Take My Hand
Thales e Thalita eram um desses casais que dá gosto de se ver. De causar inveja, mesmo. Conheceram-se na Pinto Contabilidade, lugar onde trabalhavam. Thales estava na empresa havia cinco anos, quando o Jaime, seu colega do cubículo ao lado, foi para o saco. Foi um profundo pesar não só para Thales, mas para todos do escritório, já que o defunto era um dos grandes companheiros da rapaziada no happy hour de sexta-feira.
Todos ficaram profundamente tocados com a perda do velho camarada, mas o sentimento não adiantava em nada para o maior problema que se punha: Precisavam o quanto antes de alguém para ocupar aquele cubículo. Havia muitos números a ser analisados. Tempo é dinheiro, beibe! Eis que, dois dias depois, Seu Pinto aparece no escritório, com uma jovem:
Todos ficaram profundamente tocados com a perda do velho camarada, mas o sentimento não adiantava em nada para o maior problema que se punha: Precisavam o quanto antes de alguém para ocupar aquele cubículo. Havia muitos números a ser analisados. Tempo é dinheiro, beibe! Eis que, dois dias depois, Seu Pinto aparece no escritório, com uma jovem:
- Pessoal dêem boas vidas à Thalita, a nossa nova "Jaime".
O ex-funcionário era tão ilustre que, aparentemente, tinha virado nome de cargo. A visão de uma mulher do sexo feminino por aquelas bandas era um oásis no deserto. Depois de anos com um quadro exclusivamente masculino, finalmente surgia alguém que mija sentada. Parecia que Seu Pinto nem gostava de mulher; não fazendo jus ao nome. Na mesma hora todos encolheram a barriga para dentro da calça. Podia-se ouvir um "vruuu"; barulho dos rapazes se adiantando para a moça:
- Prazer, meu nome e Ricardo.
- Gerson.
- Onofre. Seja bem vinda!
- Flávio, seu escravo.
"Urubus!", pensou Thales. De qualquer forma, ninguém tinha ficado mais embasbacado pela presença da beldade do que ele. "Preciso ser mais rápido que os caras. Daqui a pouco rola um ultimate fighting entre a moçada bem aqui nos corredores escritório". Foi perto das cinco horas da tarde que aconteceu a oportunidade. Enquanto tomava um cafezinho, Thales pode ouvir a nova colega, meio esbaforida, conversando com o menino do xerox:
- Perdão, onde fica o banheiro feminino? Já rodei todos os corredores e não encontrei.
- Olha dona, acho que aqui não tem disso não. Na verdade, a gente acha que o motivo de o Seu Pinto contratar exclusivamente homens é para não ter que fazer dois banheiros.
- Que sovina! Mas onde será que tem, hein? Esse cafezinho me fez sentir umas pontadas aqui na barriga. Tenho o intestino sensível, sabe?
Aquela informação desnecessária logo no primeiro dia de trabalho encantou ainda mais o bravo trabalhador que ouvia tudo no cubículo ao lado. Adorava mulheres espontâneas.
- Olha, na Marie Lingerie, no andar de cima, deve ter.
Foi engraçado ver aquela mulher de talieur andando igual um robô, tentando correr para o elevador, sem poder mexer muito a parte de baixo do corpo. "Tem que ser agora!", pensou Thales. Deixou o café e o pão de queijo pela metade em sua mesa e foi tocaiar a novata em frente à Marie Lingerie. Porem, não havia pensado em nada. Que desculpa daria para estar ali no sexto andar? Que cantada passaria na colega? Agora não dava mais para abortar a missão. Thalita tinha saído do banheiro e já o havia visto. O Don Juan falou a primeira coisa surgiu na cabeça e a boca pôde articular:
- Cagando, gatinha?
Falou isso com uma forçada pose de fodão, encostado na parede, dando uma piscadela. Tudo que Thalita pode fazer foi cair na risada. "Beleza!", pernsou Thales. Todos sabem que fazer uma mulher rir é ter mais da metade do caminho percorrido.
- O que você faz aqui em cima?
- Vim marcar um careta. Acho que ainda não tive a oportunidade de me apresentar. Meu nome e Thales.
E estendeu a mão para cumprimentar a moça, sempre sorrindo.
