quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A gente não tá namorando não né?

Aqui está a primeira parte da saga. Continuando...


Outro dos maiores dilemas da humanidade é saber se está ou não está namorando. E a filha da puta da Ana Paula achava que não era da conta de ninguém especificar seu estado civil no status do Orkut. Afortunadamente, pouco tempo depois veio o dia dos namorados. Viria para definir que tipo de putaria era aquela. Não vou comprar porra de presente nenhum enquanto ela não der dica que vai fazer o mesmo. André era, sim, romântico. Mas mesadas não nascem em árvores, sabe? Além do mais, quem estava cheio de coisa para estudar agora era ele. Era fim de semestre na faculdade. Não vou perder tempo indo no shopping para acabar me humilhando mais e, ainda por cima, perder média na prova final.
A essa altura as famílias dos dois vizinhos já haviam se tornado amigas. Porém, não era aberto que os jovens estavam se pegando. No dia 11 de junho, um dia antes do dia dos namorados, Dona Andrezona, mãe de André, chega no quarto do filho, fingindo desinteresse:
- Aquela menina que mora aqui em cima...
- Ana Paula.
- Essa. Me ligou no serviço, fazendo umas perguntas sobre onde é que eu tinha comprado aquela sua camisa de sair...
Pronto! Era tudo que eu precisava ouvir. Afinal de contas, se não era para comprar um presente para mim, ela podia ter falado diretamente comigo. Eu tô aqui em casa o dia inteiro. André largou imediatamente os estudos, pediu emprestado o carro da mãe e foi ao shopping. Tava meio de coração apertado por saber que iria mal na prova e, mais ainda, por gastar aquela grana fudida. Mas valeria a pena porque agora podia dizer que tinha uma namorada de verdade. Mas o que comprar para aquela vaca? Àquela hora somente o hipermercado do shopping estava aberto. Lá tinha uma gôndola de CDs, dentre os quais, o novo do Slipknot. Lembro-me bem de, uma vez que estávamos na casa dela vendo clipes, ela falou:
- Até que é legalzinho.
André não teve dúvida. Ia ser um daqueles presentes românticos, com significado. Representaria aquela vez que viram o clipe da banda juntos. Comprou também uma daquelas caixas de presente e colocou o CD dentro. Já em casa, lembrou-se de que faltava o cartão. Teve uma idéia: Vou escrever numa folha de papel branco e colar na tampa da caixa: Nossa, Aninha Paulinha, em tão pouco tempo já passamos tanta coisa juntos...e enumerou resumidamente os fatos narrados até aqui...e até agora estou adorando te conhecer cada dia mais. Beijos, André. Hum – pensou ele – tá pessoal demais. Apesar de tudo, ele ainda não tava se sentindo totalmente seguro. Fazer o seguinte: Vou entregar numa sacola de supermercado mesmo, pra ficar um pouquinho menos romântico. No dia 12, se encontraram no hall do prédio. André aproveitou e fez uma brincadeirinha, tentando confirmar o status daquela relação:
- Feliz dia dos namorados.
Ana Paula respondeu com um “pois é” ou qualquer outra coisa evasiva. Marcaram de sair para o buteco mais romântico da cidade. Como Seu Andrezão e Dona Andrezona também sairiam para comemorar o dia dos namorados, Andrezinho ficou sem carro. Tudo bem, combinaram que Ana Paula dirigiria até o The Didi’s Abatedourus Steak House. Plim! Encontravam-se os dois agora sentados à mesa do elegante buteco:
- Trouxe uma sacola de supermercado pra você. Presente de dia dos namorados...
- Mas a gente não tá namorando não né?
- O que? Nós? Haha, não seja ridícula. Claro que não, claro que não.
Uma bicuda no saco com sapato de bico fino e ferrinho na ponta. O que significava tudo aquilo então? André Trouxão Bernardes passou a noite inteira querendo perguntar pra ela: Por que porra você foi ligar para a minha mãe então, piranha? Mas não conseguia encontrar maneira ainda mais educada de dizer isso. Fora o medo de passar um constrangimento ainda maior: Oh, você achou que eu queria dica para comprar um presente para você? Que fofo, gente! Na verdade, a prostituta da Ana Paula também tinha ficado constrangida com a situação. Inclusive, fez algumas tentativas para tentar amenizar aquilo:
- Quando é o seu aniversário?
- 1º de fevereiro.
- Hum. Tá longe ainda. Mas pode deixar que eu vou comprar um presente bem legal para você. Fica sossegado.
- Tá.
- Quer saber? Fazer o seguinte: Vou pedir uma porção de quibe e você come comigo. Será o meu presente para você.
Passaram a noite os dois bastante perturbados. Tentavam desviar do assunto. Ana Puta, digo, Ana Paula revelou que naquela noite não iria dormir em casa, mas sim na casa de sua avó. No dia seguinte bem cedo as duas viajariam para sua terra natal, a Casa do Caralho. Então, para variar:
- Tenho que ir embora mais cedo hoje. Amanhã de manhã eu e vovó viajaremos.
- Hum. Que horas vocês viajam?
- Olha, você faz perguntas demais. Eu não gosto de ficar dando explicações da minha vida para ninguém e bláblábláblá...
