Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu
Nêgo que não nasceu para a malandragem é foda. O seguinte caso aconteceu faz uns sete anos com outro amigo meu. Quer dizer, amigo de um amigo. Eu nem conheço o cara. Hummm, chamemo-lo de “Pedro”. O Pedro namorava uma menina, até bonitinha, fazia uns dois meses. Bonitinha, porém mais sem sal do que comida de hospital (acabei de inventar essa). Chamar-la-emos de “Carla”. Os dois haviam se conhecido no carnaval. Estavam na mesma república e, conversa vai, conversa vem, descobrem que fazem faculdade no mesmo prédio, porém ele de manhã e ela à noite. O Pedro, que não era muito chegado em refeição hospitalar, começou a pensar: “Bem, na primeira oportunidade que eu tiver, eu termino com essa baranga. Por enquanto, vamo empurrando (em todos os sentidos)”.
Certo dia, nosso herói saiu com os colegas de sala para uma festa do prédio da faculdade. A namorada não quis ir junto. Uma das coisas que mais chateavam Pedro na relação era a freqüência com que esse tipo de coisa acontecia. Durante a festa ele conheceu a amiga de um dos colegas, a Isabela. Também estudava no prédio, só que esta no mesmo turno de Pedro. Estatisticamente falando, 100% nossos personagens estudavam comunicação (o mundo está perdido). Pedroca até conhecia Belinha de vista: Meio gordinha, corcunda, parecia que tinha assaltado o guarda-roupa da vovó, deixava aparecendo uma lingerie bege, uma bunda de formato estranho, e uma voz que lembrava algo a Pedro, o que era mesmo, gente? Oh sim, era uma mistura do Geléia, do Caça-Fantasmas, com o Thunderbird (o gênio da comunicação, não o carro. Bem, quando ela tossia até que lembrava o motor de um Thunderbird 1955). Em outras palavras, a esquisitinha tinha todos os predicados para virar a cabeça de qualquer homem. Mas resolveu dar bola para o Pedro.
Cara honesto que era, ele não ficou com a menina, mas ficou encantado. “Agora sou 100% Isabela na cabeça e no coração. Tenho que terminar com a Carla o mais rápido possível”. Esse tipo de coisa tem que ser feita ao vivo, não dá pra ser por telefone. E por várias vezes naquela semana o Pedro tentou se encontrar com Carla para terminar tudo, mas sempre acontecia um imprevisto que impedia o embate. “Ah, hoje eu estou cansada. Ah hoje eu tenho que estudar para a prova de amanhã”. Parecia existir uma força sobrenatural evitando o encontro. Enquanto a conversa com Carla não acontecia, Pedro ia tendo pequenas trombadas propositalmente acidentais com Isabela nos corredores da faculdade. Ficava dando voltas nos três andares da edificação até ver aquela figura encantadora:
- Ô menina, você estuda aqui mesmo. Você não estava mentindo.
Conversa de joão-sem-braço do caralho. E o coração do jovem mancebo batendo cada vez mais rápido cada vez que via a vovó de 22 anos. Em um dos casuais encontros com Isabela (“ô menina você por aqui. Você estuda aqui e eu também. Que coisa”), a moça convida Pedro para uma festinha. Imagine a mulher por quem você está apaixonado te convidando para uma festa. Você recusaria? Com um fingido desinteresse, ele responde:
- Beleza, beleza, beleza. Estarei lá.
Trocaram telefones e tudo mais. Bem, tecnicamente, não havia nada de errado em ir para uma festa com uma amiga. Na tarde do dia da festa, Carla liga para Pedro, novamente marcando um encontro para depois da aula dela, num boteco copo sujo do lado da faculdade. Já foi mencionado que a bela moça estudava de noite. Bem, Pedro não podia perder essa oportunidade. Se ele terminasse o namoro com a Carla mais cedo, ele estaria liberado para dar um créu na Isabela mais tarde, com a consciência limpa. Metódico, ele fez a programação da noite: Às nove horas terminaria com a Carla, “você merece alguém melhor, o problema não é você, sou eu, e blábláblá”, e lá pelas onze estaria com Isabela na festinha.