- Desculpa, esse andar ta sem água. Ainda não lavei a mão.
- Como fez para dar descarga?
- Deixei lá um presentinho para eles.
Mais risadas. Aquele assunto realmente interessava Thales. A donzela continuou:
- Mas ó! Não vai contar pra ninguém, hein? Shhh!
E colocou o indicador rente aos lábios de Thales. Apesar da graciosidade do gesto, Thales não havia esquecido de que aquele dedinho estava sujo. Esquivou-se. Podia ter alguma caca por baixo daquela unha grandona. Thalita se constrangeu com a reação do rapaz. Para consertar a situação desconfortável, Thales disse o que qualquer pessoa racional diria em ocasião semelhante:
- Escuta, seria muito precipitado se eu a convidasse para jantar hoje comigo no The Didi's Abatedourus Steak House?
- Olha, seria sim! Muito! Mas...aceito assim mesmo. Mas aqui, a gente não vai se pegar não, hein? Somos colegas de trabalho e mal nos conhecemos.
- Para isso é o jantar. A gente pode combinar de não fazer nada hoje. Se depois de nos conhecermos melhor a gente achar que deve se pegar, fazemos isso na próxima vez. Sem pressão.
- Combinado, rapazinho.
Quase saiu um aperto de mão, mas logo lembraram de que Thalita ainda não a havia lavado. Foi só ela se virar que Thales soltou um "yes!", mas sabia que aquela moça era disputadíssima e já devia ter recebido toda sorte de cantada. Precisava ser original.
Foi ele quem chegou antes no The Didi's e deu dez conto para combinar algo com o garçom que serviria o jantar. Pouco depois chegou Thalita. Thales avisou-lhe de que já havia tomado a liberdade de fazer o pedido, para que eles não esperassem muito tempo com fome. Mesmo assim, depois de uma hora e meia de barriga roncando, o serviçal chega com os pratos:
- Eis aqui um arroz à grega com filé e fritas para o cavalheiro. E Foster para a senhorita.
- Foster? O que tá acontecendo? Telegrama Legal? Pegadinha? Onde está a Kombi do SBT?
- Calma, fui eu quem pediu isso para você. Como você é uma gatinha, achei que era isso que você comia, gatinha. Enganei-me?
Era mesmo um incorrigível. Minutos depois chega o verdadeiro prato da moça, que tinha entrado na brincadeira e ainda feito graça mordiscando a ração. Mas não deveria tê-lo feito. Aquilo foi o suficiente para que a moça sentisse novamente o mal estar de mais cedo. Durante o jantar tentou se segurar, mas chegou um ponto em que já estava suando frio, borrando a maquiagem. Aquele rapaz merecia que ela fosse sincera:
- Olha Thales, preciso urgentemente libertar o Mandela.
Achava que já tinham a liberdade para falar nestes termos. Passou alguns minutos na casinha. Thales achou de bom tom não dar prosseguimento ao jantar e mandou embrulhar.
- Pro meu cachorro. Mas não coloca o Foster junto não, que ele não gosta.
Quando viu Thalita voltando, Thales cantarolou:
- ...Ohhh, set Mandela freeee...
Riram de novo. O aspirante a cantor deu carona para Thalita de volta para casa. Em lá chegando, declarou:
- Olha, posso novamente parecer precipitado, mas eu tô afim de namorar com você. Por favor, pensa nisso e depois me dá uma resposta.
Deixou a moça sem sequer tentar um beijo. Alguém daquele quilate merecia uma estratégia diferente de approach. Saíram algumas vezes mais. Sempre com Thales fazendo a mesma pergunta:
- E aí, já pensou?
- Bem isso é meio estranho. Nunca vi alguém propor assim, antes de fazer qualquer coisa.
Até que Thales desistiu de ficar tentando. Preferia que ela desse o toque quando estivesse afim. A estratégia deu certo. Numa dessas saídas, Thalita disse:
- Acho que a gente devia namorar mesmo, sabe?
- Já te propus diversas vezes e você me disse não.
- E não pretende propor de novo?
- Talvez eu vá.
O filho da puta ainda deu uma de gostosão. Mas cedeu mais tarde nesse mesmo dia:
- Tha, eu e você: Sim ou não?
