a blusa, encontrei um enorme obstáculo: estas cintas que apertam o corpo para tampar um pouco a gordura. Tirei aquele troço. Meu Deus! Sinceridade: O cheiro que saiu dali de baixo, se minha tara não fosse do tamanho do Pão de Açúcar, eu teria brochado, mas achei até compreensível, afinal, ficar a noite toda dançando com aquele negócio quente enrolado no corpo, não podia dar em outra coisa. Passados uns cinco minutos, meu nariz já havia se acostumado com o cheiro. Pra quem já tinha beijado a boca fedendo a cigarro, um CC não ia matar. Tirei o corpete (foi assim que ela chamou o negócio) e comecei a chupar os peitos. Tava meio salgado, quero dizer, tava bem salgado, mas, vamos lá, era para comer mesmo! Que mal tinha estar temperado? Fiquei ali chupando aquela coisa flácida por uns cinco minutos ate que finalmente a Marta pegou no meu pau.
Tinha, finalmente, quebrado a barreira entre o “acho que vou embora” e o “acho que vou te dar”. Começamos então a fase final.
Ela com a mão no meu pau e eu com a mão na sua xoxota (fica bonitinho este nome!). Não deu dois minutos de dedinho e já veio com aquela outra famosa - Eu quero! Eu quero! - como se não quisesse desde o começo mas, tudo bem, respeito. Se não respeita, fica com fama de insensível e, bom, deixa para lá, vamos ao que interessa. Como todo bom cavalheiro, tirei a mão de lá e coloquei no nariz para “reconhecer o gramado”.
Sinceridade: Minha sorte que meu pinto não tem nariz, se tivesse acho que não encararia a parada. Começamos a nos despir. Fui abaixar sua calça e me deparei com as botas. Preciso comentar do cheiro que saiu de dentro das botas? Se tivesse lugar, poderia jurar que ela escondeu um gato morto em cada pé. Pensei em dar a primeira tomando um banho, talvez melhorasse um pouco as condições.
Fomos até o banheiro e, para variar, estava sem água. Sinceridade: Tava louco para dar uma trepada. Meu pau já tava ardendo, as bolas começando a doer. Comi ali mesmo dentro do banheiro (sim, usei camisinha!). Comecei sentado na privada, depois encostei a Marta na parede do banheiro e peguei ela por traz. Pra não gozar muito rápido, fiquei contando quantas bolas de celulite ela tinha na bunda. Quando chegou na vinte e cinco, ela pediu para mudar de posição, eu estava tão empolgado com a minha estatística que nem percebi que ela batia a cabeça na parede com força e acho que já estava machucando. Fomos para o corredor do apartamento (no banheiro não tem espaço para ficar deitado). Dei umas bombadas ali e fomos terminar na cama.
Dei aquelas gozadas de arder o canal. A Marta disse que gozou três vezes! Quem será que está mentindo, eu ou a Marta? Depois que gozei, tirei a camisinha, dei aquela confirida para ver se estavam todos ali, amarrei a ponta e joguei no lixo. Entrei então naquela parte conhecida pelos homens como o cúmulo da eternidade (os minutos entre depois que você goza e a hora em que você leva a mulher embora). Sinceridade: Com pinto mole não há a menor possibilidade de encarar a Marta! Já nos preparativos finais para ir embora, disse que estava com fome. Meus quinzão já tinham ido para o espaço (as balas não foram de graça!). Perguntou se não podia pedir uma pizza ou comer um cachorro-quente. Para não ficar feio para minha cara, ofereci-lhe para fazer algo para comermos. - Nossa, que romântico! - Pronto! Só faltava a baranga achar que gostei dela! Fucei os armários e achei um miojo. Na geladeira tinha uma destas latas de molho pronto de tomate que fazia uma semana que estava lá. Fiz a gororoba. Tinha uns dois ou três tomates que só parti em quatro e coloquei junto para tirar aquele ar de anemia do prato. Sentamos e comemos. Comi pouco, a Marta achoque fazia uma semana que não comia. Não deveria ter colocado aquele molho.
A Marta comeu um monte e começou a passar mal. Ficou com dor de barriga. Fiquei com um pouco de pena dela. Dar uma cagada na casa de alguém que você acaba de conhecer, não é o sonho de nenhuma mulher. Lá foi a Marta.
Quase seis horas da manhã, nenhum barulho na rua, a porta do banheiro não fecha direito. Sinceridade: Nunca uma mulher tinha ido ao banheiro perto de mim (para cagar!) e logo na estréia tive direito a show de efeitos sonoros.
Aquele barulho de quando você acelera uma motoca velha, denunciava e forma “líquida” que a coisa tava vindo. Minha TV queimada, o rádio meu irmão havia pego emprestado. Tive que ouvir a sinfonia do comeco ao fim. Ouvi quando ela tentou puxar a descarga (estava sem água, lembra?), quando tentou abrir a torneira para lavar a mão, ambos sem sucesso. Veio então nossa heroína daquela batalha que achei não ter mais fim. Foram quinze minutos de barulhos de motoca e de água escorrendo.
Ela saiu do banheiro deixando lá toda a sua obra, deu uma cheirada na mão, esfregou-as e me abraçou. Eu sabia que o cheiro que eu estava sentindo era do banheiro, mas eu tinha a sensação de que vinha da sua boca. Dei-lhe minhas últimas balas. Aquelas mãos passando em meu rosto como quem quer fazer um carinho, nao sei quanto tempo poderia agüentar. Pegou no meu pau de novo, viu que estava mole e disse: - Vou levantar o bebê de novo (bebê?). Abaixou minha calça e começou a me chupar. Sinceridade: Um boquete é sempre um boquete. O danado mesmo com todo aquele cheiro de enxofre no ar (ele não tem nariz, lembra?) ficou em pé de novo.
A moça então resolveu escancarar. Começou a fazer um streap (nem sei escrever isso!). Preferia o boquete mas, tudo bem, vamos respeitar o ritual, para não parecer insensível. A sala estava meio escura e ela, achando que estava realmente me agradando com aquelas incontáveis bolas de celulite (tinha parado na 25, lembra?), acendeu a luz. Quando tudo ficou mais claro, olhei para aquela bunda e pensei: Puta que pariu, a gorda tem um monte de espinha na bunda para ajudar. Na verdade para meu espanto ou alívio (já não sabia mais o que pensar) não eram espinhas. Eram algumas sementes do tomate que coloquei na macarronada. A desinteria deve ter escorrido por toda sua bunda, o papel higiênico não limpou tudo que podia e elas ficaram por ali grudadinhas.
Peguei minha cueca, dei uma cuspida, limpei em volta e comi a Marta de novo. Sete horas da manhã a Marta pegou o ônibus e foi embora. A água voltou as dez horas.
Não quero mais tocar neste assunto.

