quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Teste: Você é mala?

Enquanto meu computador não é consertado, deixo-vos com um texto que li outro dia na internet e que me deixou muito triste. Faço (ou fazia) a maior parte das coisas citadas abaixo:



1. Almoço em grupo. Mesa retangular. Um de seus colegas, o Fulano, se senta numa das pontas da mesa. A primeira coisa que você diz é: “O Fulano vai pagar a conta”.- Você é um MALA.
2. Início da madrugada. 1h16… Alguém lhe diz: “cara, amanhã vou acordar às 7h”. Você se apressa em dizer: “Amanhã não. Hoje”.- Você é um MALA.
3. Seu colega chegou mais tarde no trabalho e resolveu almoçar em casa. Quando ele chega ao local de trabalho, você o convida para almoçar e ele lhe esclarece que já almoçou. É quando você, ágil como um sapo apanhando uma mosca, solta a frase: “então você já veio comido?”.- Seu babacão… mala.
4. Ou pior, o seu amigo chega atrasado no serviço e diz sorrindo: “Bom dia” e você responde: “Boa tarde!!!”- Você é um MALA.
5. Quando as pessoas estão cantando parabéns, você tenta embolar a cantoria, gritando os versos do início da música, enquanto todos já estão no meio da canção.- Bingo!!! Você é um MALA.
6. Você fica rindo quando um homem diz que tem 24 anos, aludindo ao número do veado no jogo do bicho.- Você é um MALA.
7. Você faz alguma piada quando alguém diz que é do signo de virgem.- Vai ser MALA assim…
8. Você diz para um amigo: “se esconda” quando passa o carro da polícia.- Você é um MALA.
9. Quando uma mulher diz que está “de saco cheio”, você diz: “- ué isso não é possível porque ela não tem saco”.- Precisa dizer de novo? Seu MALA!
10. Se a anfitriã anuncia: “Temos pavê de sobremesa” e você pergunta: “é pra vê ou pra comer?”- PQP, como você é MALA!!!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meu computador deu pau

Não, esse não é o título de uma nova crônica, mas sim uma constatação. Estou usando o computador do trabalho e olhando para trás de dez em sez segundos para ver se o chefe aparece. Tem um texto escrito pela metade lá em casa e ainda não sei quando o completarei. Antes uma mini-crônica: Certa vez meu monitor deu pau e eu o entreguei ao meu colega de trabalho, desses que entendem de informática. Dois dias depois eu pergunto: "E aí, você deu uma olhada no monitor?". Ele: "Dei. Mas parece que vai ter que abrir mesmo". Porra, claro Que vai ter que abrir. Dar tapinhas nele eu já estava dando. De qualquer forma, é ele qeu vai olhar meu PC desta vez denovo.

Grato pela compreensão de todos.

Tio Didi

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Retrato do calouro

Mocidade, já faz algumas semanas que decidi manter a média de escrever uma bobagem por semana. Sei que todos ficaram ansiosos por um novo texto semana passada. Quer dizer, ninguém disse isso pra mim, mas acho que por vergonha. Por vários motivos não deu, tendo-se em vista que gasto em média umas quatro horas (isso mesmo) para escrever cada petardo. Para compensá-los, venho aqui publicar mais um texto véio. Este foi escrito há uns seis anos, mas acho que não mudou muita coisa neste assunto de lá para cá. Coincidentemente guarda alguma conexão com o texto anterior. Aliás, depois de lê-lo entendi porque não trabalho como jornalista hoje. Novamente, dei uma editada.