Gente, a menina tá doida. Fiz uma perguntinha boba e desinteressada só para render conversa. Ana Paula pediu a conta e, estrategicamente, pediu licença de ir ao toalete. Não satisfeita em partir meu pequenino coração, a vaca nem vai pagar a porção de quibe que prometeu. Se soubesse que ia sobrar pra mim, teria pedido pimentinha. Subitamente André se lembrou do bilhete que havia colocado na tampa da caixa. Ana Paula nem chegou a ler. Tinha que arrancar aquele troço dali rápido, antes que ela voltasse do banheiro.
- O que você tá fazendo?
- Você foi rápida.
- Fui só dar uma salgada no bacalhau. Ou você acha que eu vou fazer uma obra de arte barroca aqui? Esse tipo de coisa eu só faço em casa.
Nossa, a menina tá atacada mesmo. Ela nunca tinha sido tosca assim comigo. Não satisfeita, resolveu abusar um pouquinho mais do nosso herói:
- Posso saber o que é que você tá fazendo com meu presente?
- O presente quem deu foi eu. Eu escolho ficar com a tampa pra mim. Achei ela do caralho.
Era mais de meia noite. De volta ao carro de Ana Paula ela avisou que, apesar de não dormir em casa, levaria André até o centro para que ele pegasse um ônibus. Que ser humano esplendoroso! É bem verdade que ela podia ter estendido um pouquinho mais a carona e deixado o bravo cavalheiro em casa. Mas aparentemente queria passar o mínimo possível de minutos constrangedores ao lado daquele cara. André desceu do carro, ficou dois minutos no ponto de ônibus e resolveu ir a pé para casa. Atirou a tampa do presente longe, como um frisbee. Idiota, idiota, idiota, idiota! Logo depois veio o choro. Tomara que até chegar em casa meus olhos já tenham secado.
- Como foi o dia dos namorados, filhão? Paquerou muito?
Respondeu qualquer coisa e foi direto para o quarto, virando o rosto para não verem seus olhos inchados. Ligou o computador: Oi Aninha Paulinha, como vai você? Espero que melhor do que eu. Fiquei muito triste com o ocorrido desta noite. Gostaria de pensar que tudo não passou de um mal entendido... O texto tinha 7.351 caracteres. Enviou para o email da garota. Ela leria quando voltasse de viagem. André estava ansioso pela resposta. Duas semanas depois, se encontram no hall do prédio:
- Olha só quem o vento trouxe. Como foi de viagem?
- Nó, bom demais da conta. A gente saiu para blábláblá...também encontrei com blábláblá...e eu blábláblá horrores...
- Aposto que ficou com vários carinhas da terrinha hahaha.
- Aff. Quem você está achando que sou? Vários não. Um só.
Que? Como assim? Como se fizesse diferença um ou mil caras. Ela conta que ficou com outro assim, na tora? Eu sou o que, afinal de contas? Um chegado dela? O amigo gay dela?
- Você chegou a receber o email que te mandei?
- Recebi sim.
- ...................
- Aqui, é pra responder ele?
- Precisa não, boneca.
Claro que precisa, sua puta! É o mínimo depois de eu escancarar meu coração para você! Mas se precisa perguntar, é melhor nem responder mesmo! Quer saber? Vou subir agora lá em casa e ligar o MSN. A primeira que aparecer online eu chamo pra sair. E foi o que fez. Em poucos minutos marcou um cinema para dali duas horas com uma colega de faculdade. E olha que nem precisou muito esforço. Ela era ainda mais bonita do que a biscate da Ana Paula. Yes! Vou mostrar praquela baranga e para mim mesmo que ainda tenho poder de fogo. Toca a campainha:
- Oi, Dé. Vamo tomar um sorvetinho ali na esquina?
- Vamo, vamo, vamo.
Era mais forte do que ele. Aqueles olhinhos de mel de cílios longos e sobrancelha feita sugavam toda energia vital do Capitão Idiota. André disse que só ia resolver um assunto rápido e se encontraria com ela lá em baixo. Digitou qualquer coisa sobre tia doente para a mocinha da faculdade, desmarcando o cinema. Puta que pariu, o moleque já tinha conseguido dar um passo à frente em direção à auto-estima. Para que esse retrocesso? E Ana Paula ainda tinha dito que a vida dela era mais simples e leve antes de André entrar nela. Sempre repetia para si mesmo: Essa mulher acha que eu não tenho sentimentos? Que sou alguém que ela pode ligar e desligar a hora que bem entender? A partir de hoje ela pode me implorar, mas eu não saio mais com ela.
- Dé, e o nosso sorvete?
Pô, um sorvetinho nesse calor até que pega bem né? Ele não oferecia nenhuma resistência. Se oferecesse, era só Ana Paula soltar um “deixa de ser chato” que conseguia o que queria. André tentava se afastar, seguir em frente. Por vezes era até seco. Mas Ana Paula parecia um encosto. Apesar de nunca admitir que tava simplesmente afim da companhia de André. Sempre precisava de um pretexto absurdo:
- Oi Dé, você ligou no meu celular?
- Não.
- Engraçado, apareceu seu número aqui. Mas vem cá, como é que você tá?
Todas as vezes que cedia ao joão-sem-braço da menina ele tinha vontade de deixar o telefone cair na parede. Com o tempo, Ana Paula se mudou. Gradativamente foram perdendo contato. Ficou sabendo que ela tinha começado a namorar um primo dela. Tomara que tenham um filho e ele nasça retardado! Sabe o que foi o pior nessa história? Durante todo esse tempo André nem chegou a comer Ana Paula.