Ele não andava muito com celular. Segundo ele, sempre que andava com o aparelho no bolso, parecia que estava de pau duro (lembre-se do tamanho dos aparelhos nos idos de 2002, época do acontecido). Porém, uma situação dessas requeria que o tijolo fosse levado, como o intercomunicador de um espião. Era só colocar no modo “silencioso” e discretamente escondê-lo na cueca, como se fosse mensalão. Qualquer coisa, sairia estrategicamente para atender. Pedroca pega o ônibus e faz aquele trajeto, ao qual ele já estava acostumado, porém de dia. No meio do caminho Carla liga e aquele volume na cueca de Pedro começa a vibrar. Os passageiros olham torto para Pedro, menos uma senhora, que admirada pensa: “Aiai, queria que o pinto do meu marido vibrasse que nem o deste rapaz”. Ele não queria que Carla soubesse que ele estava levando o celular, mas a situação estava ficando constrangedora naquele ônibus lotado. Pedro então finge tossir, se curva, bota a mão no saco, pega o celular, tira uns pentelhos suados do aparelho e aperta o talk:
- Pê...bzzz...tem problema se as meninas...bzzz...forem no boteco com a gente...bzzz...?
“Merda!”
- Bzzz...claro que não...bzzz.
Não ia dar para dar um 'finish her' ali na frente das amigas. Como ele ia fazer? Se aproveitaria de uma possível ida de Carla no banheiro? “Ô gente, vocês me dão licença um instantinho que eu só vou ali terminar com a amiga de vocês”. Não sairia vivo dali. É, teria de ficar para uma outra oportunidade. “Bem, hoje então eu só vou sair como amigo da Isabela, mesmo”. A tensão era palpável. A qualquer momento o celular poderia tocar com Isabela ligando. Foi o que aconteceu:
- Mocinhas, aqui ta muito barulhento, deixa eu ir lá fora pra eu escutar.
Era a amada querendo confirmar a presença do rapaz na festa. Minutos depois ele volta para a mesa.
- Era mamãe. Mas aqui gente, vamo embora?
Não satisfeito com toda aquela cachorrada, ele ainda pegou carona com uma das amigas de Carla para chegar em casa a tempo. Corre para casa, chupa uma balinha, veste uma roupinha melhor, pega outro ônibus, agora para encontrar Belinha. Chegou na festa meio esbaforido, mas aquela mulher era capaz de acalmá-lo de uma maneira surpreendente. Realmente ela tinha um ar meio de vó. Conversa vai, conversa vem, a mulher acidentalmente enfia a língua dentro da garganta de Pedro. Ele nunca havia traído em sua vida, mas imagine se você não gosta mais de sua namorada e a boca da moça por quem você está apaixonado vai parar justamente na sua (boca)? Você recusaria? Se ele contasse a verdade, provavelmente perderia Isabela para sempre.
A ânsia por um match point com Carla se fazia cada vez mais urgente, mas os desencontros continuavam. Por exemplo, por uma falha de comunicação (ironicamente, comunicação era o que nossos três vértices do triângulo estudavam), Carla pensava que o encontro ia ser na segunda, e Pedro tinha certeza de que tinham marcado para quarta.. Onze horas da noite de segunda, a Carla liga na casa de Pedro, puta (de puta ela só tinha mesmo a raiva, outra coisa que decepcionava Pedro no namoro):
- Caralho, Pê, a gente não tinha marcado de se encontrar hoje?
Podia se ouvir nitidamente a Carla bufando do outro lado. Pedro respondeu, com a firmeza de quem sabe o que está falando:
- Mas hein?
No fundo, ele pensava: “Filhota, você não imagina o tanto que eu quero te encontrar o mais rápido possível para acabar de vez com essa palhaçada”. Já que a merda estava feita mesmo, Pedroca e Belinha saíram mais umas três vezes naquela semana. Uma coisa estranha entre eles era que viviam um relacionamento duplo: Se encontravam na faculdade e se tratavam como amigos. Cumprimentavam-se com um soquinho no ombro e tudo mais. Horas depois, botavam a língua um na boca do outro. Nosso herói já considerava Isabela como sua futura namorada e ia se esquecendo cada vez mais que ainda não tinha terminado com a Carla. As pessoas perguntavam, quando encontravam com Pedro:
- Mas e a Carlinha como é que está?