Engraçado, toda vez que eu ouvia a palavra “calouro” eu pensava no Show de Calouros, do Silvio Santos. Para mim, calouros era um bando de aspirantes a cantor brega. Mas deixa pra lá (...tome já Maracujina que vem do maracujá), não é disso que este texto trata. Ele vem é tratar dessas pessoas entusiasmadas com o novo curso, acostumadas com colégios, onde você realmente tinha que estudar. Falam de boca cheia, orgulhosos, quando dizem que estão na faculdade. Prestam atenção em todas as matérias, como se todas elas fossem importantes na formação deles. E olha só, justamente no primeiro período, onde quase tudo é teórico (lê-se inútil). Já reparou no tanto de gente que você só vê um semestre, depois tomam Doril? São pessoas que se decepcionam com o curso porque achava que iam chegar na faculdade já praticando jornalismo ou publicidade.
Os calouros lêem todos os textos que os professores mandam, não importa quantas páginas tenha, mesmo que seja só para uma discussão em sala de aula, sem valer nota. Deve ser porque eles têm tempo livre sobrando, já que a maioria não trabalha. Percebe-se isso pela feição tranqüila e bem-dormida deles. Vão e levam a sério todas as atividades extra-classe. Honestamente, me dá dó quando vejo estes seres fazendo enquetes no prédio, levando mini-gravadores e bloquinhos para tudo quanto é canto, anotando tudo o que dizem naquelas palestras ultraboçais. Coitados, ainda vão se decepcionar tanto! Não sabem que o primeiro ano de faculdade é só para tomar cerveja.
Outro dia me veio um pessoal no laboratório de vídeo para editar um trabalho de –pasmem – Filosofia I! E os trabalhos em grupo então, em que todo mundo faz tudo? É sabido pelos veteranos que o melhor jeito de se fazer trabalho em grupo é cada um fazer uma parte, ou então deixar os outros fazerem tudo para você e, no próximo, as coisas se invertem. Já para eles, é preciso sempre que todos se reúnam na casa de um deles para fazer o trabalho. Todos sabem que nessas reuniões fica todo mundo comendo pão de queijo e ouvindo música, e o que menos rola é trabalho. Depois, todos os seis vão entrevistar o Seu Zé Carlos. Parece até que os seis vão pegar o mini-gravador e colocar na boca do cara. O detalhe é que, apesar de levadas a sério, as entrevistas são sempre a picareta das picaretas. O entrevistado é sempre um colega ou mãe de alguém do grupo. Parece até que eles são um bando de atores frustrados que não passaram em Artes Cênicas, porque é impressionante: Todo trabalho, de qualquer matéria, tem de ser apresentado na forma de teatrinho. “É, vai ficar massa. Nenhum grupo teve essa idéia!”
Os calouros são ou únicos que aparecem todos no intervalo e somem todos no horário de aula. Isso ocorre porque eles ainda estão acostumados com aquele esquema de colégio, onde só se saía da sala para ir ao banheiro, isso se a professora deixasse: “Ô tia, posso ir no banheiro fazer cocô?”. Chega a hora do intervalo – recreio, como eles costumam chamar – todos eles saem das salas para se socializar com os novos colegas. Já não bastam aquelas biscates dinâmicas de grupo que sempre ocorrem nos primeiros dias, onde se organizam as carteiras em círculo e cada um conta sua história, onde estudou e porque escolheu aquele curso. As rodinhas de conversa dos veteranos possuem no máximo cinco pessoas. A dos calouros não: É a maior rodinha de conversa jamais vista em todo o prédio. Já não é mais uma rodinha; é bem maior: É uma roda! Tão grande que até faz curva. Isso porque as panelas ainda não estão definidas. Eu me lembro das pessoas com quem eu conversava nas primeiras aulas, como mudaram totalmente nos dias que se seguiram.
Nessas rodas as conversas são assim: “Onde você estudou? Mesmo? Você conhece o Rato? E o negão? Nó, eles são mó chegado meu. Onde você fez cursinho? Ah, então você estava no sétimo período de engenharia elétrica quando desistiu. O que você está achando do curso?” Repararam no tanto de ponto de interrogação? É porque eles ficam obcecados em se conhecer, provavelmente com medo de ficar sem amigos. Uma pequena demonstração da natureza sociopata dos calouros: Você se lembra do primeiro período, o tanto de churrascos, reuniões na casa de não sei quem, botecos a que foi?
Em Ouro Preto, calouros são chamados de bichos. Lá sim eles são zoados, usando fraldas na rua, com cabelos dignos de fazer inveja ao mais punk dos punks. Têm que andar na rua com placas do tipo: “Procuro uma vaga na república Quitandinha e sou um viado de mão cheia”; “Meu nome é Zé. Me dê uma piaba que eu a-do-ro”. Já aqui, fomos censurados de fazer esse tipo de sacanagem. Pô, qual é a graça de se estudar em uma faculdade se não se pode humilhar ao extremo um calouro?
Aqui vão algumas dicas para você, se algum dia, por ironia do destino, voltar a ser calouro: Muito cuidado com o que falar e fizer nos primeiros dias. È aquela imagem que os outros terão de você para sempre. Ao olhar para você, vão sempre pensar naquela cena do primeiro dia, Tome cuidado dobrado, não não, tome cuidado triplicado com o figurino que você usar no primeiro dia. Pode até pegar apelido. Um conhecido meu foi de camisa laranja no primeiro dia e virou o Cenourão para o resto da vida. Um outro chegou na república usando chinelos e ficou como sendo o Chinelinho. Não precisamos ir longe buscar exemplos Eu mesmo costumava usar camisas floridas, me rendendo o apelido de Ace Ventura. Como se sabe, até hoje sou conhecido como tal.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aves de rapina