domingo, 16 de agosto de 2009

We're not gonna take it

Ok, aqui vai a explicação do que tem acontecido nas últimas semanas. Eu estava esperando o desfecho da história para poder postar aqui, mas parece que tal desfecho não acontecerá tão cedo: Saímos eu mais três pessoas para tomar uns drinks (tá, cerveja) na região boêmia da nossa cidade. Apesar do grande número de blitzes, preferimos arriscar (já pensou se eu fosse instrutor de trânsito?). Ao sair do buteco ninguém quis pegar o Trovão Azul (estou para mudar o nome dele desde que descobri que este é um codinome para Viagra). Sobrou para este humilde servo.

Trovão estava estacionado numa rua que fazia esquina com a Afonso Penna. Avenida esta que os americanos que estavam hospedados na casa do meu amigo Édio ano passado chamavam de “hooker street”. Ô orgulho! Tive certa dificuldade de entrar na avenida, onde havia uma pequena fila de carros combinando programa com travestis que rodavam bolsinha no local. Nada contra quem tem esse tipo de procedimento. O cu é seu, você faz o que quiser com ele

Provavelmente dentro dos veículos estavam respeitosos pais de família dispostos a experimentar coisas novas. É a única explicação, já que tem tanta mulher do sexo feminino fazendo programa por aí. E olha que travestis, por possuírem mais recursos, devem cobrar até mais caro. Alguns caras até são até bem gostosas, com o peito e o bumbum esféricos. Mas aqueles ali pareciam o vocalista do Twisted Sister. Com a cara cinza de barba e tudo mais.