Ou então:
- Aqui, a gente ta indo pra um sítio nesse final de semana. Leva a Carlinha.
E Pedroca, sempre com a mesma precisão:
- Mas hein?
“É mesmo gente, eu ainda namoro a Carla”, pensava. Conversou algumas vezes com a oficial no telefone, mas era uma coisa muito esquisita. Ele se sentia como se o namoro tivesse já acabado, apesar de Carla nem fazer idéia disso. Já fazia uma semana e meia que Pedro estava levando essa vida tripla.
Nosso latin lover levou Isabela para ver Jackass, um filme romântico, numa terça feira. Na quarta, o rapaz ficou dando volta nos corredores da faculdade para dar um encontrão na moça (sim, mesmo com eles ficando, ainda era necessária essa viadagem): “Pois é menina, ontem você tava lá no cinema, eu também, a gente se pegou e pá...”. Até que sua mochila começa a vibrar, tocando uma sinfonia de Chopin. Ele bota a mão dentro da Sansonite. Novamente, era a inconveniente Carla:
- Oi Pê...bzzz...você ta na faculdade...bzzz...?
Delicadamente, responde:
- Bzzz...Estou, porque?
- Ah, eu estou aqui também...bzzz...vim fazer um trabalho com as meninas...bzzz...vem aqui no primeiro andar me encontrar...bzzz.
Com a voz trêmula:
- Tááá...bzzz.
“Fudeu! Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, esse prédio é todo aberto, não vai ter como a Belinha não ver a gente! Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, deixa eu me esconder aqui no banheiro pra pensar melhor. É hoje que eu pago pelos meus pecados! A Carla com certeza vai querer me dar um ‘oi’ com um beijo na boca! Com certeza vai querer ficar de mão dada! To fudido! Se nossos nomes fossem compostos, eu juraria que estou numa novela mexicana. Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu!”.
Depois de dar uns dez peidos, ele cria coragem e sai do banheiro. De longe ele vê Isabela no corredor onde ele teria que passar para encontrar Carla. A vovó o avista e sorri, mas tudo que ele pôde pensar foi passar por ela correndo, com os dedos no ouvido, cantando:
- Lá lálá lálálá lálá.
Ele desce a escadaria, avista na porta a namorada, que já vai estendo a mão para ele e fazendo bico de beijo. Ele a cumprimenta com um tapão no ombro, que quase a derruba. Isabela estava três andares acima, mas Pedro era muito cagão. Instintivamente, ele vai conversando com Carla e andando ao mesmo tempo, sem nem encostar na namorada. Ele se lembra porque estava caminhando naquela direção:
- Vamos ficar sentados aqui debaixo dessa escada?
- Olha Pê, o que é que está acontecendo? Você está mais distante comigo.
Pedro, sempre eloqüente:
- Pois é né, menina.
Conversa vai, conversa vem e ela já está lacrimejando e tremendo:
- Acho que a gente não deve ficar mais juntos.
Mal disfarçando o alívio, ele pega no ombro da moça, pisca um dos olhos e aponta o dedo para ela:
- Quer saber menina, acho que você tem razão.
Os dois se despedem. Carla, desnorteada:
- As meninas já devem estar me esperando.
Pedro, sempre sensível:
- Te vejo por aí, beibe.
Ainda meio zonza Carla quase bate a cabeça na parede. Pedro sai correndo como um foguete do prédio e pega o primeiro ônibus de volta para casa, com o coração na boca e a cabeça a mil por hora. E olha que ele ainda teria mais duas aulas naquele dia, sendo que uma delas com atividade em grupo valendo 20 pontos (faculdade de comunicação é assim mesmo). Mas ele não podia abusar ainda mais da sorte. De noite, recebe uma ligação de Isabela:
- Você está chateado comigo? Porque você me viu no corredor e saiu correndo daquele jeito?
- Hoje, é? Você estava no corredor, é? Menina, sabe que eu nem vi? Estava sem meus óculos.
- Você me disse uma vez que não usava óculos.
- É que uso lentes. Eu falei que não uso óculos, mas lentes eu sempre usei.