Sidney sempre quis ser repórter policial de TV. Desde que apareceu o Notícias Quentes, quando tinha apenas cinco anos, ficava encantado com as imagens de defuntos e alucinado com as seqüências em que repórteres acompanhavam o trabalho dos PM’s: “Cuidado aí, Paixão...puff puff...olha lá, a polícia tá atirando no bandido...puff puff”. Ao completar o ensino médio, resolveu então entrar na faculdade de jornalismo. A família fazia até um trocadilho infame com o nome do rapaz:
- Então você é que vai ser o novo “Sid” Moreira?
- É tio, o Cid Moreira é do caralho. O melhor jornalista que eu conheço.
Apesar das piadinhas ácidas, não era dos mais brilhantes alunos. Por conseguinte, só conseguiu entrar na Estácio de Sá. Mas conseguiu se destacar dentre a turma de analfabetos, pelo interesse e entusiasmo que tinha pelo sangue e as seqüências de perseguição. Tanto é que, depois de ver os jornais do final da tarde, seus preferidos, ele gostava de ver daqueles filmes nacionais, que mostram toda a desgraça do Brasil, ou filmes de ação, tipo Um Tira da Pesada.
Vendo o interesse do menino na miséria humana, um professor conseguiu para ele um estágio na Rede Bolota, a poderosa. O fato de o professor ter jeito de viado o deixou meio receoso de um dia ter de fazer teste do sofá. Mas não podia deixar uma oportunidade dessas passar. “Se ele me chamar pra ter uma conversa na sala dele, dou um jeito de abrir as persianas”.
Logo no primeiro dia de Sidney levando cafezinho para os repórteres, a atriz Nívea Monteiro resolve dar entrada num hospital com um desses problemas de velho. Dois minutos após a notícia, Sidney vê o braço de um dos fodões da TV para fora da porta, com um papel na mão:
- Ô estagiário, vai lá na fitoteca, procura essas novelas aqui e leva na ilha de edição. Correndo, porque isso tem que estar pronto antes do Jornal Bolota!
Fizeram um VT com os melhores momentos da atriz na emissora, seu casamento com o ator Otávio di Soares, e tudo mais. No dia seguinte Nívea Monteiro sai do hospital. Não era nada sério. O fodão:
- Ah, não faz mal. É bom que o VT já fica pronto pra daqui uns dois anos.
Tocado pela sensibilidade dos colegas, Sidney pensou: “Aqui é meu lugar!”.
Quatro meses depois era carnaval. Apesar de a possibilidade de ficar para ver os blocos caricatos ou ver o desfile pela TV serem realmente tentadores, nosso herói resolveu viajar para o interior com os colegas estagiários da Bolota. Pelo menos os que não tiveram que ficar para cobrir os agitos da folia de Momo. Os excursionistas botaram suas roupas de mulher na mochila e foram para Lugarejo. O nome da cidade era auto-explicativo. Sidney foi dirigindo.
No dia da viagem tava tendo uma daquelas chuvinhas de molhar bobo. Sabe daquelas que nem vale a pena você abrir o guarda chuva? Foi o suficiente para o carro perder o controle e deslizar. Desmanchou seu carro de frente com uma carreta. Talvez o fato de, na hora da batida, Sidney estar procurando o CD que iria colocar no som tivesse algo ver com o descontrole da direção. Vai saber. Ironicamente, na hora do acidente estava tocando “A procura da batida perfeita”, sucesso na voz de Marcelo D2.
Na hora, um monte de cálculos se passou na cabeça do rapaz. A frente de sua carruagem tinha toda ido para o saco. “Mil e quinhentos reais de preju”, pensou. Fora a carreta, que fazia a primeira viagem da vida, e teve o pára-choques e um farol destruído. Aliás, que bela estréia. “Pode botar aí mais dois mil”.
- Isso não vai estragar meu carnaval. Reboca o carro de volta para a cidade e na volta eu vejo o que faço.
Preço do reboque: Mais duzentinhos. Não satisfeito em ver o rapazola naquela situação, o guarda rodoviário ainda tascou uma multa pelo pneu capilarmente desfavorecido: 130 reais. Um monte de soluções passou por sua cabeça.
“Acho que vou ter que vender meu corpo para poder pagar”. Olhou a si mesmo no reflexo do vidro do carro: O corpo não valia porra nenhuma. É, estava mesmo fudido. Deu vinte minutos, aparece um carro de reportagem, parando no acostamento. Sidney comenta com os colegas:
- Caralho, a gente que é jornalista é igual ave de rapina, né não? Não pode ver desgraça dos outros.
Eis que sai do carro Juliana, estagiária da Bolota. Justamente aquela que ninguém gostava. Aquela que não pensaria duas vezes antes de puxar o tapete dos colegas. O carro da reportagem estava indo e voltando na rodovia, à procura dos acidentes de carnaval. Até então tava tudo mais ou menos. Mas a visão daquela mulher realmente acabou com o carnaval da moçada. Juliana mal conseguindo disfarçar o sorriso:
- Oi gente, vocês por aqui! Mas o que aconteceu? Vocês bateram, é?
Sidney, falando entre os dentes, dando tapas no braço da colega:
- Pois é menina, bati, olha só.
O que ele queria mesmo era bater nela com a mesma força com que o carro bateu na carreta. Juliana:
- Ai gente, tomara que dê tudo certo. Espero vê-los em situações melhores. Beijos.
Só quando a desgraça acontece com a gente é que as coisas mudam de figura. Foi a partir daí que Sidney começou a se desencantar com a imprensa marrom (que não é aquela que publica notícias sobre a cantora Alcione).
Porém, horas depois, naquele mesmo dia, os amigos se vestiram de mulher e todos os problemas do mundo pareciam não mais fazer sentido. Recapitulando: Carro do Sid: R$1.500. Carreta: R$2.000. Reboque: R$200. Multa por pneu careca: R$130. Ver a piranha da TV, mas esquecer de tudo vestindo-se de mulher: Não tem preço.
A gota d’água veio três meses depois da folia em que os amigos se realizaram. Sidney foi acompanhar um repórter, cobrindo o caso de uma outra pessoa que também tinha perdido o controle da direção de seu veículo, em um desses bairros populares. Este motorista, porém, havia matado dois meninos, que possivelmente corriam atrás de um papagaio. Em lá chegando, Sidney viu uma imensidão de pobres com paus e pedras nas mãos, a fim de linchar o condutor. A polícia já havia isolado o local e botado uns sacos de lixo em cima das crianças. Capitão Soares disse aos repórteres:
- Olha, o elemento foi encaminhado para a delegacia, para que sua integridade física seja resguardada, correto?
No meio da pobraiada, um senhor insistentemente puxava a camisa de Sidney, que usava uma credencial:
- Olha eu vi tudo! Tudinho! Eu tava ali naquela agência bancária e esse cara tava lá também, bebinho da Silva. Pegou o carro e olha aí: Puf! Matou os menino!
O popular teve sua vontade realizada: Aparecer na TV. Mais tarde iria mostrar orgulhoso para a mulher. Só para confirmar:
- O jornal passa é às seis, né moço?
Minutos depois aparece a mãe dos dois. Não se sabia até então que eram irmãos. À essa altura já estava no local três emissoras de TV, dois repórteres e dois fotógrafos de jornais impressos e ainda um repórter de rádio. Cercaram dona Maria do Socorro com uma imensidão de câmeras filmadoras, câmeras fotográficas, microfones, gravadores. A maioria nem sabia de quem se tratava. Foram por osmose com a multidão, segurando um aparelho a menos de meio metro da mulher, apontando para ela e perguntando para o colega do lado:
- Mãe?
Confirmado o parentesco com os meninos, começou a pipocar um monte de perguntas cretinas:
- Como a senhora está se sentindo? Tá triste?
- Você tem algum recado para dar para o motorista?
- Qual o seu nome completo? E sua profissão?
- A senhora tem alguma foto sua com as crianças?
A coitada tira umas fotos da bolsa, mostra para as câmeras. Aquilo foi crescendo um certo nojo em Sidney que não agüentou. Subiu no banco do ponto de ônibus e discursou, vociferando:
- Olhe para vocês, não têm vergonha de si mesmos? Se fosse com vocês, acabando de receber uma notícia dessas, não iam gostar de ter um pouco de respeito? Aproveitando-se da pobre moça que é humilde e nem sabe o que é dignidade. Tsc tsc tsc.
Quer dizer, falar isso desse jeito mesmo ele não falou. Mas que pensou em falar, isso pensou.
Ainda faltava ver o que tinha acontecido com o motorista. A cavalaria se dirigiu para a delegacia. Lá descobriram que o cara era diabético. Estava tendo uma crise de hipoglicemia quando se descontrolou da direção e fez panqueca de criança. Os sintomas são os mesmos da embriaguez: Perda de equilíbrio, fala embolada, tonteira, palavras sem nexo. Daí a confusão que o pobre da agência bancária fez.
Minutos depois, sai da delegacia uma viatura com o bêbado/diabético no banco de trás. As aves de rapina cercam o carro com todo tipo de máquina que possa registrar o solene momento. Vendo isso, o hipoglicêmico esconde o rosto dentro da camisa, como se criminoso fosse. Na hora Sidney teve dozinha do rapaz tratado como um meliante e tendo que conviver com a morte de duas crianças para o resto da vida por causa de sua doença. Novamente deu vontade de fazer o politicamente correto discurso. Como ali não tinha banquinho, achou inadequado. Ao invés disso, foi para casa e não voltou mais à TV Bolota. Sequer voltou à faculdade. Desistiu de viver de carniça. Resolveu virar advogado. Essa raça sim presta.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Não fica me excitando que eu tô de sunga

