sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cinco reais

Mocidade, só um adendo. Ontem resolvi iniciar o blog e hoje fiquei o dia inteiro fazendo a configuração desta nova mídia. Por isso, alguns dos primeiros textos são coisa véia. Esse, por exemplo, eu tive que editar e adaptar para os dias atuais. Tudo bem, praticamente todo o trabalho que tive foi trocar os verbos do presente para o passado. Esse é da época da propaganda do Bordados da Dinha: "Capa de sofá? Cinco reais! Capa de sofá? Cinco reais! Capa de Sofá? Cinco reaaiiis!"



- “Olha só que gracinha!”.
É o que mais ouvem essas crianças. Muitas vezes a frase vem acompanhada de um caloroso apertão de bochecha vinda das mãos enrugadas de uma tia gorda. Uma das coisas que eu mais odeio na vida são aquelas crianças “talentosas”. Dessas sardentas e ruivas que aparecem na TV, que mais parecem adultos em miniatura. Aquelas crianças alegres e saltitantes beijando as palmas das próprias mãos e assoprando os beijos para a platéia, como se fossem os artistas mais adorados do Brasil.
Desde cedo os pais e professores obrigam a pobre criança a recitar jograis e a cantar canções em datas como dia das mães ou natal. As mães acham tão bonitinho que fazem os meninos recitar poesias e fazer imitações em todas as festinhas familiares: “Vai lá filhinho, canta aquela musiquinha pra vovó.”...“Vai lá filhinho, canta aquela musiquinha pro tio Zeca.”...“Vai lá filhinho, imita aquele moço da novela.”...“Olha só, chegou o tio Edu e a tia Rose, eles não viram você cantar aquela musiquinha. Canta de novo pra eles verem.”...“Meu filho sabe a coreografia inteira das Chiquititas, quer ver?”, põe o disco do referido folhetim e diz: “Agora mostra pro tio Denilson como é que é”, expondo aquela criança ao ridículo. Algumas crianças gostam de toda essa atenção, todo esse glamour, de ser a estrela da família. Mas a maioria se sente constrangida e só fazem porque a bocó da mãe manda; além de estarem de saco cheio de cantar a mesma música umas trocentas vezes, já que a mãe sempre pede para repetir para cada parente que chega na festa.




E os pais vão só envergonhando cada vez mais os filhos, vestindo-os de marinheiro ou coisas ainda mais ridículas. No meu aniversário, minha mãe fez uma festa temática e me fantasiou de He-Man, acreditam? Lá estava eu, semi-nu na frente de uma multidão de parentes e amiguinhos, incluindo uma menina por quem o meu pequenino coração palpitava. Sabe aquele sonho em que você está na sala de aula, com todo mundo vestido olhando para você e você sem roupa nenhuma? Pois é, sensação parecida.
Daí, os pais tiram uma conclusão: “Estamos sentados numa mina de ouro, vamos começar a explorar esse moleque!”. Colocam a menina no balé, crentes de que ela será uma grande dançarina; inscrevem os pimpolhos em concursos e desfiles, obrigam a participar do teatrinho da escola, a entrar na aula de piano; tudo na esperança de transformarem seus filhos em artistas, mesmo que esses não o queiram. É aí que eles tomam uma atitude mais drástica: Fazem um book do pirralho e levam ele à Talentos Brilhantes, sonhando com as cifras no dia em que ele for o filho por quem o Fábio Assunção pede a guarda na próxima novela das 8. Mas o menino vai fazer no máximo aqueles comerciais locais de baixíssimo orçamento que passam no intervalo dos programas esportivos e do Chaves.




Não te dava vontade de arrancar suas orelhas e jogá-las longe quando aparecia aquele menino da Bordados da Dinha falando insistentemente o preço de uma capa de sofá? Dá vontade de dizer: “Olha aqui, não me interessa quanto custa essa porcaria, eu não quero isso nem de graça, isso é inútil!”. Aquele Ulysses da Dinha devia ser tipo um irmão ou um filho da dona Dinha; e o Felipe e a Talita devem ser tipo os sobrinhos dele. Mas essa tosqueira toda fez tanto sucesso que o explorador do Ulysses resolveu se candidatar a deputado às custas dos dois pirralhos. É lógico que, em seus cartazes, o número 5 vinha em letras garrafais. Mas quem virou celebridade mesmo foi o Felipe da Dinha. Tanto que a máscara dele virou mania entre a meninada. Já imaginou uma gangue de assaltantes de banco, todos usando uma máscara daquela para não serem identificados?


Aquele safado do Gugu é que adora gastar seu (nosso) tempo na TV com crianças. Já teve concurso de imitação de Sandy e Júnior, os Latininhos, os Mamoninhas Assassininhas, e até aquele show de pedofilia que era o das Carlinhas Perezinhas. Depois fica meia hora sentado ao palco e conversando com as crianças. Fez tanto sucesso que o Raul Gil resolveu fazer a mesma coisa com os meninos cantores que vão ao seu programa. Sinceramente, não me é agradável aos ouvidos a voz de uma criança cantando. Além do mais, eles deixavam o playback rolando e as crianças, ao invés de fingir que estavam cantando, ficavam andando no palco e olhando para o seu Raul. A onda infantil tava tão na moda no início da década que a Globo resolveu fazer o pior programa jamais visto, só com mini-adultos, chamado Gente Inocente (indecente?). Lá, as crianças ficavam entrevistando atores globais e imitando atores e cantores do mundo inteiro. As solteironas sentem até o útero palpitar quando vêem um programa desses. Gilberto Barros e também nosso velho conhecido Gugu Liberato resolveram cantar músicas infantis igual retardados mentais, como nos tempos do pintinho amarelinho. Naquela época, o disco do Gugu foi muito vendido porque as pessoas tinham a esperança de que o apresentador fosse na casa delas para fuçar em objetos pessoais e tocar o sininho.

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