Como o sinal na Afonso Penna estava aberto, fui obrigado a parar atrás do último carro. Até tentei dar uma olhada pra ver se o Ronaldo Brilha Muito no Curintia estava por ali. Aí você me diz: “E o que o senhor estava fazendo na Afonso Penna sábado de madrugada, hein?”. Embora a história pareça suspeita, tenho três pessoas que podem testemunhar que eu não estava pegando traveco. Não naquele dia.

O carro da minha frente aparentemente perdeu a paciência de esperar o da frente dele combinar o preço e deu ré. Nisso ele bateu no meu carro, provocando avarias no meu pára-lama, como a ocorrência policial rebuscadamente disse. Na mesma hora, Viviana, que estava sentada no banco de trás, falou:

- Diogo, deixa eu descer para xingar esse filho da puta.

Deixei a esquentada mocinha descer, e voltei a estacionar, para conversar amigavelmente com o cara, que perspicazmente disse para Viviana:

- É, bateu, né?

Logo depois arrancou o carro. Talvez não só para fugir de me pagar o conserto, mas principalmente pelo constrangedor cenário em que eu o peguei. Lógico que eu ia analisar a cara dele com aquele olhar: “Ah safadinho! Eu sei o que você estava fazendo!”. Fora que ele deveria ter de se explicar para possíveis policiais e, quiçás, para seus parentes. Viviana berrou:

- Anotamos sua placa, filho da puta.

Disse isso levantando os braços e movimentando-os no ar. Viviana é foda. Acho que essa menina é nordestina.

Ano passado eu bati num carro, mas chamei o tomador de conta e passei para ele meu nome e telefone. Isso é coisa de homem fazer. Quer dizer, não vou falar que o cara que fugiu não foi homem. Isso já tinha ficado óbvio no momento em que ele saiu de casa para pegar traveco.

Pessoal me falou para ir à polícia registrar queixa. Bem, isso seria difícil, já que eu tinha tomado alguns drinks (tá, cerveja). Por mais que estivesse certo, iria preso somente pela audácia de ter ido à polícia com hálito etílico. Esperei até o dia seguinte para ir à delegacia. Porém, no dia seguinte tinha um almoção. E você sabe: Almoção, cerveja; cerveja, almoção. Mas fui assim mesmo aos dois eventos. Leozão foi dirigindo pra mim.

Na delegacia havia quatro computadores bem no meio de uma salona, com várias pessoas encostadas na parede. Não entendi muito bem a dinâmica do local. Direcionei-me a um pitboy de camisa apertadinha sentado frente a um dos computadores:

- Perguntinha.

- Pois não, mermão.

- Como é o esquema de atendimento aqui?

- Aí, é sobre o que, cumpadi?

- Queria fazer uma ocorrência.

- Ocorrência de que, parceiro?

- Batida automobilística.

- Amizade, isso aí é somente no Detran, entendeu?

- Sóóóó.

Fui a três delegacias naquele domingo, tentando não deixar transparecer meu estado etilicamente alterado. As três me disseram que eu só ia conseguir resolver meu problema no Detran. E sabe o que eu concluí disso? Que somente o Detran ia resolver meu problema.

Segunda-feira fui à delegacia do Detran. Várias pessoas chegavam alteradas, direcionando-se para a pessoa que entregava as fichinhas de atendimento, batendo a mão no balcão e contando suas histórias. O cara da fichinha prontamente estendia a mão com um papelzinho com cara de “aham Cláudia, senta lá”.

Bati o recorde do Snake duas vezes enquanto estava na fila. Também aproveitei para dar um pouco de aula de legislação de trânsito para alguns que aguardavam atendimento:

- Fui pego de moto e sem capacete. Isso é multa leve não é?

- Isso mesmo.

- Isso dá quantos pontos? Dez?

- Exatamente. Alguém mais aí tem alguma dúvida? Você aí de trás.

