segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fooooooooooooooooooooooooommmmm

-Adoro homens de uniforme!
Desculpe interromper a programação normal, mas essa Copa do Mundo pedia uma intervenção. Muitos pediram para que eu escrevesse minha opinião sobre o assunto. Tá, ninguém pediu verbalmente, mas é que agora leio pensamentos. Tanta gente morrendo de fome todos os dias e vocês preocupados com futebol. Tsc tsc tsc. Aí você me pergunta:
- Então bonitão, o que é que você tem feito para acabar com a fome?
Bem, tenho mandado pensamentos positivos. E também...bem, o negócio é que eu odeio futebol. Até entendo que uma pessoa sem instrução seja manipulada pela mídia e fique hipnotizada pelo ópio do povo, desviando as preocupações dos problemas que realmente importam. O Brasil é penta. Isso mudou alguma coisa na sua vida?
Há quem diga que o futebol desvia as pessoas do crime. Tai o goleiro Bruno para comprovar isso. Tem quem chore pelas derrotas de gente que nem conhece pessoalmente. Torcer não é nada mais que gozar com o pau dos outros. Qual a graça de comemorar o êxito de gente que não é parente nem amigo seu? Alguém explica como surgem as brigas de torcida?
- Colé seu paspalho, você torce pro outro time. Merece levar porrada.
É incompreensível como alguém que tenha pelo menos um pouco de cultura ainda caia nessa de pão e circo. Veja bem, tenho plena consciência de que quase todos que me lêem gostam de futebol. Não estou dizendo que você é um idiota. Acho-te inteligente, até. E simpático. Mas o fato de você gostar de futebol, isso é idiotice.
Já reparou como todo mundo é obrigado a respeitar quem assiste futebol? Você pode estar fazendo qualquer coisa na sala, ou assistindo o que for. Chega alguém falando:
- Dá licença que vai ter um jogo agora.
Por algum motivo, esse tipo de coisa tem que ser aceita sem discussão. Do lado do meu trabalho tem um bar, onde todo santo dia uns tiozões se reúnem para discutir futebol. Será que existe tanto assunto assim? Um negócio que há mais de um século é a mesma coisa: Chutar a bola dentro de uma tela. A maior parte dos sogros e pais de amigo, quando te conhecem, não perguntam se estuda, sua profissão, sua idade nem nada.
- Pai, esse aqui é o Diogo.
- Diogo hum? Cruzeirense ou atleticano?
Perceba, para tiozões só existem duas classes de pessoas. Se você torce pelo time dele:
- Esse é dos meus!
Se não torce:
- Ish esse seu amigo, não sei não hein. Ele é meio....
Como se o caráter das pessoas fosse medido pelo time que ela torce. E essa relação de quem torce pelo time adversário é viado? O que tem a ver o cu com as calças? A cueca tá no meio, mas o peido passa do mesmo jeito. Tá, eu sei. É uma maneira de diminuir quem torce pelo outro time. Ele é viado, pobre, feio, desonesto e estuprador. O pensador e sociólogo Jerry Seinfeld disse algo interessante sobre o assunto, em uma de suas palestras:

“Lealdade a qualquer time é algo que não se justifica. Os jogadores estão sempre mudando. A equipe pode ir para outra cidade. Você está realmente torcendo pela roupa, se pensar bem. Você está aplaudindo e gritando para suas roupas derrotarem as roupas da outra cidade. Fãs podem amar um jogador, mas se ele vai para outro time, passa a ser odiado. Na verdade, é o mesmo ser humano, com uma camisa diferente.”
(Seinfeld, Jerry)


