quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Paulistas, paulistanos e são-paulinos

Veja este produtivo trecho de conversa:


Bem, é verdade que no curto diálogo que tive com o moleque depois disso mostrou que o cara é burro mesmo. Contudo, com a atribuição de ter dito essa besteira ao fato de ele ser de São Paulo, só faltou eu responder: “Oh sim, São Paulo! Ooohhh!!! Perdoe-me, você deve ter coisas mais importantes para se preocupar. É porque eu moro na roça aqui em Minnns, sabe? Por favor, volte para a correria do seu dia-a-dia. Não deixe que eu, na minha vida bucólica, te atrapalhe com minhas bobagens”.
Coincidentemente, acabei de ver, em um dos raros programas da MTV que não fala sobre camisinha, uma moça dizendo algo do tipo: “Ôrra meu, eu não tô einteindeindo por que essa rua é de pedrinha até hoje. Ôrra, pelo amor de Deus, a gente está em São Paulo, meu!”. Ao invés de orgulho, esse povo devia era ter vergonha de ter um dos sotaques mais irritantes do Brasil. Pronto, falei. Quando alguém me liga e fala: “Com liceinça, eu poderia estar falando com o senhor Diogo?”, eu delicadamente pego o telefone e bato com força.
Penso como, às vezes, paulistanos, e em menor escala os cariocas, pensam que só existe a cidade deles no país. E tem outros 5 mil municípios jogados em torno do eixo. Por exemplo, todo ano o Brasil inteiro tem que tolerar especiais televisivos de aniversário da cidade da garoa, com show de João Gilberto e tudo mais. Isso é um desrespeito aos moradores das outras cidades do resto do país. Porque eles acham que eu, que moro num lugar totalmente diferente, tenho que ver a homenagem a um lugar a um lugar onde eu nem moro? Podiam passar essa programação regionalmente e, para o resto do país, a reprise de Máquina Mortífera. Animal!
Anualmente a gente vê no Jornal Hoje matérias sobre o maior bolo de aniversário do mundo, com imagens daquela pobraiada com uma sacola e colocando tudo que consegue do bolo dentro dela. Porra gente, deixem de ser espírito-de-porco, façam um em casa que não vai te dar disenteria.
Salvo engano, foi na festa de 350 anos da cidade, depois de um show de João Gilberto, na hora do encerramento, me aparece a apresentadora que mais fala bosta do Brasil, Ana Maria Braga: e diz: “Então vamos acabar a festa porque amanhã todo mundo, como bom paulistano, vai acordar cedo para trabalhar”. Oh sim, trabalhar cedo é uma atividade tipicamente paulistana, porque nós, do resto do país somos um bando de preguiçosos. Principalmente os baianos. É, sou chato mesmo.
E por falar em artista bairrista, falando rapidinho sobre alguém do outro pólo do eixo Rio-São Paulo. Você já tentou procurar, no repertoir da diva Fernanda Abreu, alguma música em que não aparece a palavra “Rio”? Até mesmo na música Brasil É O País Do Suingue, a moça diz: “Vem comigo, vem pro Rio de Janeiro”, como se Brasil e Rio de Janeiro fossem sinônimos. Mas eu vô nela assim mesmo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Olim-piadas