- É!
O tão aguardado beijo aconteceu. Viram fogos de artifício. Depois disso tornaram-se inseparáveis. Passaram a fazer tudo juntos. Dormiam, viam TV, faziam porra nenhuma (ou muita porra), cozinhavam, passeavam, e claro, ainda trabalhavam juntos. Quer dizer, agora menos, já que sempre davam escapadinhas no meio do expediente. Oh, se aquelas escadarias pudessem falar!
Thalita, que tinha o já referido problema intestinal, acostumara-se a sentar no troninho apertando a mão do namorado. Isso é que é companheirismo! Segurar a mão da amada enquanto esta última faz um depósito no Banco de Boston.
Numa eventualidade, Thales contou essa peculiar mania da namorada para o Onofre, lá do escritório. Este na mesma hora apelidou o casal de Take My Hand. Apelido que logo se espalhou. Á essa altura, a moçada já tinha desencanado de dar em cima de Thalita. Ela pertencia ao Thales, agora.
Além disso, ela era uma moça super divertida. Passou a acompanhar os rapazes no happy hour de sexta. No inicio, o pessoal tinha receio de arrotar ou falar putaria perto da moça. Mas depois de ver que ela era quem mais puxava esse assunto, foram se soltando aos poucos. Tinham um novo "herói" do escritório. E mais: O "herói" era uma heróina! Thales estava feliz que sua garota tinha sido aprovada pelos leões. Viam a dupla de longe e já gritavam:
- Arreda aí cambada, que os Take My Hand estão chegando!
Era um casal perfeito. Davam certo em tudo. Tudo mesmo. Quer dizer, tinha uma coisinha só: Thales era tarado com cu. De comer cu, mesmo. Não que ele precisasse de cu toda vez, mas, pelo menos de vez em quando, tinha que rolar um cuzinho. E o único cu que rolava era o doce, o que não agradava Thales. Thalita era muito sensível com relação ao seu cu. Vez ou outra, Thales chegava cutucando a namorada por trás, cantarolando:
- ...Parabéns pra você nesta data querida...
- O que isso significa?
- Hoje é dia de anos (corruptela de...ah, vocês entenderam)!
- Nossa, podre essa, Tha!
Por amor, Thalita até tentou agradar o namorado algumas vezes:
- Amor, vem cá. Eu quero que você coma meu cu!
- Tem certeza? Então lá vai.
- Tá bom, tá bom, tá bom.
Esse "tá bom" era com a pior conotação possível. Era sinônimo de "já chega". Dizia isso empurrando o namorado. E olha que ele tinha colocado só meia cabecinha. Só conseguiu colocar toda a extensão de sua rôla numa vez em que a namorada tinha bebido como um gambá:
- Amor, é agora! Vem comer meu cu!
- Olha olha, hein. Tem ceteza?
- Come meu cu!
"Tchuf!", foi de uma vez só. E ainda trouxe um milho quando tirou a rôla. Thalita começou a chorar:
- Agora você vai perder todo o respeito por mim. Nossa, sou uma puta!
- Não, amor. Eu te amo! Só quem ama dá o cu assim. É uma prova de amor, gatinha!
Depois de tantas discussões acerca do cu, Thales decidiu parar de insistir. Thalita dizia que o pior não era nem a dor, mas a sensação de desconforto por estar ali uma coisa que não deveria. Thales pretendia ficar o resto da vida com Thalita, e não conseguia evitar o pensamento: Será que aguentaria ficar o resto da vida sem comer um cu novamente? Cu, nunca mais? "Ok, o amor supera tudo. Até o cu."
Com cinco meses de namoro, os Take My Hand estavam morando juntos. Certa semana Thalita teve de ficar sozinha em casa, porque Thales estava viajando pela empresa. Como tinha preguiça de cozinhar somente para si, a moça resolveu requentar umas comidas feitas na semana anterior, que estavam na geladeira. Como se não conhecesse seu intestino sensível. Mas a preguiça falou mais alto. Resultado: A maior disenteria da história.