Usando este pensamento para a Copa, é estranho torcer por uma seleção. Países são formados por linhas imaginárias. Se o território brasileiro fosse o mesmo da época das Capitanias Hereditárias, a maior parte do que hoje conhecemos como Brasil, seria, na verdade, outra nação. E olha que a gente tem muito mais identidade com nossos rivais argentinos do que com boa parte do Brasil. Aliás, a idéia de identidade e nação está cada vez mais distorcida, com metade das seleções formada por naturalizados. Acho que tem até negão no time japonês.
Dizem que nosso país é o melhor do mundo no futebol. Na verdade é tudo mais uma coisa mítica por causa dos feitos das seleções de 30 anos atrás. Posso estar falando besteira, mas acompanhe meu raciocínio: Dos países em que o futebol é popular, o Brasil é muito maior do que os outros, em tamanho. Pra se ter uma idéia, todo o território europeu é do tamanho do Brasil. E olha que a Europa tem o dobro de países do que a gente tem de estados. Pensando assim, é até vergonhoso se nós não formos os melhores do mundo. É como se a seleção da sua cidade jogasse contra a seleção do seu bairro.
Quando era criança eu até me esforçava em acompanhar a coisa, mesmo sem gostar. Como todos os outros gostavam, eu pensava que existia algo de anormal comigo se não fizesse o mesmo. Falavam (como até hoje pessoas da minha idade falam) que quem não gosta de futebol não é homem. Hoje em dia eu dou sempre a mesma resposta:
- Se você acha que gostar de futebol é que te faz homem, eu vou ter que te dar umas aulinhas de uns negócios aí.
A propósito, Ronaldo Fenômeno foi ídolo maior no esporte há poucos anos. Não foi este mesmo Ronaldo que foi pego com três travestis num motel? É, pra agüentar tanta paulada no cu, tem que ser muito macho mesmo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o futebol é considerado esporte de mulher. É como o handebol aqui. Também ouço sempre:
- Porra, você não é brasileiro não?
Como não? Eu gosto de bunda, gosto de cerveja, de picaretagem. Só não gosto de futebol. E carnaval. Com certeza, o fato de eu sempre ter sido pereba não ajudou. Quando eu tava no colégio, a gente fez um time dos excluídos. Uma seleção só com quem nunca era chamado pra jogar. Fui expulso do time por ser ruim demais. Também teve o caso da primeira semana de faculdade. Acabávamos de nos conhecer e fomos para uma quadra.
- Chuta aí, Diogo.
Eu consegui a proeza de pisar em cima da bola e cair sozinho. Uma boa fama para se ter pelos quatro anos que se seguiram. Falando em faculdade, esta foi a época em que mais boiei nas rodinhas de conversa. Veja bem, grande parte dos homens que fazem jornalismo tem a intenção de trabalhar com esportes. Assim como meus colegas de sala.
Por amizade, acabei fazendo vários trabalhos e reportagens sobre o assunto. Inclusive fiz, por um ano e meio, um projeto que resultou num livro. Para minha maldição, acabei namorando uma menina que tinha um programa de rádio. Adivinha sobre o que era o programa. Muito estranho quando a mulher gosta da coisa e o homem não (ainda estou falando de futebol).
Aos domingos, ela ficava vendo jogo e gritando com a televisão, enquanto eu ficava lendo as Marie Claires dela. Aprendi muita coisa, até. Também ela saía para caçar enquanto eu cuidava da casa e colhia frutos. Hoje, faço a seguinte exigência: Mulher, para namorar comigo, tem que não gostar de futebol também.
Isso tem sido cada vez mais difícil encontrar. Vejo pelas minhas alunas. Tem vezes que juntam umas oito e ficam discutindo sobre jogadores, campeonatos, contratações e a porra toda. Fico boiando igual cocô na privada. Se eu já acho feio homem que só fala disso, imagina mulher.
É bem verdade que algumas só se interessam pela coisa por causa dos jogadore$ bonito$. Quase todas inclusive compraram o álbum da Copa. Machos que são, devem bater tapão com as figurinhas repetidas. Olha que estou falando de pessoas maiores de idade. Uma delas falou:
- Só quero as figurinhas dos caras bonitinhos. Não quero uma com um cara de Gana.
Senti certo racismo aí. Não é nada, não é nada, lá se vão mais de R$150,00 numa brincadeira dessas. Sim, já fiz os cálculos. É bem verdade também que você pode ir no Google, digitar o nome de um jogador, clicar em “imagens” e vai aparecer um monte de fotinha. Inclusive de corpo inteiro.
