quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Retrato do calouro

Mocidade, já faz algumas semanas que decidi manter a média de escrever uma bobagem por semana. Sei que todos ficaram ansiosos por um novo texto semana passada. Quer dizer, ninguém disse isso pra mim, mas acho que por vergonha. Por vários motivos não deu, tendo-se em vista que gasto em média umas quatro horas (isso mesmo) para escrever cada petardo. Para compensá-los, venho aqui publicar mais um texto véio. Este foi escrito há uns seis anos, mas acho que não mudou muita coisa neste assunto de lá para cá. Coincidentemente guarda alguma conexão com o texto anterior. Aliás, depois de lê-lo entendi porque não trabalho como jornalista hoje. Novamente, dei uma editada.

Engraçado, toda vez que eu ouvia a palavra “calouro” eu pensava no Show de Calouros, do Silvio Santos. Para mim, calouros era um bando de aspirantes a cantor brega. Mas deixa pra lá (...tome já Maracujina que vem do maracujá), não é disso que este texto trata. Ele vem é tratar dessas pessoas entusiasmadas com o novo curso, acostumadas com colégios, onde você realmente tinha que estudar. Falam de boca cheia, orgulhosos, quando dizem que estão na faculdade. Prestam atenção em todas as matérias, como se todas elas fossem importantes na formação deles. E olha só, justamente no primeiro período, onde quase tudo é teórico (lê-se inútil). Já reparou no tanto de gente que você só vê um semestre, depois tomam Doril? São pessoas que se decepcionam com o curso porque achava que iam chegar na faculdade já praticando jornalismo ou publicidade.
Os calouros lêem todos os textos que os professores mandam, não importa quantas páginas tenha, mesmo que seja só para uma discussão em sala de aula, sem valer nota. Deve ser porque eles têm tempo livre sobrando, já que a maioria não trabalha. Percebe-se isso pela feição tranqüila e bem-dormida deles. Vão e levam a sério todas as atividades extra-classe. Honestamente, me dá dó quando vejo estes seres fazendo enquetes no prédio, levando mini-gravadores e bloquinhos para tudo quanto é canto, anotando tudo o que dizem naquelas palestras ultraboçais. Coitados, ainda vão se decepcionar tanto! Não sabem que o primeiro ano de faculdade é só para tomar cerveja.
Outro dia me veio um pessoal no laboratório de vídeo para editar um trabalho de –pasmem – Filosofia I! E os trabalhos em grupo então, em que todo mundo faz tudo? É sabido pelos veteranos que o melhor jeito de se fazer trabalho em grupo é cada um fazer uma parte, ou então deixar os outros fazerem tudo para você e, no próximo, as coisas se invertem. Já para eles, é preciso sempre que todos se reúnam na casa de um deles para fazer o trabalho. Todos sabem que nessas reuniões fica todo mundo comendo pão de queijo e ouvindo música, e o que menos rola é trabalho. Depois, todos os seis vão entrevistar o Seu Zé Carlos. Parece até que os seis vão pegar o mini-gravador e colocar na boca do cara. O detalhe é que, apesar de levadas a sério, as entrevistas são sempre a picareta das picaretas. O entrevistado é sempre um colega ou mãe de alguém do grupo. Parece até que eles são um bando de atores frustrados que não passaram em Artes Cênicas, porque é impressionante: Todo trabalho, de qualquer matéria, tem de ser apresentado na forma de teatrinho. “É, vai ficar massa. Nenhum grupo teve essa idéia!”
Os calouros são ou únicos que aparecem todos no intervalo e somem todos no horário de aula. Isso ocorre porque eles ainda estão acostumados com aquele esquema de colégio, onde só se saía da sala para ir ao banheiro, isso se a professora deixasse: “Ô tia, posso ir no banheiro fazer cocô?”. Chega a hora do intervalo – recreio, como eles costumam chamar – todos eles saem das salas para se socializar com os novos colegas. Já não bastam aquelas biscates dinâmicas de grupo que sempre ocorrem nos primeiros dias, onde se organizam as carteiras em círculo e cada um conta sua história, onde estudou e porque escolheu aquele curso. As rodinhas de conversa dos veteranos possuem no máximo cinco pessoas. A dos calouros não: É a maior rodinha de conversa jamais vista em todo o prédio. Já não é mais uma rodinha; é bem maior: É uma roda! Tão grande que até faz curva. Isso porque as panelas ainda não estão definidas. Eu me lembro das pessoas com quem eu conversava nas primeiras aulas, como mudaram totalmente nos dias que se seguiram.
Nessas rodas as conversas são assim: “Onde você estudou? Mesmo? Você conhece o Rato? E o negão? Nó, eles são mó chegado meu. Onde você fez cursinho? Ah, então você estava no sétimo período de engenharia elétrica quando desistiu. O que você está achando do curso?” Repararam no tanto de ponto de interrogação? É porque eles ficam obcecados em se conhecer, provavelmente com medo de ficar sem amigos. Uma pequena demonstração da natureza sociopata dos calouros: Você se lembra do primeiro período, o tanto de churrascos, reuniões na casa de não sei quem, botecos a que foi?
Em Ouro Preto, calouros são chamados de bichos. Lá sim eles são zoados, usando fraldas na rua, com cabelos dignos de fazer inveja ao mais punk dos punks. Têm que andar na rua com placas do tipo: “Procuro uma vaga na república Quitandinha e sou um viado de mão cheia”; “Meu nome é Zé. Me dê uma piaba que eu a-do-ro”. Já aqui, fomos censurados de fazer esse tipo de sacanagem. Pô, qual é a graça de se estudar em uma faculdade se não se pode humilhar ao extremo um calouro?
Aqui vão algumas dicas para você, se algum dia, por ironia do destino, voltar a ser calouro: Muito cuidado com o que falar e fizer nos primeiros dias. È aquela imagem que os outros terão de você para sempre. Ao olhar para você, vão sempre pensar naquela cena do primeiro dia, Tome cuidado dobrado, não não, tome cuidado triplicado com o figurino que você usar no primeiro dia. Pode até pegar apelido. Um conhecido meu foi de camisa laranja no primeiro dia e virou o Cenourão para o resto da vida. Um outro chegou na república usando chinelos e ficou como sendo o Chinelinho. Não precisamos ir longe buscar exemplos Eu mesmo costumava usar camisas floridas, me rendendo o apelido de Ace Ventura. Como se sabe, até hoje sou conhecido como tal.

4 Comentários:

*Robertinha* disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
*Robertinha* disse...

eu sei q essa nao foi a intençao, mas q me deu saudades de qdo era calora e fazia todas essas burrices, ah isso me deu...
q saudades de poder beber cerveja na segunda de manha, de nao ter q entregar 10 trabalho no mesmo dia da prova mais dificil do livro de 200 paginas....
e hahahahaha
eu dei trote nos meus caloros...e fui pra reitoria dp...
kkkkkkkkk
as leis foram feitas para serem quebradas neh...
bj

Édio Azevedo disse...

Mais uma vez venho, através deste, render homenagens ao seu talento de cronista, com os votos de grande sucesso, presente e futuro. Hahahahahhah

Tio Didi disse...

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