Foi feia a coisa. De meia em meia hora a moça ia ao banheiro para ver se eliminava o mal. E só saia água. Andava curvada pela casa. Se esticasse o corpo, doía a barriga. Não dava sequer para sair e comprar um Cagtivia, já que era arriscado acontecer um acidente desagradável na rua. "Onde tá aquele infeliz do meu namorado quando eu mais preciso dele, meu Deus?".
Tentou esquecer a dor vendo um pouquinho de televisão, mas não podia ver nada de comedia. As risadas poderiam forçar um músculo que não deveriam e sujar o lençol da cama. A moça pensava: "Gente, na hora de dormir, como vou fazer?". Computou seis vezes em que levantou para ir ao banheiro durante a madrugada. Estava com uma inevitável freada de bicicleta na calcinha.
No dia seguinte, a moça entrou em completo desespero. Queria tirar de todo jeito aquele mal de dentro dela. Como uma guerreira, a jovem sentou-se no trono. Esticou o máximo que pôde as bochechas anais, para dar maior abertura. Ainda levantou as pernas e apoiou os pés na parede da frente, para ajudar. Fez força. Água.
Do lado do vaso do banheiro dos Take My Hand tinha uma daquelas mangueiras de revolvinho. Talvez a merda estivesse precisando de uma ajudinha para se desgarrar das paredes do intestino. No auge do desespero, a moça bravamente enfiou a mangueira lá onde você esta imaginando. Ignorância total.
- Um...dois...três...e...
Tshhh! Apertou o gatilho até sentir que a água preencheu todo seu intestino. Tentou segurar o máximo que pode dentro de si, depois soltou tudo com força. Repetiu algumas vezes. Sem resultado.
Eventualmente a moça normalizou seu intestino e Thales retornou ao lar.
- Ai meu bem, tive uma semana terrível, terrível. Senti uma desinteira federal. Tive até que enfiar a mangueira no cu pra ver se saía alguma coisa. Que bom que você voltou, meu amor.
E se adiantou para dar um abraço no amado. Thales se afastou. Não escutou nada do que a namorada disse. Só ouviu que a menina tinha enfiado a mangueira no cu.
- Como é? Faz literalmente o maior cu doce para me agradar; eu que sou um cara dedicado a você; mas não tem o menor pudor em ficar fazendo sexo anal com a mangueirinha?
Não adiantava. Por mais que Thalita tentasse se explicar, nada tirava da cabeça de Thales o ciúmes daquele aparelho. Estava possesso. A situação ficou bem tensa. Para Thales, estava irremediável. Foi a primeira e última briga daquele casal. Isso mesmo: Thales e Thalita. Thalita e Thales. Take My Hand. Um casal promissor separado por causa de um cu.
O ex-funcionário era tão ilustre que, aparentemente, tinha virado nome de cargo. A visão de uma mulher do sexo feminino por aquelas bandas era um oásis no deserto. Depois de anos com um quadro exclusivamente masculino, finalmente surgia alguém que mija sentada. Parecia que Seu Pinto nem gostava de mulher; não fazendo jus ao nome. Na mesma hora todos encolheram a barriga para dentro da calça. Podia-se ouvir um "vruuu"; barulho dos rapazes se adiantando para a moça:
- Prazer, meu nome e Ricardo.
- Gerson.
- Onofre. Seja bem vinda!
- Flávio, seu escravo.
"Urubus!", pensou Thales. De qualquer forma, ninguém tinha ficado mais embasbacado pela presença da beldade do que ele. "Preciso ser mais rápido que os caras. Daqui a pouco rola um ultimate fighting entre a moçada bem aqui nos corredores escritório". Foi perto das cinco horas da tarde que aconteceu a oportunidade. Enquanto tomava um cafezinho, Thales pode ouvir a nova colega, meio esbaforida, conversando com o menino do xerox:
- Perdão, onde fica o banheiro feminino? Já rodei todos os corredores e não encontrei.
- Olha dona, acho que aqui não tem disso não. Na verdade, a gente acha que o motivo de o Seu Pinto contratar exclusivamente homens é para não ter que fazer dois banheiros.
- Que sovina! Mas onde será que tem, hein? Esse cafezinho me fez sentir umas pontadas aqui na barriga. Tenho o intestino sensível, sabe?
Aquela informação desnecessária logo no primeiro dia de trabalho encantou ainda mais o bravo trabalhador que ouvia tudo no cubículo ao lado. Adorava mulheres espontâneas.