Lembro-me que eu devia estar no pré-primário e eu fiz um desenho sobre as olimpíadas de Seul. Juro por Deus que, na minha inocência infantil, achava que Seul era uma sigla com um “C” e um “U”. Todo orgulhoso, desenhei um monte de homens correndo, um atrás do outro, escrevendo no alto em letras garrafais: OLIMPÍADAS DE CU.
Sacanagem. Estava esperando por um atentado terrorista em Pequim, mas ainda não foi desta vez. Sequer um estalinho soltaram, por diversão. Você acha que eu sou bonzinho? Sou do mau, fi. Sério, podia cair uma bomba no meio daquele monte de fantoche lá que não ia me fazer a menor falta. Ainda mais na China, que está precisando de uma, por ter tanta gente. E gente igual, ainda por cima. Aliás, um ótimo método de controle demográfico seria uma bomba anual (E não anal, pelo amor de Deus. A fama do peido chinês é de ser o mais fedorento do mundo). Talvez pudessem colocar fogo no Ninho da Pássaro, ou mesmo na cidade inteira. Ia bater um recorde: A maior pira olímpica da história. O negócio não é ser original? Bem, mas não foi desta vez. Talvez deixem para os jogos de Roma e o façam em homenagem ao saudoso Nero.
Esse fenômeno de massa de botar nêgo do Brasil inteiro pra ficar torcendo por qualquer esporte é, como os sociólogos dizem, gozar com o pau dos outros. Pessoas ficam a madrugada inteira sem dormir só pra acompanhar o que os atletas brasileiros andam fazendo. Dia seguinte vai um monte de gente acordar cedo pra trabalhar igual zumbi. Já vi caso de pessoa que deixava de namorar pra ver olimpíadas. Pode isso? Ah, não pode não. Agora, o cara vai lá, se esforça, ganha a medalha dele, fica rico, famoso, mas a sua vida mudou alguma coisa? Porra nenhuma. Ou para pior, porque você deve ter emagrecido uns 20 quilos só por causa das noites mal dormidas.
Algo engraçado é que alguns atletas brasileiros são uns dos melhores do mundo em esportes que a moçada nem sabia que existia, como é o iatismo, o hipismo, o racismo e outros ismos. As pessoas ficam quatro anos (como diz o poeta: “E quatro anos é muita coisa”) sem dar a menor importância para 90% dos esportes existentes. Porém, chega na hora das olimpíadas, lá está o trouxa, 3:00 da madrugada, em casa, torcendo: “Vamo lá, cavalinho, pula essa cerquinha aí, carai”.
O pior é que os repórteres da Rede Globo não podem entrar no estádio. Ninguém vê isso, mas imagino que eles ficam assistindo e narrando em frente um aparelho de TV, possivelmente ligado na Bandeirantes. Porra, não precisa disso. Alguém é cego? Alguém não está vendo o que está acontecendo do mesmo jeito que eles? Tudo bem, alguns são cegos, mas é preferível ficar desinformado do que ouvir tanta gente chata em um evento só. Tem o Pedro Bial, o Galvão Bueno, que fala coisas do tipo: “Olha lá, amigo, ele vem trazer a medalha pra gente”, ou então: “É nossa, amigo!”. É nossa uma chupeta! A medalha é do cara. Porque se for nossa mesmo, a minha parte eu vou querer, e se possível em dinheiro. Mais falso do que o Galvão falando isso é ver os atletas falando: “Obrigado Brasil!” Obrigado pelo que, exatamente? Eu fiz alguma coisa? Eu, por exemplo, não torci por ninguém. Pelo contrário, só mandei pensamentos ruins. Se todos neste país fossem sensatos como este humilde servo, e também só desejassem desgraça, ia fazer alguma diferença?
Com certeza, outro caso marcante desses jogos foi o da mocinha que perdeu a vara. Sacanagem é que já fizeram quase todas as piadas possíveis e não sobrou nenhuma pra mim. Mas, depois de ver o quadro de medalhas, a resposta para o caso foi fácil: Quem levou a vara foi o Brasil. Talvez não todo o Brasil, mas o Diego Hypolito, com certeza.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cinco reais

Mocidade, só um adendo. Ontem resolvi iniciar o blog e hoje fiquei o dia inteiro fazendo a configuração desta nova mídia. Por isso, alguns dos primeiros textos são coisa véia. Esse, por exemplo, eu tive que editar e adaptar para os dias atuais. Tudo bem, praticamente todo o trabalho que tive foi trocar os verbos do presente para o passado. Esse é da época da propaganda do Bordados da Dinha: "Capa de sofá? Cinco reais! Capa de sofá? Cinco reais! Capa de Sofá? Cinco reaaiiis!"



- “Olha só que gracinha!”.
É o que mais ouvem essas crianças. Muitas vezes a frase vem acompanhada de um caloroso apertão de bochecha vinda das mãos enrugadas de uma tia gorda. Uma das coisas que eu mais odeio na vida são aquelas crianças “talentosas”. Dessas sardentas e ruivas que aparecem na TV, que mais parecem adultos em miniatura. Aquelas crianças alegres e saltitantes beijando as palmas das próprias mãos e assoprando os beijos para a platéia, como se fossem os artistas mais adorados do Brasil.
Desde cedo os pais e professores obrigam a pobre criança a recitar jograis e a cantar canções em datas como dia das mães ou natal. As mães acham tão bonitinho que fazem os meninos recitar poesias e fazer imitações em todas as festinhas familiares: “Vai lá filhinho, canta aquela musiquinha pra vovó.”...“Vai lá filhinho, canta aquela musiquinha pro tio Zeca.”...“Vai lá filhinho, imita aquele moço da novela.”...“Olha só, chegou o tio Edu e a tia Rose, eles não viram você cantar aquela musiquinha. Canta de novo pra eles verem.”...“Meu filho sabe a coreografia inteira das Chiquititas, quer ver?”, põe o disco do referido folhetim e diz: “Agora mostra pro tio Denilson como é que é”, expondo aquela criança ao ridículo. Algumas crianças gostam de toda essa atenção, todo esse glamour, de ser a estrela da família. Mas a maioria se sente constrangida e só fazem porque a bocó da mãe manda; além de estarem de saco cheio de cantar a mesma música umas trocentas vezes, já que a mãe sempre pede para repetir para cada parente que chega na festa.