Pedro nunca tinha usado lentes na vida porque achava aquilo a maior viadagem. Ficaram mais dois meses naquela relação “amigos de dia, amantes de noite”. Não evoluíram em nada. Começou a bater aquela saudade da Carlinha. Ô Carlinha, bonitinha! Pelo menos a Carla queria namorar. Era tarde demais.
Certo dia, nosso herói saiu com os colegas de sala para uma festa do prédio da faculdade. A namorada não quis ir junto. Uma das coisas que mais chateavam Pedro na relação era a freqüência com que esse tipo de coisa acontecia. Durante a festa ele conheceu a amiga de um dos colegas, a Isabela. Também estudava no prédio, só que esta no mesmo turno de Pedro. Estatisticamente falando, 100% nossos personagens estudavam comunicação (o mundo está perdido). Pedroca até conhecia Belinha de vista: Meio gordinha, corcunda, parecia que tinha assaltado o guarda-roupa da vovó, deixava aparecendo uma lingerie bege, uma bunda de formato estranho, e uma voz que lembrava algo a Pedro, o que era mesmo, gente? Oh sim, era uma mistura do Geléia, do Caça-Fantasmas, com o Thunderbird (o gênio da comunicação, não o carro. Bem, quando ela tossia até que lembrava o motor de um Thunderbird 1955). Em outras palavras, a esquisitinha tinha todos os predicados para virar a cabeça de qualquer homem. Mas resolveu dar bola para o Pedro.
Cara honesto que era, ele não ficou com a menina, mas ficou encantado. “Agora sou 100% Isabela na cabeça e no coração. Tenho que terminar com a Carla o mais rápido possível”. Esse tipo de coisa tem que ser feita ao vivo, não dá pra ser por telefone. E por várias vezes naquela semana o Pedro tentou se encontrar com Carla para terminar tudo, mas sempre acontecia um imprevisto que impedia o embate. “Ah, hoje eu estou cansada. Ah hoje eu tenho que estudar para a prova de amanhã”. Parecia existir uma força sobrenatural evitando o encontro. Enquanto a conversa com Carla não acontecia, Pedro ia tendo pequenas trombadas propositalmente acidentais com Isabela nos corredores da faculdade. Ficava dando voltas nos três andares da edificação até ver aquela figura encantadora:
- Ô menina, você estuda aqui mesmo. Você não estava mentindo.
Conversa de joão-sem-braço do caralho. E o coração do jovem mancebo batendo cada vez mais rápido cada vez que via a vovó de 22 anos. Em um dos casuais encontros com Isabela (“ô menina você por aqui. Você estuda aqui e eu também. Que coisa”), a moça convida Pedro para uma festinha. Imagine a mulher por quem você está apaixonado te convidando para uma festa. Você recusaria? Com um fingido desinteresse, ele responde:
- Beleza, beleza, beleza. Estarei lá.
Trocaram telefones e tudo mais. Bem, tecnicamente, não havia nada de errado em ir para uma festa com uma amiga. Na tarde do dia da festa, Carla liga para Pedro, novamente marcando um encontro para depois da aula dela, num boteco copo sujo do lado da faculdade. Já foi mencionado que a bela moça estudava de noite. Bem, Pedro não podia perder essa oportunidade. Se ele terminasse o namoro com a Carla mais cedo, ele estaria liberado para dar um créu na Isabela mais tarde, com a consciência limpa. Metódico, ele fez a programação da noite: Às nove horas terminaria com a Carla, “você merece alguém melhor, o problema não é você, sou eu, e blábláblá”, e lá pelas onze estaria com Isabela na festinha.
Ele não andava muito com celular. Segundo ele, sempre que andava com o aparelho no bolso, parecia que estava de pau duro (lembre-se do tamanho dos aparelhos nos idos de 2002, época do acontecido). Porém, uma situação dessas requeria que o tijolo fosse levado, como o intercomunicador de um espião. Era só colocar no modo “silencioso” e discretamente escondê-lo na cueca, como se fosse mensalão. Qualquer coisa, sairia estrategicamente para atender. Pedroca pega o ônibus e faz aquele trajeto, ao qual ele já estava acostumado, porém de dia. No meio do caminho Carla liga e aquele volume na cueca de Pedro começa a vibrar. Os passageiros olham torto para Pedro, menos uma senhora, que admirada pensa: “Aiai, queria que o pinto do meu marido vibrasse que nem o deste rapaz”. Ele não queria que Carla soubesse que ele estava levando o celular, mas a situação estava ficando constrangedora naquele ônibus lotado. Pedro então finge tossir, se curva, bota a mão no saco, pega o celular, tira uns pentelhos suados do aparelho e aperta o talk:
- Pê...bzzz...tem problema se as meninas...bzzz...forem no boteco com a gente...bzzz...?