- Olha, na Marie Lingerie, no andar de cima, deve ter.
Foi engraçado ver aquela mulher de talieur andando igual um robô, tentando correr para o elevador, sem poder mexer muito a parte de baixo do corpo. "Tem que ser agora!", pensou Thales. Deixou o café e o pão de queijo pela metade em sua mesa e foi tocaiar a novata em frente à Marie Lingerie. Porem, não havia pensado em nada. Que desculpa daria para estar ali no sexto andar? Que cantada passaria na colega? Agora não dava mais para abortar a missão. Thalita tinha saído do banheiro e já o havia visto. O Don Juan falou a primeira coisa surgiu na cabeça e a boca pôde articular:
- Cagando, gatinha?
Falou isso com uma forçada pose de fodão, encostado na parede, dando uma piscadela. Tudo que Thalita pode fazer foi cair na risada. "Beleza!", pernsou Thales. Todos sabem que fazer uma mulher rir é ter mais da metade do caminho percorrido.
- O que você faz aqui em cima?
- Vim marcar um careta. Acho que ainda não tive a oportunidade de me apresentar. Meu nome e Thales.
E estendeu a mão para cumprimentar a moça, sempre sorrindo.
- Desculpa, esse andar ta sem água. Ainda não lavei a mão.
- Como fez para dar descarga?
- Deixei lá um presentinho para eles.
Mais risadas. Aquele assunto realmente interessava Thales. A donzela continuou:
- Mas ó! Não vai contar pra ninguém, hein? Shhh!
E colocou o indicador rente aos lábios de Thales. Apesar da graciosidade do gesto, Thales não havia esquecido de que aquele dedinho estava sujo. Esquivou-se. Podia ter alguma caca por baixo daquela unha grandona. Thalita se constrangeu com a reação do rapaz. Para consertar a situação desconfortável, Thales disse o que qualquer pessoa racional diria em ocasião semelhante:
- Escuta, seria muito precipitado se eu a convidasse para jantar hoje comigo no The Didi's Abatedourus Steak House?
- Olha, seria sim! Muito! Mas...aceito assim mesmo. Mas aqui, a gente não vai se pegar não, hein? Somos colegas de trabalho e mal nos conhecemos.
- Para isso é o jantar. A gente pode combinar de não fazer nada hoje. Se depois de nos conhecermos melhor a gente achar que deve se pegar, fazemos isso na próxima vez. Sem pressão.
- Combinado, rapazinho.
Quase saiu um aperto de mão, mas logo lembraram de que Thalita ainda não a havia lavado. Foi só ela se virar que Thales soltou um "yes!", mas sabia que aquela moça era disputadíssima e já devia ter recebido toda sorte de cantada. Precisava ser original.
Foi ele quem chegou antes no The Didi's e deu dez conto para combinar algo com o garçom que serviria o jantar. Pouco depois chegou Thalita. Thales avisou-lhe de que já havia tomado a liberdade de fazer o pedido, para que eles não esperassem muito tempo com fome. Mesmo assim, depois de uma hora e meia de barriga roncando, o serviçal chega com os pratos:
- Eis aqui um arroz à grega com filé e fritas para o cavalheiro. E Foster para a senhorita.
- Foster? O que tá acontecendo? Telegrama Legal? Pegadinha? Onde está a Kombi do SBT?
- Calma, fui eu quem pediu isso para você. Como você é uma gatinha, achei que era isso que você comia, gatinha. Enganei-me?
Era mesmo um incorrigível. Minutos depois chega o verdadeiro prato da moça, que tinha entrado na brincadeira e ainda feito graça mordiscando a ração. Mas não deveria tê-lo feito. Aquilo foi o suficiente para que a moça sentisse novamente o mal estar de mais cedo. Durante o jantar tentou se segurar, mas chegou um ponto em que já estava suando frio, borrando a maquiagem. Aquele rapaz merecia que ela fosse sincera:
- Olha Thales, preciso urgentemente libertar o Mandela.
Achava que já tinham a liberdade para falar nestes termos. Passou alguns minutos na casinha. Thales achou de bom tom não dar prosseguimento ao jantar e mandou embrulhar.
