domingo, 5 de abril de 2009

Olha a mão, olha a palhaçada

É verdade que ninguém sabe o que pode vir a acontecer no futuro. Mas uma coisa pra mim é certa: Vou ficar careca. Faz anos que o processo de destelhamento começou por aqui. E, como não me vejo nadando em um mar de grana, provavelmente serei um velho careca e pobre. Daí penso: Como é que vou fazer pra pegar mulher no futuro? Preciso pelo menos cuidar do corpo. Vou ser um coroa saradão. Careca, porém sarado. Sim, porque atualmente tenho um corpo que até dá pro gasto (minhas roupas não me fazem justiça), mas e daqui uns anos? É preciso cuidar cedo.
Por essas e outras decidi entrar na academia. Tudo que eu queria era dar uma definição muscular. E dar um jeito nessa bunda que mais parece duas luas, com tantas crateras. Se você pensa que bunda de homem não tem celulite, um dia eu te mostro. Também queria ter um daqueles abdomes em que dá até pra lavar uma calça jim nele. Mulherada curte essa parada.
Devia fazer quase um ano que eu dizia: “Segunda feira eu vou lá na academia. Quando chegar o verão eu vou na academia. Em janeiro eu começo academia. Depois das férias eu começo. Melhor, depois do carnaval, pra dar sequência”. Quando finalmente tomei coragem paguei seis meses de uma vez, pra não ter desculpa.
Longe de mim ser um Schwarzenegger (palavra usada na final do Soletrando). Aliás, não entendo como é que um cara entra nessa de fisiculturismo. Sim, porque todo mundo que começa a malhar entra nessa para impressionar a mulherada. Mas até hoje não conheci uma mulher que gostasse de homem musculoso. E não há nada de macho naquilo.
Outro dia eu tava vendo Gugu (vendo não, mudando de canal) e tava tendo uma exibição de fisiculturistas besuntados de óleo. Parecia um monte de frango assado usando sunga. Por falar em sunga, a deles era minúscula, atochadinha, mais parecia uma calcinha. Oh sim, macho pra caralho! E outra: Dá pra perceber que a rôla dos caras atrofia. Não que eu fique reparando nessas coisas, mas é que a câmera dá um close. O que eu devia fazer? Virar pro lado?
Ouvi dizer que o uso de esteróides pode também deixar o cara impotente. Adianta querer impressionar a mulherada? Nunca mais vai poder comer uma mulher na vida. Como fazer para descarregar as energias? Só malhando mais. O governo devia parar de gastar nosso dinheiro com bobagem e investir em propaganda contra o uso de anabolizantes na televisão:
- Olá, meu nome é João Castro Pinto. Eu usei anabolizantes e fiquei assim.
Aí o cara se levanta, abaixa as calças e mostra a minhoquinha.
Lembro-me de certa vez em que eu estava dando aula e conversando com um aluno, formado em educação física, sobre o jeito ideal de se fazer abdominal:
- Deita aí, professor. Vamos fazer juntos.
Tá lá dois homens deitados no chão da sala de aula, fazendo abdominal. Se alguém chegasse e visse, ia ser lindo. O cara põe a mão na minha barriga:
- Tá vendo como dessa maneira trabalha mais essa área aqui?
Pensei: “Olha a mão, olha a palhaçada”. Mas sei lá, o cara trabalha com isso. Deve ser normal. Tanto é que, quando eu fui fazer avaliação física na academia, fui igualmente molestado. Começou com uma entrevista:
- Qual é o seu objetivo?
- Pegar mulher.
- Entendo.
- Na verdade, meu objetivo é dar uma harmonizada no corpo.
- Harmonizada?
- É. Eu tenho a metade de baixo do corpo muito grande e a metade de cima muito pequena. Eu queria ver se tinha como dar uma invertida nisso.
Depois da entrevista, o cara tá que passa a mão em mim, me manda subir o short para ele medir sei lá o que da minha coxa. E sempre olhando nos meus olhos. “Olha a mão, olha a palhaçada”. Pensei: “Devem aproveitar muito quando é mulher”. Profissionalismo o escambal! O cara esquece que é homem quando está avaliando? Depois, me manda tirar a camisa. Hum. E se fosse mulher? Ia mandar fazer topless na tora?
No meio, a avaliação é interrompida. Meu batimento cardíaco acelerou além do normal. Antes que um apressado leitor ache que foi por emoção devido à bolinação do avaliador, adianto que eu estava pedalando uma bicicleta ergométrica no momento.
- Olha, por segurança, vou precisar de um atestado médico seu antes de te liberar para a musculação. Provavelmente devido ao longo período de extrema inatividade, sua pressão aumentou.
Parecendo não estar satisfeito, resolveu me humilhar mais um pouco:
- Outra coisa: Você tem um problema de postura. Por causa da flacidez da sua barriga, seu tórax está pesando muito a sua coluna. Mas você está liberado para fazer natação, por enquanto.
Pois bem, comprei uma toca, um óculos, uma sunga e comecei a natação. Já repararam que as pessoas ficam com cara de doidas usando os trajos para nadar? O professor:
- Qual é o seu nome, fera?
