terça-feira, 16 de setembro de 2008

Alex Dhiego, seu escravo

E a produção do The Didi’s Abatedourus não para de receber cartinhas de leitores querendo ter sua história contada na seção ‘Aconteceu comigo’. Bem, na história de hoje infelizmente não vai dar pra usar pseudônimos, já que o nome dos personagens é fator cabal para a trama. Este foi com um xará meu, o Diogo.
Desde que tinha se formado na faculdade de jornalismo, Diogo só tinha conseguido trabalhar em subempregos (mais subemprego do que jornalista, acredite). Não parava muito tempo em nenhum deles. Primeiro porque sempre pagavam mal. Segundo porque a preguiça e a má vontade ajudavam para que ele fosse despedido rapidinho.
Em um dos empregos, era vendedor do tipo “porta em porta” de uma empresa de planos dentários, a Dent Pheliz.
Cansado de rodar igual peru tonto por toda a cidade sem conseguir vender sequer um plano, que era caro pra caralho, Diogo estava, tal qual uma vaca, cagando e andando para a empresa. Neste meio tempo, arranjou um bico transcrevendo fitas de áudio com entrevistas para uma pesquisa sobre – pasmem – planos dentários. Apesar de serem do mesmo ramo, um trabalho não tinha nada a ver com o outro, fora o assunto interessantíssimo.
O subemprego da transcrição de fitas estava rendendo um pouquinho mais do que o das vendas, além de ter a vantagem de se poder trabalhar em casa, conversando no MSN e tudo mais. Toda vez que o pessoal da Dent Pheliz ligava pra o celular de Diogo para saber como estavam as vendas do dia, ele pensava: “Caralho, eu não posso atender aqui dentro de casa senão o pessoal vai ver que eu tô fazendo é porra nenhuma. Vai que eu tô falando com a chefia e de repente o MSN faz ‘trululu’. E acho que essa música ligada na maior altura vai dar muito na cara também”. Ele desligava a caixa de som do computador, escancarava a janela do quarto e atendia o telefone de lá, para que o chefe ouvisse o barulho dos carros:
- Nossa, tô aqui no centro da cidade, acabei de sair da casa de um cliente e já estou indo pra casa de outro. Só hoje já visitei uns cinco.
Claro que esse emprego não durou nem dois meses. E como o trabalho de transcrição de fitas era temporário, Diogo voltou a ficar sem porra nenhuma pra fazer. Quer dizer, porra até que fazia muita. Mas sua principal atividade diária voltou a ser assistir Malhação.
Ficou assim por mais de um ano. Numa bela tarde, quando acompanhava emocionado a um dos triângulos amorosos do folhetim global, o telefone toca:
- Alou alou, é o Diego que tá falando?
O coceba ainda o corrige:
- Sim sim, é o DiOgo.
- Sabe a entrevista que você fez aqui na Pereira Empreendimentos?
“Caralho, Pereira Empreendimentos! Nunca ouvi falar desses filhos da puta. Mas eu fiz tantas entrevistas em tantos lugares nestes últimos meses que é até capaz de eu ter ido nesse lugar e não me lembrar.”. Ele responde:
- Entrevista é? Olha rapaz, me refresque a memória.
Seu Pereira, estranhando aquilo:
- É, a nossa empresa fica aqui na rua Coronel Sebastião. Já se lembrou?
- Oh sim, me lembro pra cara...mba.
Tudo cascata.
- Pois é, rapaz, a gente ta precisando que você comece aqui na segunda. Você pode vir aqui amanhã fazer um treinamento?
“Merda, vou ficar sem saber se o Léo vai descobrir que a Juliana estava tentando separar ele da Clara”.
- Acho que vai dar pra encaixar, sim.
Desempregado, Diogo só tinha dinheiro para a passagem de ida. “Bem, vou lá, vejo qual é a desse emprego e volto a pé. É só descida do centro até aqui em casa, mesmo”. Marcaram para as nove da manhã. Porém, naquela mesma manhã deu caganeira em nosso herói. “Acho que foram os churros de ontem”. Ele só conseguiu chegar lá pelas dez horas, e ainda sentindo umas pontadas no cu. Chegando no endereço, teve a certeza de que nunca esteve lá antes. Viu várias pessoas em trajes sociais, dentre eles um cara de cavanhaque, camisa aberta, correntes e pulseiras de ouro. “Só pode ser o tal Pereira”. Direcionando-se ao biscate:
- Bom dia, me ligaram ontem a respeito de uma vaga.
- Ah sim, o Diego. Mas eu combinei com você foi às nove, não foi?
- Oh perdão, é que eu passei mal hoje de manhã. Acho que é esse tempo chuvoso, sabe?
Vendo a cara de sofrimento e a dificuldade de andar do candidato:
- Mas você está bem? Pode começar hoje?
- Uaomgh, com certeza.
- Aqui, vai com o Jefferson pra você ver como é que é o trabalho.
“Que bom, o tal Jefferson também tem cavanhaque. Parece que só tem picareta neste lugar. Acho que vou me dar bem aqui”. No treinamento daquela manhã, Diogo descobriu que o trabalho na Pereira Empreendimentos seria também do tipo venda “porta em porta”, desta vez de planos para celular. Porém, nesta empresa, davam para o cargo o pomposo nome “consultor de vendas externas”. No final do expediente, voltam para o escritório e o biscate-mor de novo chama Diogo à sua mesa:
- Sente-se aí, meu jovem, vamos analisar o seu currículo. Aqui diz que você era consultor de venda externa do Guaraná Xupisco. Quanto tempo você trabalhou lá?
Guaraná Xupisco. Ele nunca tinha trabalhado em nenhuma empresa com o nome tão gay assim. É nessa hora que Diogo olha para o papel nas mãos do Seu Pereira. Nem era o tipo de letra que ele usava em seu currículo. Diogo era fã de Courier New, e aquilo ali claramente era Times New Roman. Ele olha para o nome no alto da folha: Alex Dhiego. Um pouco mais abaixo o telefone do infeliz: 555-6969. O telefone do Diogo era 555-9696. O engano estava explicado.
“Mas por que será que não me ligaram perguntando pelo Alex? Será que é uma prática comum entre os biscates ficarem chamando o outro pelo segundo nome? Como você se chama? Muito prazer, meu nome é Morais. Não obstante, ainda tascaram um ‘H’ no sobrenome do cara. Mas eu não vou deixar essa chance passar nem fudendo. Qual é a probabilidade de ter alguém com o nome e o telefone tão parecido assim com o meu? Ainda mais oferecendo emprego? Ainda mais em um ramo que eu tenho experiência. Ainda mais quando eu estou a vários meses desempregado. Tudo isso é obra do destino.”.
Fez mais duas horas de caminhada de volta para casa naquele dia, com trajes sociais. Diogo trabalhou mais um ano naquela empresa como impostor. A vida inteira ele estava acostumado a corrigir as pessoas que o chamavam de Diego. Não seria difícil. Não quis nem saber o que foi feito do tal Alex Dhiego, mas umas duas vezes que viu uma proposta de emprego, mandou para o e-mail que tinha visto naquele currículo.
Se você também quer que seu caso seja contado aqui, mande um e-mail para a gente: torresdiogo@hotmail.com.

7 Comentários:

Anônimo disse...

"Diogo voltou a ficar sem porra nenhuma pra fazer. Quer dizer, porra até que fazia muita."

Ele ainda tinha o que fazer... e eu que nem isso tenho??!?

Tio Didi disse...

mulher não tem essas coisas de porra.

Leonardo Torres disse...

"Em dos empregos..." corrige essa PORRA! "Em um dos empregos"

Tio Didi disse...

pra quem sabe ler, um pingo...

Almeida José disse...

Jefferson e o mais mais de picareta que existe!

Cara,aposto que vc ta com essas historias todas ja escritas ai e so fica postando de vez enquando.

Continua que voce e fera-nenem nessa coisa de blog.

Tio Didi disse...

velho, na verdade eu quimei as duas melhores historias da minha vida de uma vez.

Anônimo disse...

hahah..mt bom..se isso fosse na américa virava best-seller..

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