- Pro meu cachorro. Mas não coloca o Foster junto não, que ele não gosta.
Quando viu Thalita voltando, Thales cantarolou:
- ...Ohhh, set Mandela freeee...
Riram de novo. O aspirante a cantor deu carona para Thalita de volta para casa. Em lá chegando, declarou:
- Olha, posso novamente parecer precipitado, mas eu tô afim de namorar com você. Por favor, pensa nisso e depois me dá uma resposta.
Deixou a moça sem sequer tentar um beijo. Alguém daquele quilate merecia uma estratégia diferente de approach. Saíram algumas vezes mais. Sempre com Thales fazendo a mesma pergunta:
- E aí, já pensou?
- Bem isso é meio estranho. Nunca vi alguém propor assim, antes de fazer qualquer coisa.
Até que Thales desistiu de ficar tentando. Preferia que ela desse o toque quando estivesse afim. A estratégia deu certo. Numa dessas saídas, Thalita disse:
- Acho que a gente devia namorar mesmo, sabe?
- Já te propus diversas vezes e você me disse não.
- E não pretende propor de novo?
- Talvez eu vá.
O filho da puta ainda deu uma de gostosão. Mas cedeu mais tarde nesse mesmo dia:
- Tha, eu e você: Sim ou não?
- É!
O tão aguardado beijo aconteceu. Viram fogos de artifício. Depois disso tornaram-se inseparáveis. Passaram a fazer tudo juntos. Dormiam, viam TV, faziam porra nenhuma (ou muita porra), cozinhavam, passeavam, e claro, ainda trabalhavam juntos. Quer dizer, agora menos, já que sempre davam escapadinhas no meio do expediente. Oh, se aquelas escadarias pudessem falar!
Thalita, que tinha o já referido problema intestinal, acostumara-se a sentar no troninho apertando a mão do namorado. Isso é que é companheirismo! Segurar a mão da amada enquanto esta última faz um depósito no Banco de Boston.
Numa eventualidade, Thales contou essa peculiar mania da namorada para o Onofre, lá do escritório. Este na mesma hora apelidou o casal de Take My Hand. Apelido que logo se espalhou. Á essa altura, a moçada já tinha desencanado de dar em cima de Thalita. Ela pertencia ao Thales, agora.
Além disso, ela era uma moça super divertida. Passou a acompanhar os rapazes no happy hour de sexta. No inicio, o pessoal tinha receio de arrotar ou falar putaria perto da moça. Mas depois de ver que ela era quem mais puxava esse assunto, foram se soltando aos poucos. Tinham um novo "herói" do escritório. E mais: O "herói" era uma heróina! Thales estava feliz que sua garota tinha sido aprovada pelos leões. Viam a dupla de longe e já gritavam:
- Arreda aí cambada, que os Take My Hand estão chegando!
Era um casal perfeito. Davam certo em tudo. Tudo mesmo. Quer dizer, tinha uma coisinha só: Thales era tarado com cu. De comer cu, mesmo. Não que ele precisasse de cu toda vez, mas, pelo menos de vez em quando, tinha que rolar um cuzinho. E o único cu que rolava era o doce, o que não agradava Thales. Thalita era muito sensível com relação ao seu cu. Vez ou outra, Thales chegava cutucando a namorada por trás, cantarolando:
- ...Parabéns pra você nesta data querida...
- O que isso significa?
- Hoje é dia de anos (corruptela de...ah, vocês entenderam)!
- Nossa, podre essa, Tha!
Por amor, Thalita até tentou agradar o namorado algumas vezes:
- Amor, vem cá. Eu quero que você coma meu cu!
- Tem certeza? Então lá vai.
- Tá bom, tá bom, tá bom.
Esse "tá bom" era com a pior conotação possível. Era sinônimo de "já chega". Dizia isso empurrando o namorado. E olha que ele tinha colocado só meia cabecinha. Só conseguiu colocar toda a extensão de sua rôla numa vez em que a namorada tinha bebido como um gambá:
- Amor, é agora! Vem comer meu cu!
- Olha olha, hein. Tem ceteza?
- Come meu cu!