- Diogo.
- Diogão, entra nessa piscina pra mim.
Porque é que todo professor chama seus alunos pelo aumentativo? Será que isso faz parecer que são velhos amigos? O pior é o horário das aulas: 11:00 ás 12:00. A melhor hora pra pegar um câncer. Fiquei preto. Estava parecendo aqueles caras que cortam coco na praia. Eu acho até legal ganhar uma corzinha nas férias, mas minha natureza é branquela. Bronzeado, fica parecendo que eu estou eternamente de férias. Se você acha ridículo um homem usando sunga, não sabe que o mais ridículo é que, bronzeado, quando ele tirar a sunga, vai ficar parecendo que ele ainda está usando uma. Branca. E com um risco no meio.
Tem mulheres que fazem aula usando daqueles maiôs enormes da década de 50. Fica na cara que é por vergonha do corpo. Mas se estivesse usando um biquíni normal, chamaria bem menos a atenção. Se não é vergonha, é preguiça de se depilar. Imagina a marca de sol de quem usa um maiô desses. Por falar em ridículo, passei vários dias arrotando cloro.
Dias depois fui ao centro para pegar meu atestado. Se eu não tivesse convênio, a consulta sairia 100 reais. E o médico me chega 40 minutos atrasado. O cara era sorridente e tinha um jeito que lembrava o Roberto Carlos:
- Pois não meu amigo, em que posso ajudá-lo? Hehehe.
- È que eu preciso de um atestado para começar a academia.
- Que besteira hein, cara? Hehehe.
Se eu ganhasse 100 reais em menos de 15 minutos igual o doutor, também seria assim, sorridente. O cara me manda tirar a camisa e deitar na cama para fazer o eletrocardiograma. Analisa algumas partes do meu corpo. “Mão, palhaçada”. Em alguns lugares eu me segurei, mas senti cócegas.
Como eu nunca tenho que fazer nada no centro, não sabia quanto era a passagem do ônibus. Peguei uns trocados e, por segurança, uma nota de 50. Trocados insuficientes. Ficou faltando 10 centavos. Senti-me tão chique por nem saber quanto custava o ônibus. Fiz o que qualquer pessoa sensata faria no meu lugar: Comprei um sorvete cascão enorme para pegar o troco. Eu ia começar a malhar; não fazia mal ganhar algumas calorias.
Finalmente começo a academia propriamente dita. Lugar cheio de espelhos. Qual é o lance de você ficar se sacando enquanto levanta uns pesos? Quer dizer, todo mundo finge que não tá olhando, mas dá pra ver que dão uma admirada em si, de soslaio. Aliás, eu sei que sou magro, mas tenho a nítida impressão de que espelho de academia foi feito para você parecer mais magro do que realmente é. Só pode.
Depois de alguns dias, me acostumo com os pesos. A instrutora olha pra mim:
- Diogo, você não está levantando pouco peso não?
- Não, pode deixar. Assim tá bão.
- Aumenta, Diogo!!!
Observei que sexta feira é o dia mais lotado na academia. Eu até entendo que as pessoas queiram ficar com o corpo em dia para o fim de semana, mas eles realmente pensam que em apenas um dia vão compensar tudo que não fizeram durante a semana? Notei também o cuidado e atenção que os personal trainers tem com suas alunas: “Olha, olha”. Se essas mulheres não dão ou sequer sentem vontade de dar para esses caras, eu sou Vovó Mafalda.
As aulas sempre acabam com bicicleta. Me parece sem sentido se aquecer depois que já se fez os exercícios, mas sei lá, eles entendem disso melhor do que eu. Aliás, todo o conceito de bicicleta ergométrica me parece sem sentido. Você pedala, pedala, e não sai do lugar. Pelo menos eu fazia bicicleta em frente uma televisão ligada no Chaves. No começo, a moçada ficava estranhando que eu era o único que fazia bicicleta dando risada. Com o tempo, muitos passaram a disputar espaço em frente á televisão.
O mais legal foi quando chegou a conta da consulta na casa da minha mãe, dias depois:
- Diogo, meu filho. Que história é essa de eletrocardiograma?

Obs: Meu amigo Ranieri foi meu professor de comédia stand-up e cunhou o termo “olha a mão, olha a palhaçada”.

5 Comentários:

Unknown disse...

Olha a mão olha a palhaçada, hahahahhahahahahahah

Diogo (ão) Mister Universo, hahahahaha ou Michael Phelps???

Tio Didi disse...

um pouco daqui, um pouco dali.

Blog do Rani disse...

Há... agora tem comentárioS... bacana.
Ou, vc não foi ontem! Tava bão, lotado de gente... aparece lá semana que vem, sô.
abração!

Traça de Alfarrábios disse...

Boa sorte pra vc na academia.Minha mãe num qr pagar uma pra mim.Ela diz que tenho masi é qu andar na praia, mas eu qro evitar a fadiga e por isso cntinuo sentada na mesinha do compitador com meu pacite de chitos e uma garrafinha de pichulinha...da-lhe eu!

Unknown disse...

Dii, vc ficou igual o Aquático do He-Man na foto de óculos de natação.
Deu até medo!!

Huahuahuahua...

Beijos Xuxu

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