E os pais vão só envergonhando cada vez mais os filhos, vestindo-os de marinheiro ou coisas ainda mais ridículas. No meu aniversário, minha mãe fez uma festa temática e me fantasiou de He-Man, acreditam? Lá estava eu, semi-nu na frente de uma multidão de parentes e amiguinhos, incluindo uma menina por quem o meu pequenino coração palpitava. Sabe aquele sonho em que você está na sala de aula, com todo mundo vestido olhando para você e você sem roupa nenhuma? Pois é, sensação parecida.
Daí, os pais tiram uma conclusão: “Estamos sentados numa mina de ouro, vamos começar a explorar esse moleque!”. Colocam a menina no balé, crentes de que ela será uma grande dançarina; inscrevem os pimpolhos em concursos e desfiles, obrigam a participar do teatrinho da escola, a entrar na aula de piano; tudo na esperança de transformarem seus filhos em artistas, mesmo que esses não o queiram. É aí que eles tomam uma atitude mais drástica: Fazem um book do pirralho e levam ele à Talentos Brilhantes, sonhando com as cifras no dia em que ele for o filho por quem o Fábio Assunção pede a guarda na próxima novela das 8. Mas o menino vai fazer no máximo aqueles comerciais locais de baixíssimo orçamento que passam no intervalo dos programas esportivos e do Chaves.




Não te dava vontade de arrancar suas orelhas e jogá-las longe quando aparecia aquele menino da Bordados da Dinha falando insistentemente o preço de uma capa de sofá? Dá vontade de dizer: “Olha aqui, não me interessa quanto custa essa porcaria, eu não quero isso nem de graça, isso é inútil!”. Aquele Ulysses da Dinha devia ser tipo um irmão ou um filho da dona Dinha; e o Felipe e a Talita devem ser tipo os sobrinhos dele. Mas essa tosqueira toda fez tanto sucesso que o explorador do Ulysses resolveu se candidatar a deputado às custas dos dois pirralhos. É lógico que, em seus cartazes, o número 5 vinha em letras garrafais. Mas quem virou celebridade mesmo foi o Felipe da Dinha. Tanto que a máscara dele virou mania entre a meninada. Já imaginou uma gangue de assaltantes de banco, todos usando uma máscara daquela para não serem identificados?


Aquele safado do Gugu é que adora gastar seu (nosso) tempo na TV com crianças. Já teve concurso de imitação de Sandy e Júnior, os Latininhos, os Mamoninhas Assassininhas, e até aquele show de pedofilia que era o das Carlinhas Perezinhas. Depois fica meia hora sentado ao palco e conversando com as crianças. Fez tanto sucesso que o Raul Gil resolveu fazer a mesma coisa com os meninos cantores que vão ao seu programa. Sinceramente, não me é agradável aos ouvidos a voz de uma criança cantando. Além do mais, eles deixavam o playback rolando e as crianças, ao invés de fingir que estavam cantando, ficavam andando no palco e olhando para o seu Raul. A onda infantil tava tão na moda no início da década que a Globo resolveu fazer o pior programa jamais visto, só com mini-adultos, chamado Gente Inocente (indecente?). Lá, as crianças ficavam entrevistando atores globais e imitando atores e cantores do mundo inteiro. As solteironas sentem até o útero palpitar quando vêem um programa desses. Gilberto Barros e também nosso velho conhecido Gugu Liberato resolveram cantar músicas infantis igual retardados mentais, como nos tempos do pintinho amarelinho. Naquela época, o disco do Gugu foi muito vendido porque as pessoas tinham a esperança de que o apresentador fosse na casa delas para fuçar em objetos pessoais e tocar o sininho.

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