“Merda!”
- Bzzz...claro que não...bzzz.
Não ia dar para dar um 'finish her' ali na frente das amigas. Como ele ia fazer? Se aproveitaria de uma possível ida de Carla no banheiro? “Ô gente, vocês me dão licença um instantinho que eu só vou ali terminar com a amiga de vocês”. Não sairia vivo dali. É, teria de ficar para uma outra oportunidade. “Bem, hoje então eu só vou sair como amigo da Isabela, mesmo”. A tensão era palpável. A qualquer momento o celular poderia tocar com Isabela ligando. Foi o que aconteceu:
- Mocinhas, aqui ta muito barulhento, deixa eu ir lá fora pra eu escutar.
Era a amada querendo confirmar a presença do rapaz na festa. Minutos depois ele volta para a mesa.
- Era mamãe. Mas aqui gente, vamo embora?
Não satisfeito com toda aquela cachorrada, ele ainda pegou carona com uma das amigas de Carla para chegar em casa a tempo. Corre para casa, chupa uma balinha, veste uma roupinha melhor, pega outro ônibus, agora para encontrar Belinha. Chegou na festa meio esbaforido, mas aquela mulher era capaz de acalmá-lo de uma maneira surpreendente. Realmente ela tinha um ar meio de vó. Conversa vai, conversa vem, a mulher acidentalmente enfia a língua dentro da garganta de Pedro. Ele nunca havia traído em sua vida, mas imagine se você não gosta mais de sua namorada e a boca da moça por quem você está apaixonado vai parar justamente na sua (boca)? Você recusaria? Se ele contasse a verdade, provavelmente perderia Isabela para sempre.
A ânsia por um match point com Carla se fazia cada vez mais urgente, mas os desencontros continuavam. Por exemplo, por uma falha de comunicação (ironicamente, comunicação era o que nossos três vértices do triângulo estudavam), Carla pensava que o encontro ia ser na segunda, e Pedro tinha certeza de que tinham marcado para quarta.. Onze horas da noite de segunda, a Carla liga na casa de Pedro, puta (de puta ela só tinha mesmo a raiva, outra coisa que decepcionava Pedro no namoro):
- Caralho, Pê, a gente não tinha marcado de se encontrar hoje?
Podia se ouvir nitidamente a Carla bufando do outro lado. Pedro respondeu, com a firmeza de quem sabe o que está falando:
- Mas hein?
No fundo, ele pensava: “Filhota, você não imagina o tanto que eu quero te encontrar o mais rápido possível para acabar de vez com essa palhaçada”. Já que a merda estava feita mesmo, Pedroca e Belinha saíram mais umas três vezes naquela semana. Uma coisa estranha entre eles era que viviam um relacionamento duplo: Se encontravam na faculdade e se tratavam como amigos. Cumprimentavam-se com um soquinho no ombro e tudo mais. Horas depois, botavam a língua um na boca do outro. Nosso herói já considerava Isabela como sua futura namorada e ia se esquecendo cada vez mais que ainda não tinha terminado com a Carla. As pessoas perguntavam, quando encontravam com Pedro:
- Mas e a Carlinha como é que está?
Ou então:
- Aqui, a gente ta indo pra um sítio nesse final de semana. Leva a Carlinha.
E Pedroca, sempre com a mesma precisão:
- Mas hein?
“É mesmo gente, eu ainda namoro a Carla”, pensava. Conversou algumas vezes com a oficial no telefone, mas era uma coisa muito esquisita. Ele se sentia como se o namoro tivesse já acabado, apesar de Carla nem fazer idéia disso. Já fazia uma semana e meia que Pedro estava levando essa vida tripla.