9 Comentários:

Unknown disse...

Diogoo lindissimo quanta criatividade pra um encontro no dia dos namorados!! mas sair pra comer quibe??? e comprar cd??? na sacola de plastico?? tem razao, tbm nao sei como a garota nao se jogou em cima do rapaz depois de tanto romantismo!! obs: nao faça este programa com sua namorada!!! bjinhosss adoreiiiiiiii

***Ren@t!nh@*** disse...

Coisa rara, mas terei q defender o Diogo aqui. Primeiro porque quando não somos independentes financeiramente não temos condições de dar os "presentes" que queríamos dar de verdade e nem levar pra jantar no restaurante dos sonhos. Porém nesse caso acho que a intenção de fazer as coisas bonitinhas vale mais do que o valor real e o tipo de embalagem q o presente está.

Anônimo disse...

Dor de cotovelo hein!!!

Unknown disse...

Di se o André gostava tanto dela assim, porque sempre ficava xingando ela??
E mais uma vez não existem homens como André hoje em dia.

Bjos

Tio Didi disse...

Mas o André sou eu, Camillinha.

Unknown disse...

Gostei tio Didi,muito criativa sua história.
Mas francamente heim?Essa não tem alma mesmo!Tudo tava indicando que ela ligou pra sua mãe para ter uma idéia do que comprar pra vc... E depois me solta aquela:mas agente
não tá namorando não? fala sério.

Tio Didi disse...

Até hoje tenho vontade de ligar pra ela e perguntar: Aqui, por que hein?

Unknown disse...

Q linduuu! Hahahahah Foda eh saber que realmente esses casos existem. E pior ainda eh saber o que cara pensou de você. Deveria ter a versão da Ana Paula tbm! =D

Tio Didi disse...

Nossa. Essa mocinha sim está sumida.

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