Depois de um tempão chegou minha vez. E olha que minha fichinha estava escrito 02. Na hora que o atendente me pediu para relatar o ocorrido, não sei por que, comecei a falar como se fosse policial:

- Olha, eu estava trafegando na rua Ceará, convergindo na avenida Afonso Penna, confere? O elemento que estava na minha frente deu marcha ré, provocou avarias no meu pára-lama e evadiu do local, positivo?

Pensei: “Agora sim vamos ter um pouco de ação por aqui”. Momentos depois o atendente me estende um papel escrito o que eu tinha relatado a ele:

- Prontinho.

- É só isso?

- Ééééé.

Que legal! Agora tenho por escrito uma coisa que eu já sabia. Pensei: “O que eu vim fazer aqui?”. Na verdade, de uma coisa me serviu: Ali tinha o nome do dono do carro: Jeovany Silva M. Carvalhais. Rá! Agora eu vou fuder esse cara com areia! Se bem que isso deve agradá-lo. Procurei tudo que pude na internet sobre ele. Sim, até mesmo no Orkut. Ia chegar na página dele com um “me add, filho da puta?”.

Impressionante como, numa situação dessas, aparece um tanto de gente com contatos dentro da polícia ou do Detran, oferecendo ajuda. Tudo que achei foi que o nome dele apareceu num relatório das multas que não conseguiram ser entregues porque o correio não conseguiu achar o endereço dos destinatários. Ah, que animador! E as multas eram todas do Celta HJE-2677. O roda dura tinha cinco, ao todo.

Por acaso o nome do tal Jeovany apareceu na nova lista telefônica, que saiu na semana seguinte. Liguei pra lá algumas vezes, mas só fazia um barulho estranho. Não que eu quisesse resolver qualquer coisa por telefone. Se ele atendesse, eu desligaria e me dirigiria à casa dele. Como ele mora do outro lado da cidade, eu não queria correr o risco de chegar lá, não encontrar ninguém e perder viagem. Ainda mais naquele bairro sinistro, onde eu já tinha sido assaltado a mão armada. Oh sim, eu namorava uma menina de lá.

Decidi que ia lá no sábado de manhã, ouvindo uma musiquinha. Se eu não o encontrasse em casa, iria encarar a viagem como um passeio. Pensei em ir com uma faca de cortar pão debaixo da manga do casaco. Um homem prevenido vale por dois. Em lá chegando, uma doméstica me atendeu:

- Olha, a dona Jeovany está dormindo.

Oh! Jeovany é um nome feminino. Valiosa descoberta. Passei duas semanas odiando um nome, e nem era o nome certo. A empregada:

- Mas quando foi essa batida?

Achei que era muito enxerimento da serviçal, mas respondi. Ela me disse que o marido da dona Jeovany havia saído e que não sabia quando o doutor voltava. Resolvi atocaiá-lo na porta. Pena eu ter deixado minha camuflagem em casa. Não demorou muito até o véio chegar. Ele explicou-me de que o carro era do filho dele, que estava trabalhando. Descobri que o menino era caixa. Coitado, deve gastar o salário do mês inteiro com os travecos.

Minha mãe sempre me disse: “Quanto mais se mexe na merda, mais ela fede”. Baseando-se no sábio ensinamento, não mencionei nada sobre os travestis. Fora isso, a informação poderia ser usada como arma. O véio era solícito; deu-me o telefone correto da casa e me explicou o porquê de eu não conseguir ligar para lá:

- É que eu fiz um acordo com a GVT no nome da minha mulher. Mas acabou que eu desisti no meio do caminho.

Ficamos falando mal da GVT por alguns minutos, depois eu fui embora achando muito simpático aquele senhor. Mais tarde naquele dia liguei para falar com o filho dele que já foi se adiantando:

- Pode ficar sossegado, que eu vou pagar tudo.

Obviamente ele estava com medo de eu soltar a matraca. E olha que eu estava com a língua coçando. Concordei em ir na segunda-feira com o irmão dele até o lanterneiro da família. Que emoção! Agora eu conheceria toda a família Carvalhais.