Muitas pessoas falam que não gostam de futebol, mas adoram Copa do Mundo. Eu digo o seguinte: Odeio futebol, e principalmente Copa do Mundo. Por acaso a Copa é menos futebol? Pelo contrário, é uma época em que se come, respira e dorme futebol. Até me inscrevi em promoções concorrendo a ingressos para jogos da Copa. Se eu por acaso ganhasse, ia vendê-los e fazer um safári. Na África do Sul se fazem safáris, certo?
Decidi que, durante os jogos da seleção, eu ia me assentar e escrever uma parte do presente texto. Também fiz a barba e cortei as unhas. Teve um dia de jogo do Brasil que resolvi andar pelado na rua. Passei por várias aglomerações com televisores ligados. O pessoal tava tão vidrado que nem me viu. Apesar do tripé. É engraçado como muitas pessoas têm amuletos para acompanhar os jogos:
- O Brasil nunca perdeu quando eu estava usando essa camisa.
Não é muito ego inflado da pessoa que acha que, dentre os milhões que estão acompanhando, ela é a verdadeira responsável pela vitória de um time? Mais engraçadas ainda são as estatísticas furadas:
- É a primeira vez que uma seleção européia ganha uma Copa fora da Europa.
Como se isso fizesse algum sentido. Pra brasileiro deixar de ser trouxa, torci para que a seleção perdesse. Se possível, da Argentina. Se bem que era melhor não, já que o César Menotti falou que, tal qual eu, ia desfilar pelado pelas ruas. Ou foi o Fabiano que disse? Ou o Maradona?
Acusaram o coitado do Mick Jagger pelas derrotas de algumas seleções na Copa. Mas aqui está a verdade: A culpa é minha, gente. Na verdade, torci para que o Brasil fosse até a final, para eu ficar mais dias sem trabalhar. Aliás, o Brasil é provavelmente o único país no mundo onde você não precisa pedir folga. Já é subentendido que ninguém vai trabalhar no horário do jogo.
Nunca vi tantas vezes a bandeira do Brasil pelas ruas. Eu pergunto: Onde estava todo esse ufanismo nos últimos três anos e meio? Toda vez que a via, eu tinha a vontade de escrever um “sua bunda é um sucesso” abaixo do “ordem e progresso”. A cidade e as pessoas ficaram ainda mais escandalosas, tendo em vista que as cores da nossa bandeira são as mais chegays possíveis. Na rua onde eu trabalho, juntaram alguns “artistas” e meninos para pintar o asfalto com temas futebol/Brasil/Copa do Mundo. Eu dando aula e ouvindo lá fora:
- Cuidado com a tinta perto do carro.
E eu pensando:
- Se respingar um tiquinho no meu carro eu dou volta no quarteirão e chego fazendo strike de criança.
Depois eu ouço pessoas falando para fechar a rua, para que o trânsito não os atrapalhasse enquanto faziam sua “arte”. E minha mão coçando para ligar para a polícia, já que a rua é feita para os carros passarem, não para se ficar pintando. È isso aí. Quero que todos sejam tão miseráveis quanto eu.
Lembro-me de ter ido ao supermercado minutos antes de um jogo da seleção. Um tanto de gente na fila, com caras de pessoas sérias e respeitosas, não fossem os óculos do Zé Bonitinho e os chapéus de bobos da corte verdes e amarelos. Ligava a televisão e via a festa da torcida na África. Torcedores fantasiados, pulando, disputando quem é que fazia o papel mais ridículo. O pior é pensar que todos aqueles são pessoas que têm dinheiro pra caralho.
E também tiveram as vuvuzelas. Oh, as vuvuzelas! Em dias de jogo do Brasil, já se escutavam vuvuzeladas às sete da manhã. As primeiras vezes que eu ouvi o nome, juro que achei que se tratava de uma parte do corpo feminino (não digo “buceta” porque sou uma pessoa de classe). Claro, o pessoal ficava falando em botar a boca na vuvuzela o tempo todo. Mal sabia eu que tinha muito mais a ver com uma parte do corpo masculino. O negócio sempre se chamou “corneta”, por que mudaram o nome da coisa?
Na Bíblia já se falava em anjos tocando cornetas. Não sei por que o pessoal tratou o “instrumento” como novidade. Mesmo em eventos esportivos já se usava essas trombetas do inferno. Há dois anos, escrevi falando mal das Olimpíadas.
Voltemos à nossa programação normal.

6 Comentários:

Édio Azevedo disse...

Cooooeeeellllhhhhoooooo!!!!!

Anônimo disse...

Muito bom esse testículo, Totô! Ri bastante. Tá escrevendo muito bem. Parabéns!

Ps.: Já pensou em ser jornalista?

Abraço, Totô!

Tio Didi disse...

Olha o homem aí.

Édio Azevedo disse...

É Diogo, já pensou em ser jornalista?

Tio Didi disse...

Te catar vocês.

Anônimo disse...

vocé um retardado nao entende de musica falar mal do judas priest

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