Nosso latin lover levou Isabela para ver Jackass, um filme romântico, numa terça feira. Na quarta, o rapaz ficou dando volta nos corredores da faculdade para dar um encontrão na moça (sim, mesmo com eles ficando, ainda era necessária essa viadagem): “Pois é menina, ontem você tava lá no cinema, eu também, a gente se pegou e pá...”. Até que sua mochila começa a vibrar, tocando uma sinfonia de Chopin. Ele bota a mão dentro da Sansonite. Novamente, era a inconveniente Carla:
- Oi Pê...bzzz...você ta na faculdade...bzzz...?
Delicadamente, responde:
- Bzzz...Estou, porque?
- Ah, eu estou aqui também...bzzz...vim fazer um trabalho com as meninas...bzzz...vem aqui no primeiro andar me encontrar...bzzz.
Com a voz trêmula:
- Tááá...bzzz.
“Fudeu! Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, esse prédio é todo aberto, não vai ter como a Belinha não ver a gente! Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, deixa eu me esconder aqui no banheiro pra pensar melhor. É hoje que eu pago pelos meus pecados! A Carla com certeza vai querer me dar um ‘oi’ com um beijo na boca! Com certeza vai querer ficar de mão dada! To fudido! Se nossos nomes fossem compostos, eu juraria que estou numa novela mexicana. Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu!”.
Depois de dar uns dez peidos, ele cria coragem e sai do banheiro. De longe ele vê Isabela no corredor onde ele teria que passar para encontrar Carla. A vovó o avista e sorri, mas tudo que ele pôde pensar foi passar por ela correndo, com os dedos no ouvido, cantando:
- Lá lálá lálálá lálá.
Ele desce a escadaria, avista na porta a namorada, que já vai estendo a mão para ele e fazendo bico de beijo. Ele a cumprimenta com um tapão no ombro, que quase a derruba. Isabela estava três andares acima, mas Pedro era muito cagão. Instintivamente, ele vai conversando com Carla e andando ao mesmo tempo, sem nem encostar na namorada. Ele se lembra porque estava caminhando naquela direção:
- Vamos ficar sentados aqui debaixo dessa escada?
- Olha Pê, o que é que está acontecendo? Você está mais distante comigo.
Pedro, sempre eloqüente:
- Pois é né, menina.
Conversa vai, conversa vem e ela já está lacrimejando e tremendo:
- Acho que a gente não deve ficar mais juntos.
Mal disfarçando o alívio, ele pega no ombro da moça, pisca um dos olhos e aponta o dedo para ela:
- Quer saber menina, acho que você tem razão.
Os dois se despedem. Carla, desnorteada:
- As meninas já devem estar me esperando.
Pedro, sempre sensível:
- Te vejo por aí, beibe.
Ainda meio zonza Carla quase bate a cabeça na parede. Pedro sai correndo como um foguete do prédio e pega o primeiro ônibus de volta para casa, com o coração na boca e a cabeça a mil por hora. E olha que ele ainda teria mais duas aulas naquele dia, sendo que uma delas com atividade em grupo valendo 20 pontos (faculdade de comunicação é assim mesmo). Mas ele não podia abusar ainda mais da sorte. De noite, recebe uma ligação de Isabela:
- Você está chateado comigo? Porque você me viu no corredor e saiu correndo daquele jeito?
- Hoje, é? Você estava no corredor, é? Menina, sabe que eu nem vi? Estava sem meus óculos.
- Você me disse uma vez que não usava óculos.
- É que uso lentes. Eu falei que não uso óculos, mas lentes eu sempre usei.
Pedro nunca tinha usado lentes na vida porque achava aquilo a maior viadagem. Ficaram mais dois meses naquela relação “amigos de dia, amantes de noite”. Não evoluíram em nada. Começou a bater aquela saudade da Carlinha. Ô Carlinha, bonitinha! Pelo menos a Carla queria namorar. Era tarde demais.
20 Comentários:
pra quem não conhece o rapaz, vc descreveu-o bem - ele e as garotas, né?!
o final é que me surpreendeu. Não sabia disso não Didi. Hahahahaha.
Por alguma razão esse Pedro me parece alquem bem familiar.
é como um cigarro de maconha em cima de um jornal: baseado em fatos reais.
Uai Didi, censurando? Logo vc?
fui eu que postei, mas sem querer com um perfil fake.
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