No lanterneiro havia uma pequena comitiva, formada pelo irmão do pegador de traveco e cinco homens sujos de graxa, que tentaram desacreditar a minha história, mostrando que o Celta não tinha nenhuma batida. Eu pensando: “E eu quero lá saber de Celta? O que me interessa é o meu carro batido”. O acidente tinha sido duas semanas antes. Tranquilamente deu tempo de arrumar o carro e fingir que nada aconteceu.

O irmão talvez tivesse sido escolhido como representante da família porque falava alto. E grosso. E tinha um aperto de mão firme e sacolejante. Mas nada que pudesse intimidar Tio Didi. Ele ainda revelou que o pai tinha nove irmãos e que estava processando todos eles. Linda família com que resolvi me meter.

À noite liguei novamente para ver como resolveríamos aquela situação. Foi o pai quem atendeu. O senhor simpático tinha se transformado no capeta:

- Olha, esta nossa conversa está sendo gravada. Te aviso que, se você voltar a ligar aqui ou aparecer aqui na porta da minha casa, eu chamo a polícia. Você já está me importunando.

Se o que ele dizia era verdade, deu nitidamente a impressão de que eu era um psicopata. Porra, fui na casa do cara duas vezes só. E aquela era a terceira vez que eu ligava:

- Desculpe eu ligar a essa hora, mas me disseram que era o único horário em que eu encontrava seu filho em casa.

- Meu filho está dormindo na casa de um amigo.

Dormindo na casa do amigo? Jesus, tem pai que é cego mesmo. Esse aí camufla.

- E qualquer coisa que você quiser resolver, rapazinho, vai resolver comigo.

- Mas quem estava presente na batida era o seu filho. Ele já tinha assumido que bateu no meu carro.

- Olha, eu tenho um laudo da Chevrolet que comprova que nada no meu carro foi reparado.

Fiquei impressionado em como ele tinha arranjado um laudo da Chevrolet em menos de um dia. Não sei se o moleque arrumou o carro e o pai não sabe ou se o pai realmente estava acobertando o menino. Tudo que sei é que aquela era uma casa cheia de gente, mas não tinha nenhum homem. O interessante é que o tempo todo eu esperava o véio bater o telefone na minha cara, mas ele preferia bater boca comigo. E eu já não gosto, né? Acabei soltando a história dos travestis, eventualmente. O véio, sempre solícito:

- Olha, se você quer os seus direitos, vai na justiça. O fórum fica ali na Augusto de Lima.

- Tudo bem. O senhor pode aguardar.

Tentei convencê-lo de que tudo que puder evitar usar a justiça é preferível. Como não consegui, resolvi fazer sua vontade no dia seguinte. Fui ao endereço indicado por ele e me dirigi à atendente:

- Com licença, onde fica o Tribunal das Pequenas Causas?

- Não é assim que fala.

- Perdão?

- Não existe isso de Pequenas Causas. O que existe é o Juizado Especial das Relações de Consumo.

- Tá. Onde fica?

A mocinha me deu um endereço. Fui ao lugar indicado por ela. Lá, pedi informação a um moço de óculos escuros de frente para um computador, que sequer se mexeu. Pensei: “Moço, você é cego, não surdo”. Mas lá me deram um terceiro endereço, onde me pediram uma porrada de documentos. Não dá pra pensar em outra coisa a não ser que eles se esforçam ao máximo para fazer você desistir do processo. A própria mocinha que atendeu disse pra eu ligar pra ver se adianto minha audiência, já que sempre tem gente que desiste no meio do caminho. Tomara que eles aceitem boletim de ocorrência com círculo de café em cima.

E isso é tudo o que eu tenho da história, por enquanto. Mas já se percebe que a parte mais divertida está por vir. Ainda mais se usarem as conversas gravadas. Desde o início, eu pensei em deixar o caso de lado. Quem me conhece sabe que eu não estou nem aí de andar na rua com o carro todo batido. Sou porco, mesmo. Só estou seguindo em frente por causa da atitude idiota dos Carvalhais. E, se eu não ganhar (o que é muito provável), sempre se pode tacar uma pedra no vidro do carro.

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