"Tchuf!", foi de uma vez só. E ainda trouxe um milho quando tirou a rôla. Thalita começou a chorar:
- Agora você vai perder todo o respeito por mim. Nossa, sou uma puta!
- Não, amor. Eu te amo! Só quem ama dá o cu assim. É uma prova de amor, gatinha!
Depois de tantas discussões acerca do cu, Thales decidiu parar de insistir. Thalita dizia que o pior não era nem a dor, mas a sensação de desconforto por estar ali uma coisa que não deveria. Thales pretendia ficar o resto da vida com Thalita, e não conseguia evitar o pensamento: Será que aguentaria ficar o resto da vida sem comer um cu novamente? Cu, nunca mais? "Ok, o amor supera tudo. Até o cu."
Com cinco meses de namoro, os Take My Hand estavam morando juntos. Certa semana Thalita teve de ficar sozinha em casa, porque Thales estava viajando pela empresa. Como tinha preguiça de cozinhar somente para si, a moça resolveu requentar umas comidas feitas na semana anterior, que estavam na geladeira. Como se não conhecesse seu intestino sensível. Mas a preguiça falou mais alto. Resultado: A maior disenteria da história.
Foi feia a coisa. De meia em meia hora a moça ia ao banheiro para ver se eliminava o mal. E só saia água. Andava curvada pela casa. Se esticasse o corpo, doía a barriga. Não dava sequer para sair e comprar um Cagtivia, já que era arriscado acontecer um acidente desagradável na rua. "Onde tá aquele infeliz do meu namorado quando eu mais preciso dele, meu Deus?".
Tentou esquecer a dor vendo um pouquinho de televisão, mas não podia ver nada de comedia. As risadas poderiam forçar um músculo que não deveriam e sujar o lençol da cama. A moça pensava: "Gente, na hora de dormir, como vou fazer?". Computou seis vezes em que levantou para ir ao banheiro durante a madrugada. Estava com uma inevitável freada de bicicleta na calcinha.
No dia seguinte, a moça entrou em completo desespero. Queria tirar de todo jeito aquele mal de dentro dela. Como uma guerreira, a jovem sentou-se no trono. Esticou o máximo que pôde as bochechas anais, para dar maior abertura. Ainda levantou as pernas e apoiou os pés na parede da frente, para ajudar. Fez força. Água.
Do lado do vaso do banheiro dos Take My Hand tinha uma daquelas mangueiras de revolvinho. Talvez a merda estivesse precisando de uma ajudinha para se desgarrar das paredes do intestino. No auge do desespero, a moça bravamente enfiou a mangueira lá onde você esta imaginando. Ignorância total.
- Um...dois...três...e...
Tshhh! Apertou o gatilho até sentir que a água preencheu todo seu intestino. Tentou segurar o máximo que pode dentro de si, depois soltou tudo com força. Repetiu algumas vezes. Sem resultado.
Eventualmente a moça normalizou seu intestino e Thales retornou ao lar.
- Ai meu bem, tive uma semana terrível, terrível. Senti uma desinteira federal. Tive até que enfiar a mangueira no cu pra ver se saía alguma coisa. Que bom que você voltou, meu amor.
E se adiantou para dar um abraço no amado. Thales se afastou. Não escutou nada do que a namorada disse. Só ouviu que a menina tinha enfiado a mangueira no cu.
- Como é? Faz literalmente o maior cu doce para me agradar; eu que sou um cara dedicado a você; mas não tem o menor pudor em ficar fazendo sexo anal com a mangueirinha?
Não adiantava. Por mais que Thalita tentasse se explicar, nada tirava da cabeça de Thales o ciúmes daquele aparelho. Estava possesso. A situação ficou bem tensa. Para Thales, estava irremediável. Foi a primeira e última briga daquele casal. Isso mesmo: Thales e Thalita. Thalita e Thales. Take My Hand. Um casal promissor separado por causa de um cu.
4 Comentários:
"Se for pra falar merda, eu vou partir para a grosseria."
acho q com esse post a gente não vai(e nem precisa) fazer isso!
ehehehehehehehehehe
Dilema interessante do casal... reviravoltas inesperadas como sempre!
Bjs!
Sou a nova Janate Clair.
Eu sempre soube que vc era mulher. Nunca vi tanta merda junta.
Elogio?
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