Sônia é uma dessas mulheres que pensam que nem homem. Você conversa com ela uns cinco minutos e diz: “Velho, essa mina é um cara!”. Tudo isso conseguindo ainda manter certa feminilidade. Por exemplo, ela gosta de Lenine. Adepta da moda hippie, do alto de seus 35 anos, 70 quilos, olhos azuis e cabelos loiros, ainda dá suas cacetadas (com trocadilho, por favor). Trabalha como professora na Speak Slowly, conceituadíssima escola de línguas, onde já pegou vários alunos, a quem ela carinhosamente chama de ‘véi’. Sônia tem um vício: Homem pelado. Estranhamente não há nada de sexual nisso; simplesmente ela gosta de ver.
Começou quando tinha apenas cinco anos, numa reunião de família. Brincando com seus carrinhos, distraída, ajoelhada no chão, de rabo de olho ela olha para seu tio Zeca sentado no sofá, assistindo jornal, fumando. Todo mundo arrumado menos o Zeca, sem camisa e de short. Além de tudo, o Zeca sempre gostava de andar com o bichão solto. Uai gente, mas que troço gozado (com trocadilho, por favor) era aquele ali aparecendo debaixo do short do tio?
Desde então, sempre que vê um homem usando a peça, tenta dar um jeito de olhar por debaixo. Sequer diferencia se o homem é bonito, feio, magro, gordo. Sem pudor, fala da perversão para os amigos em mesas de buteco, justificando seu comportamento comparando-se ao sexo oposto:
- Você por exemplo, vê uma mulher com decote lá no umbigo, com uma saia mais justa que Deus, pode ser a mulher mais feia do mundo, pode ser uma velha, a mulher pode ter os peitos caídos, celulite, que você não vai conseguir deixar de olhar, não é, véi?
Sônia inclusive já se arriscou muito nas caças a rôlas. A parede que divide o banheiro masculino do feminino da Speak Slowly não vai
até o teto. Sempre que via um cara entrando no water closet, se ela estivesse livre, corria para o WC do lado, para ouvi-lo mijando. O barulho do abrir e fechar dos zíperes a fascinava. Aos poucos, foi ficando mais aventureira. Não demorou muito até criar coragem e começar a subir na tampa da privada. Quem mijasse olhando para cima, daria de cara com uma cabeçona loira. Pensando nisso, passou a comprar daqueles rolinhos de privada com cheirinho, para que treinassem pontaria nele, olhando só para baixo.
Um dia parou para pensar no tanto que se arriscava nessas peripécias. Principalmente no tanto que arriscava seu emprego. Parou? Claro que não. Simplesmente, ao invés de botar a cabeça, abriria o celular de flip e colocá-lo-ia em cima do muro, estrategicamente direcionado. Estava tomando proporções de superprodução. Se alguém visse, tinha justificativa:
- Não, é porque eu tava falando no celular aqui no banheiro e eu precisei lavar a mão. Como aqui tá tudo sujo, molhado, viscoso, achei melhor colocar ele aqui em cima, sacou, véi?
Tem um arsenal de fotos tiradas por ela em seu computador pessoal. Umas 80. Nunca parou para vê-las. Conforme explicado, era mais um vício e não havia conotação sexual naquilo.
Algumas vezes, pagou pela tara. Apesar de gostar de ver os outros sem roupa, Sônia não é exibida. Tanto não é que costumava usar daquelas saias indianas arrastando no chão e não mostram nem o tornozelo. Em uma das vezes que foi ao shopping comprar um rolinho/alvo para seus colegas e alunos, estava usando uma saia dessas. A Pipi Feliz fica no segundo andar. Pois bem, eis que, ao subir na escada rolante, a saia da Sõnia agarrou bem na frestinha (da escada, não dela) e o mecanismo começou a puxar aquele pano. A saia estava descendo e o shopping estava lotado. Além de todo mundo ver o desespero de Sônia no duelo com a escada rolante, de quebra viam a bunda dela. Fora isso, tinha gente subindo na escada no momento do ocorrido. Com aquela moça seminua empacada no meio do caminho, começou a haver um engavetamento de gente. O pessoal se acotovelando, caindo em cima da pobre moça, que a esse ponto já estava com a saia no joelho. Ficou pelada, enfim. Quer dizer, pelada não. Pegaram ela no final do ciclo das calcinhas. A merda foi acontecer justamente no dia da calcinha furada e de elástico relaxado. Mas era tão confortável! Ouviu uma senhora cochichando:
- Mas gente como é que uma moça tão bonita tem coragem de usar um troço desse!
Saiu correndo para o banheiro. Lá, pegou o máximo de papéis higiênicos que pôde, umedeceu para poder juntá-los melhor, e fez outra saia. Saiu de lá desfilando. Uma estudante de moda viu aquilo e pensou: “Interessante”. Sônia passou na primeira loja que pôde e comprou uma saia nova. E uma calcinha nova. E um rolinho de privada.
Desde então passou a usar somente aquelas calcinhas que não teria vergonha de mostrar numa noite de romance. Traumatizada, passou a investir seu dinheiro mais em lingerie do que em roupas.
Em outra ocasião, quase um ano depois, Sônia estava dando aula quando começou a sentir uma incontrolável dor de barriga. “Merda, ainda faltam 40 minutos pra acabar a aula!”. Começou a soltar uns peidos e ficou na esperança de que os alunos achassem que fosse um outro colega. “Ah gente não é possível que uma professora tão bonita como essa solte uns peidos tão fedidos”. Sim, é possível. A coisa tava ficando incontrolável. Sônia já estava sentindo a marmota com a cabeça para fora da toca. Foi aí que disse:
- People, let´s make a conversation exercise…ui…pick a partner and ask them how their week was…ui…and remember to always speak slowly so your partner can understand what you are saying…ui.
Entrou correndo no banheiro e ligou a máquina de churros. Apoiou os pés na parede para dar uma abertura de diâmetro maior e tomou cuidado para que não ouvissem seus gemidos da sala. Porém, os papéis higiênicos que outrora a salvaram agora a deixavam na mão. Literalmente. Não havia nenhum. Não tinha jeito; teria que se lavar na pia. Tirou toda a roupa e a colocou em cima do porta-papel higiênico, que agora estava vazio. Sentou-se no bojo e começou o tcheco-tcheco. Secou-se com uma toalhinha de mão; deu descarga; esbarrou na calça; a calcinha caiu no vazo e foi pelo cano. “Caralho! Essa calcinha não! Essa é cara! Peça de sex shop, véi!”.
Dois detalhes da cena que não foram mencionados: Sônia estava menstruada e usando com uma daquelas calças brancas de algodão (saia indiana nunca mais!). Ia escorrer tudo. Abriu a bolsa, desesperada, no encalço de alguma coisa que...que...alguma coisa! Uma fita isolante! Não sabia como aquele troço foi parar ali, mas foi o que surgiu. Usou lá em baixo, juntando um lábio no outro. Como aquilo se desprendia muito facilmente, teve que colocar até na vulva, para dar mais firmeza. Vestiu-se de novo e voltou para a sala. De calça branca e sem calcinha. Toda hora a calça agarrava na frestinha (desta vez dela e não da escada). Estava com o boi na grota.
- So people, now each one of you is going to tell me how your partner’s week was.
O pior de tudo foi uma coisa que Sônia nem percebeu: Com a calça branca, aquele troço preto por baixo estava parecendo pêlos pubianos. Naquele dia os alunos não conseguiram prestar atenção na aula. Paradoxalmente, o número de alunos homens triplicou desde então E ela notou que as meninas começaram a usar saias feitas de retalhos de um tecido muito fino, muito parecidas com papéis higiênicos.

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